18 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Blog

Alagoas: na terra de Zumbi o negro é o alvo

Por Wagner Melo, jornalista

Alagoas voltou às manchetes nacionais e, como sempre, de forma negativa. Desta vez, no El País Brasil. A reportagem “No Brasil, dois países: para negros, assassinatos crescem 23%. Para brancos, caem 6,8%” cita, logo no início, dois casos de alagoanos que revelam como a nossa nação, especialmente nossa terra, continua hostil para aquele grupo de pessoas.

Tomo a liberdade de reproduzir o trecho do texto de Gil Alessi que retrata bem os dois “Brasis”:

“O alagoano J.S, 21, infelizmente tinha contra si dois fatores. Era jovem e negro. Em seu Estado isso significa que ele tinha as mesmas chances de ser assassinado do que se morasse em El Salvador, um dos países mais violentos do mundo com uma taxa de homicídio de 60 mortos por 100.000 habitantes. Terminou baleado caído na calçada no bairro Chã da Jaqueira, periferia de Maceió.

Destino diferente teve P. H. Z., 27. Apesar da pouca idade, o conterrâneo de Silva foi aprovado em concurso para ser diplomata pelo Itamaraty. Assim como Silva, ele é alagoano. Mas com uma diferença: Zacarias é branco. Para um homem branco em Alagoas, as chances de ser morto são baixíssimas, as mesmas dos Estados Unidos: 5,3 homicídios por 100.000 habitantes. A Organização Mundial de Saúde considera epidêmicas taxas acima de 10.”

O “Atlas da Violência 2018”, que é organizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre números relativos a 2016 fornecidos pelo Ministério da Saúde, mostra como a situação de Alagoas é peculiar: temos a terceira maior taxa de homicídios de negros (69,7 por 100.000 habitantes) e a menor taxa de homicídios de não negros do Brasil (4,1).

No âmbito nacional, naquele ano, “a taxa de homicídios de negros foi duas vezes e meia superior à de não negros (16,0 por 100.000 habitantes contra 40,2)”, detalha o relatório. Já entre 2006 e 2016, a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1% e a taxa entre os não negros teve uma redução de 6,8%.

São números que merecem uma reflexão, em tempos sombrios nos quais os próprios negros são induzidos a negar o racismo (esse tipo de ideia já elegeu até vereador em São Paulo).

É uma nítida tentativa de desmerecer as políticas pela correção da dívida histórica que a sociedade brasileira tem com os negros. E essa luta não é coisa de comunista, mas de quem escolheu lutar pela humanidade.