7 de julho de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

PL de Bolsonaro pede que TSE descarte 59% das urnas do 2º turno e faça novas eleições

Entenda o que são os “logs de urna” e porque Valdemar costa quer anulação apenas do 2º turno

Jair Bolsonaro e o presidente de seu partido, Valdemar Costa Neto

O PL de Jair Bolsonaro ainda não engoliu a derrota para Lula (PT) nas eleições. E hoje, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, enviou ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) questionamento sobre o resultado do segundo turno da eleição presidencial, com pedido de invalidação de votos em urnas fabricadas até 2020.

O partido encaminhou ainda uma Representação Eleitoral para Verificação Extraordinária à Corte, que está sob relatoria da ministra Cármen Lúcia, alegando falha nos “logs de urna“, registros com dados dos equipamentos, em em cinco dos seis modelos de urnas usados na votação.

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Eles querem invalidar os votos, curiosamente, apenas do 2º turno. Eles não contestaram as mesmas urnas que no 1º turno elegeram 90 parlamentares do PL e colocaram Bolsonaro no segundo turno com mais de 40 milhões de voto.

“Pretende-se com a Verificação Extraordinária, ora requerida, confirmar os ‘Indícios de Mau Funcionamento das Urnas Eletrônicas’ apresentados no Relatório Técnico do PL, de modo a comprovar a incerteza dos resultados gerados pelas urnas eletrônicas de modelos de fabricação anteriores a UE2020, ou seja, modelos UE2009, UE2010, UE2011, UE2013 e UE2015”.

Para o partido de Jair e Valdemar, somente a urna modelo UE2020 das urnas confeririam um voto “auditável”. Claro, na visão deles os votos dariam vitória ao presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas eleições. Ao todo, 192 mil urnas do modelo recente foram usadas no segundo turno em um total de 472 mil e uma eventual anulação excluiria votos dados em

Vale lembrar que não há indícios de fraude ou problema técnico no sistema de votação brasileiro. A segurança das urnas já foi comprovada pelo TCU (Tribunal de Contas da União), a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e pelas Forças Armadas.

Três missões internacionais de observação eleitoral também emitiram relatórios preliminares atestando a segurança das urnas eletrônicas, logo depois do primeiro turno.

Logs

Valdemar Costa Neto, presidente do PL, o partido de Bolsonaro, divulgou um vídeo no final de semana afirmando que vai apresentar na terça-feira (22) um “relatório” mostrando que 250 mil urnas não poderiam ser consideradas, por não terem número de patrimônio.

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E de forma sucinta, o perfil Desmentindo Bolsonaro, já citado pelo ministro Alexandre de Moraes, na ação que retirou inserções de Jair Bolsonaro na última semana das eleições como forma de direito de resposta para a campanha de Lula, desmentiu Valdemar.

Apesar de toda essa confiança e combatividade, Valdemar e o relatório de seu partido mentem.

A peça central da nova acusação é o número de patrimônio. Basicamente todo material de uma empresa deve ter um número de identificação, e este número é chamado de “Patrimônio”. O mesmo ocorrer, obviamente, com a urna eletrônica.

Como destacado pelo perfil, nas imagens abaixo no círculo vermelho, identificamos alguns exemplos da identificação do número de patrimônio nas urnas eletrônicas.

Cada urna possui um número. Essas “etiquetas” ficam localizadas na traseira das urnas. Todos os exemplos abaixo são de urnas antes de 2020.

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E por mais que PL, Valdemar e demais bolsonaristas digam o contrário, as urnas antigas são sim facilmente identificadas. Uma reportagem da Canção Nova, em 24/09/20, mostra uma parte do trabalho do TRE-MG na checagem das urnas eletrônicas que chegam até o tribunal, precisam ser carregadas com os dados e distribuídas no Estado.

Uma das verificações? Os números de patrimônio.

O exemplo de 2020 foi dado exatamente porque são estas as urnas acusadas de não serem identificadas de terem o número de patrimônio. No entanto, apesar delas ainda serem usadas nas eleições deste ano, as acusações não têm fundamento.

Aqui temos um outro exemplo mostrando o trabalho sério que ocorre nos TREs por todo o Brasil. Dessa vez uma reportagem de 21/09/22 mostrando como ocorre no TRE-DF.

Além das urnas possuírem números de patrimônio e poderem obviamente serem identificadas, cada uma delas é lacrada com lacres que permitem identificar caso venha a ocorrer qualquer tentativa de violação.

Esse vídeo do TSE explica melhor.

Sendo assim, se é tão óbvio que cada urna eletrônica possui uma “etiqueta” de número de patrimônio permitindo a sua identificação, possui diversos lacres e todo um sistema robusto de segurança onde nunca foi identificado qualquer tipo de fraude (a última vez, no papel em 1994, teve Bolsonaro no meio) o que eles vão mostrar?

Tudo indica que vão usar o tal “bug” nos registros internos que “impossibilita” a identificação do número da urna em alguns modelos antigos. Apesar disso, estão nesses logs o município, a zona e a seção eleitoral, o que facilmente identifica a urna.

Como já contornado por Marcos Simplício, em reportagem do Poder360, mesmo que o log da urna por acaso apresente na coluna de identificação o número errado, também no log é possível identificar o nº do munícipio, zona eleitoral e seção eleitoral.

Com essa informações, é possível consultar no site do TSE o boletim de urna. No exemplo da reportagem o log se refere à uma urna da cidade de Glicério (SP). O código interno identificador é o 1678997, mas no log consta o valor 67305985.

Como as urnas são seguras, os números batem

Portanto, não é o ID de urna que confere autenticidade ao arquivo de log, mas sim a assinatura digital feita pela urna sobre aquele arquivo de log. Sendo o caso, é possível concluir que não há fraude.

O relatório do PL só será entregue ao TSE amanhã, mas se sua tese for baseada nessa numeração, qualquer profissional de TI saberia que não há qualquer indício de fraude nessa questão.

Mas não importa: é mais pano pra manga e motivações vazias que fazem com que bolsonaristas sigam reunidos nas portas de quartéis, na esperança de que seu presidente derrotado democraticamente continue com seus desmandos.