26 de junho de 2024Informação, independência e credibilidade
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A reciprocidade falada por Collor na renúncia e as contas a pagar

Collor deixa a campanha constrangido e quem tiver espinhaço se prepare

Em uma roda de amigos, em meio às convenções partidárias, a discussão era sobre a possibilidade do senador Fernando Collor (PTC) ser candidato ao governo do Estado em oposição ao governador Renan Filho (MDB).

Um dos atores da conversa observou que Collor não seria candidato. Poderia até lançar o nome – como o fez e sempre faz – mas que não levaria adiante.

E justificou: Collor atua movido pelos próprios interesses. Se estes forem contrariados aguardem cartas e “munhecadas no espinhaço” que elas virão.

Collor: constrangimento na campanha

A razão, dizia o ator, era que Collor não tem mais paciência para viver na “miudeza” da política local. Ou seja, atendendo vereador, deputado e prefeito, em seu dia a dia. Passar quatro anos morando em Maceió e lidando com esse entorno não lhe é uma coisa animadora. Muito antes pelo contrário.

O senador gosta mesmo é do plano maior. O Senado lhe faz bem por que não lhe exige tanto e propicia o útil ao agradável da vida no poder central. É lá que as coisas acontecem e se distribuem de alguma forma.

Mas, enfim, Collor se lançou candidato convencido pelos tucanos do PSDB, liderados pelo prefeito de Maceió, Rui Palmeira, e pela ação familiar do senador Benedito e do deputado federal, Arthur Lira, ambos do PP.

E assim nosso ator destacou em outra conversa com os amigos: – Vamos ver até quando.

Agora Collor renuncia ao que era, sem, na verdade, nunca ter sido de fato. Desde o inicio percebeu que não havia ressonância em sua candidatura. Contudo, o interesse contrariado e o canto da sereia solfejado pelos que lhe procuraram para se candidatar, deram-lhe asas para exercer no palanque toda a sua contrariedade.

Essa contrariedade estava e está no fato de os Renans – pai e filho – terem definido o processo de reeleição sem discutir com ele mínimos detalhes. Isso é visto pelo próprio como uma afronta. E numa das raras vezes que sentaram para tratar do assunto negaram-lhe a indicação do candidato a vice. O senador Fernando Collor de Mello queria o cargo para um dos seus filhos. Como não conseguiu foi forçado a abraçar a causa da oposição, antecipando uma briga que poderá ter em 2022, quando será candidato a reeleição.

Mas, um detalhe na declaração do senador, que largou o timão do barco e o deixou à deriva, chama à atenção. Ao historiar suas razões, ele disse que lhe faltou reciprocidade. E o que seria isso?

Pois bem. Campanha eleitoral seja ela qual for tem um custo considerável. Collor nunca botou dinheiro seu em campanha. Nem ele, nem a maioria dos líderes políticos desta terra. Sempre há os que financiam. Também movidos por seus próprios interesses.

E alguém pode dizer: Mas hoje quem banca a campanha é o fundo partidário. É verdade, em parte. Afinal o dinheiro rola por fora, principalmente para pagamento de mensalinhos a cabos eleitorais, donos de currais de votos, na capital e no interior. A verba do fundo paga as despesas oficiais, para dar a satisfação à justiça eleitoral. Assim, quem tem mais dinheiro pode mais.

O certo é que depois de percorrer alguns municípios quase sozinho nesta campanha, o candidato descobriu que estava passando por um constrangimento cruel, exatamente devido ao problema “reciprocidade”. Isso, para ele, não tem perdão.

Ademais, para fazer a campanha em nível de competitividade, Collor teve que montar uma estrutura pesada que lhe possibilitasse ter um programa de rádio e TV compatível com a sua dimensão política e da própria candidatura. Essa estrutura tem que ser bancada oficialmente. Isto é, com a verba do fundo. Mas, o PTC de Collor é um pequenino partido e não lhe disponibilizou esse dinheiro.

Em suma, essa conta ficou para os que foram atrás dele. E é uma conta de alguns milhões, sem dúvida nenhuma.  Alguém haverá de pagar, certamente.

Afinal, são todos homens de palavra e, claro, de reciprocidade.