19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

A lógica criminosa e imbecil de “só contar quem morreu nas últimas 24 horas”

É preciso confrontar quem releva o total de óbitos diários ou afirma que “as confirmações não significam que mortes ocorrem no mesmo dia”

Tudo começou com uma histeria, por causa de uma gripezinha que seria incapaz de matar idosos com histórico de atleta. Mas mesmo com os números de casos confirmados e mortes por covid-19 se acumulando, o presidente Jair Bolsonaro seguiu tentando minimizar o óbvio: a pandemia do novo coronavírus é grave.

Só que com cemitérios começando a ficar sem espaço ou hospitais cada vez mais lotados, não ficou mais possível minimizar a importância dos dados. “E daí”, “é o destino”, “cala a boca”. E enquanto sabotava as medidas de distanciamento social, já empurrava a culpa das mortes para os governadores. Se eximido de toda a culpa. Com um discurso que alimentava seguidores, cada vez mais frios e radicais:

Só que sem poder minimizar os impactos, pois por mais que bolsonaristas tentem, o que restou foi atacar os números. Primeiro acusando os governadores e prefeituras de inflacionarem o número de mortos. Depois, escondendo eles completamente. E, finalmente, uma maquiagem: a redução das mortes.

24 horas

Na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou que pretende mudar o modo de divulgar os dados, informando como novas mortes o número de pessoas que efetivamente morreram nas últimas 24 horas.

Desde o início da pandemia, a pasta utiliza como parâmetro a data de notificação, padrão adotado na maioria dos países. Ou seja: dizer que morreram mil pessoas num dia significa que mil novos óbitos foram confirmados nesta data, graças às notificações das secretarias de Saúde neste dia.

Só que leva tempo entre a morte do paciente e a confirmação da covid-19. Alguns podem ser casos confirmados, outro ainda esperam o resultado dos testes. E caso essa mudança seja aplicada, ao menos 44% das mortes por coronavírus não entrariam no boletim diário.

Ou seja: se alguém morreu há três dias e apenas hoje teve sua morte confirmada como sendo provocada pelo novo coronavírus, o próximo boletim não o contabilizaria.

Com os recordes incomodando e milhares de mortes mostrando que Bolsonaro mentiu, ou foi incrivelmente irresponsável, ao minimizar o impacto da pandemia, ele vai atacar os números. Para criar uma falsa impressão de que os óbitos estão em queda e medidas de prevenção sejam relaxadas em benefício da sagrada Economia. Que não se fale dos mortos.

Mortes debaixo do tapete

No atual ritmo, o número de óbitos só tende a crescer. Apenas no mês passado, o Brasil quadruplicou o total. Houve um salto de pouco mais de 10 mil para os recentes 41 mil que temos no momento.

São pessoas que morreram, que pararam de respirar, que tiveram suas vidas interrompidas e não terão mais oportunidade de ver seus familiares, trabalhar ou ter algum tipo de reação a tudo o que está acontecendo hoje. São pessoas que, independente de serem contabilizadas ou não, ainda assim continuariam mortas caso aconteça a recontagem.

E mesmo com a recontagem, há ainda quem releve, dizendo que “as confirmações não significam que mortes ocorrem no mesmo dia”. E é preciso ter um raciocínio bovino para cair nesse conto, já que a média diária não permite acreditar nisso. Se não vejamos esses dados hipotéticos, porém muito próximos da realidade:

  • Dia A: 600 Pessoas morreram, 400 anteriores são confirmadas;
  • Dia B: 650 Pessoas morreram, 430 anteriores são confirmadas (destas, 230 do dia A);
  • Dia C: 680 pessoas morreram, 455 anteriores são confirmadas (destas, 220 do dia A).

Não é um caso literal. É meramente ilustrativo e não representa fidedignamente a realidade. É preciso levar isso como hipótese, sendo assim, observe o dia A: naquele dia, ministério da Saúde confirmaria mais 1000 mortes. Destas, 40% óbitos de dias anteriores.

Caso o boletim passe a contar apenas quem morre neste dia, e não as anteriores, provocaria um efeito cascata que a mais simples das matemáticas mostraria: o acúmulo de morte diárias, no final das contas, acaba implicando no total de daqueles dias. As vezes de forma inferior, outras até mesmo superior.

Querendo ou não contar “apenas” os 600 que morreram no dia A ou todas as mortes confirmadas nas últimas 24 horas (saltando para mil), como as demais mortes só seria contabilizadas em dias seguintes, ainda assim no dia A houve mais do que 600 mortes. Só não houve tempo para confirmações. E muitos estão sendo levados a ignorar este óbvio.

É o que o governo quer: ignorar a matemática, ignorar os números, ignorar a ciência, ignorar o óbvio. Jogar pra debaixo do tapete e, de forma imbecil e criminosa ocultar milhares de mortos, em um tentativa ainda inútil de minimizar a pandemia. Há de se imaginar, porque ainda caem nessa… Basta se lembrar do que o presidente falou sobre os índices de educação no Brasil (Pisa):

“Queremos uma garotada que não esteja ocupando os últimos lugares no Pisa. Queremos que não mais 70% dessa garotada não saiba fazer uma regra de três simples, não saiba interpretar textos, não saiba perguntas básicas de Ciências. Nós queremos uma garotada que comece a não se interessar por política, como é atualmente dentro das escolas, mas comece realmente aprender coisas que possam levar a quem sabe ao Espaço no futuro”. Jair Bolsonaro, presidente.

Se o que ele falou aqui é verdade (infelizmente, algo que vai ficando cada vez mais raro com o passar do tempo), não é a toa que ele consiga tantos apoiadores. São pessoas que não conseguem raciocinar por si, que estão inflamadas com um discurso de ódio e se contentam até com números maquiados de uma pandemia. Pois não sabem fazer cálculos nem responder perguntas básicas de Ciências.

One Comment

  • Avatar Sonua Cristina Lindholm Barbosa

    São uns imbecíís depois que todis forem cintaminafldis pelo corinavírus vão pedir orações e vão querer tirar o leito de una pessoa do hospital. Dessa gebteveu não tenho pena, eu tenho pena das pessoas que eles contaminaram

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