19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Vídeo mostra Bolsonaro querendo troca na PF para proteger sua família

Segundo pessoas que tiveram acesso a vídeo, presidente afirmou que familiares estariam sendo perseguidos

Foto: Jorge William / O Globo

Afirmando que seus familiares estariam sendo perseguidos, o presidente Jair Bolsonaro vinculou a mudança do superintendente da Polícia Federal do Rio Janeiro a uma proteção de sua família, em reunião ministerial gravada pelo Planalto no dia 22 de abril.

Esta foi a impressão de pessoas que tiveram acesso à gravação, exibida hoje na sede da PF em Curitiba. Elas afirmam que viram Bolsonaro não querendo ser surpreendido com informações da PF e que então trocaria, se fosse necessário, o comando da PF e até o ministro da Justiça, na ocasião, Sergio Moro.

O vídeo da reunião foi exibido nesta terça-feira (12) na PF em Brasília. Moro acompanhou presencialmente a exibição ao lado de integrantes da PGR (Procuradoria-Geral da República), advogados do ex-ministro e integrantes do governo federal e da PF.

De acordo com investigadores da PF, o vídeo complica a situação de Bolsonaro e dificulta eventual arquivamento do inquérito por parte do procurador-geral da República, Augusto Aras.

A defesa do ex-ministro divulgou nota nesta terça em que afirma que a gravação confirma “integralmente” as declarações dele sobre as interferências do presidente Jair Bolsonaro na PF.

Em seu depoimento, Moro disse que Bolsonaro pressionou pela troca do comando da PF no Rio de Janeiro e do diretor-geral da instituição durante reunião ministerial realizada no Palácio do Planalto no último dia 22. O ministro do STF, Celso de Mello, relator do inquérito, determinou que o governo entregasse o vídeo com a gravação.

O conhecimento sobre o teor da reunião será importante para:

  • Definir se o vídeo, ou quais trechos da gravação, deve permanecer em sigilo e quais trechos poderão ser utilizados na investigação
  • Orientar os investigadores nos depoimentos de testemunhas ouvidas na investigação.

A AGU, que representa o presidente Bolsonaro no inquérito, afirmou ao STF que a reunião do dia 22 tratou de temas “potencialmente sensíveis e reservados de Estado, inclusive de Relações Exteriores” e, por isso, chegou a pedir que fosse enviado ao Supremo apenas trecho da gravação, o que não foi atendido. A gravação foi encaminhada na íntegra, segundo o Planalto.

Além das acusações de Moro contra o presidente, a divulgação do que foi dito na reunião tem potencial para causar constrangimento ao governo Bolsonaro. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, xingou os 11 ministros do STF durante o encontro — no qual a China, importante parceira comercial do Brasil, também teria sido atacada.

Ministros

No começo da tarde desta terça-feira, alguns dos principais ministros do núcleo militar do governo de Jair Bolsonaro serão ouvidos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público no Palácio do Planalto.

  • O inquérito contra Jair Bolsonaro foi aberto por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello no dia 27 de abril, na esteira de um pedido formulado pelo procurador-geral da República Augusto Aras.
  • Na petição que deu origem ao inquérito, Aras diz que Bolsonaro pode ter cometido, em tese, os crimes de falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de Justiça e corrupção passiva privilegiada.
  • Já Sergio Moro, segundo Aras, pode ter incorrido em crimes contra a honra e no crime de denunciação caluniosa, se as acusações dele contra Bolsonaro se mostrarem falsas.