28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Presiente do Congresso, Rodrigo Pacheco, reage às ameaças de Bolsonaro

Em discurso duro, Pacheco diz que não aceitará ataques à democracia nem às instituições

Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, condena agressões de Bolsonaro

O presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), reagiu às ameaças feitas pelo presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira, 9.

Em um discurso duro e com recados diretos a Bolsonaro, defesa da separação de poderes e de apoio à CPI da Covid, Pacheco disse que não aceitará ataques à democracia. “Todo aquele que pretender algum retrocesso ao Estado democrático de direito, esteja certo, será apontado pelo povo brasileiro e pela história como inimigo da nação”.

Pacheco avisou ainda que caberá ao Congresso definir sobre o voto impresso, proposta defendida por Bolsonaro.

“As eleições são uma realidade da democracia brasileira, são inegociáveis e o formato dessas eleições, que é algo que se discute muito hoje na sociedade, sobre a manutenção do formato atual ou de uma nova tecnologia através do voto auditável, é uma discussão que haverá de se ter com todos os personagens da República, mas sem ataque a pessoas. Essa discussão não será feita pelo Executivo, não será feita pelo TSE, e sim pelo Congresso”, disse Pacheco.

“Nesse momento precisamos de união de pacificação de busca de consenso, mas também precisamos também de firmeza para poder afirmar princípios e preceitos constitucionais que não serão transigidos em hipótese alguma pelo Congresso Nacional”, disse Pacheco em outro momento.

Ataques

Na manhã desta sexta-feira (9), em conversa com apoiadores, Bolsonaro atacou mais uma vez o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, que é contrário ao voto impresso. “Um imbecil”, disse Bolsonaro em referência ao magistrado. “Lamento falar isso de uma autoridade do Supremo Tribunal Federal. Um cara desse tinha que estar em casa”, afirmou em conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada nesta sexta-feira (9). Bolsonaro chamou o ministro Alexandre de Moraes de ‘otário’.

Aos apoiadores, o presidente fez nova ameaça de que as eleições do ano que vem podem não ocorrer caso a urna eletrônica não seja alterada. Ele atribuiu a Barroso articulações políticas junto ao Legislativo para barrar a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição do Voto Impresso, de autoria da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF). A votação da proposta na Comissão Especial da Câmara, que analisa o assunto, estava prevista para essa quinta-feira (8), mas foi adiada para o próximo dia 15.

“Não tenho medo de eleições, entrego a faixa para quem ganhar, no voto auditável e confiável. Dessa forma, corremos o risco de não ter eleições no ano que vem, porque o futuro de vocês que está em jogo”, disse. E continuou: “Nós não podemos esperar acontecer as coisas para depois querer tomar as providências. O que está em jogo, pessoal, é o nosso futuro e a nossa vida, não pode um homem querer decidir o futuro do Brasil na fraude. Já está certo quem vai ser o presidente do Brasil no ano que vem, como está aí, a gente vai deixar entregar isso?”. Apesar das acusações, Bolsonaro nunca apresentou provas de qualquer irregularidade no sistema.

Ao ofender Barroso, Bolsonaro adotou hoje o mesmo tom grosseiro dessa quinta-feira (8) em sua transmissão semanal pela internet, quando disse que não responderia ao pedido de explicações da CPI da Covid sobre supostas irregularidades no contrato de aquisição da vacina indiana Covaxin. “Caguei. Caguei para a CPI. Não vou responder nada”, disse.

Cada vez mais irritado em meio à série de denúncias de corrupção na compra do imunizante e ao crescimento dos atos de rua que pedem seu impeachment, Bolsonaro intensificou nas últimas semanas sua defesa à implementação do voto impresso e, novamente hoje, cogitou a possibilidade de não haver eleições em 2022, caso a proposta não seja aprovada pelo Congresso.

O aumento da escalada de críticas e acusações de Bolsonaro à urna eletrônica, sem apresentar provas, ocorre num momento de queda de popularidade e desgaste do governo diante das denúncias de corrupção na CPI da Covid. Além disso, manifestações de rua estão mais frequentes. No sábado passado, houve protestos em todas as capitais e novos atos estão sendo convocados. O MBL e o Vem Pra Rua, dois dos grupos que lideraram as manifestações pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff, marcaram sua manifestação para o dia 12 de setembro.

Na última terça-feira (6), também em conversa com eleitores, o presidente havia dito, mais uma vez, que o voto no Brasil é fraudável. “Se não tiver o voto impresso, não interessa mais o voto de ninguém”, afirmou. Em transmissão ao vivo nas redes sociais, há uma semana, Bolsonaro disse que, se for derrotado nas eleições de 2022, só entregará a faixa presidencial se o seu adversário tiver vencido de “forma limpa”, termo usado novamente por ele ontem.

Nesta sexta-feira (9), Bolsonaro afirmou, novamente sem provas, que houve fraude na disputa à Presidência da República de 2014, apesar de o candidato derrotado no segundo turno daquela eleição, Aécio Neves (PSDB-MG), já ter descartado a hipótese. “Nós vamos ter eleições limpas, pode ter certeza. E eu não participar de fraude não quer dizer que eu vou ficar em casa”, disse o presidente, alegando que dava recado a todos os brasileiros para que “lutem pela sua liberdade”. “Não queiram que um homem sozinho resolva o seu problema, é igual um casal, os dois têm que resolver juntos”, disse a seus apoiadores.

A suposta fraude em 2014 foi rebatida pelo próprio Aécio Neves. “Não acredito que tenha havido fraudes nas urnas em 2014, tão pouco acredito que nós estejamos fadados a viver eternamente com as urnas eletrônicas de primeira geração. O mundo inteiro que utiliza urnas eletrônicas avançou para algum tipo de auditagem”, disse nessa quinta-feira (9).

Em outro revés para Bolsonaro no TSE, Barroso decidiu acatar um pedido da ala do Patriota contrária à filiação do presidente e afastar Adilson Barroso do comando do partido. O presidente tinha a intenção de se filiar ao Patriota para lançar sua candidatura ao segundo mandato.

O ex-governador do Ceará e pré-candidato à Presidência em 2022 pelo PDT, Ciro Gomes, declarou “irrestrita solidariedade” a Barroso. “Os termos chulos de um ser tão desesperado e desqualificado não afetarão em nada o TSE, nem seu ministro presidente”, declarou Ciro. “As últimas braçadas de um afogado não terão força nem ritmo para reger golpes ou qualquer ameaça mais séria ao nosso ambiente democrático. As forças da legalidade estão atentas no âmbito dos Três Poderes, nas ruas e, não se engane, Bolsonaro, também nos quartéis. Não haverá golpe!”, declarou Ciro, em publicação no Twitter, em defesa de Barroso.