15 de julho de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaristas copiam Trumpismo e resultado pode terminar em tragédia

Consequências financeiras, políticas ou mesmo com fatalidades não podem mais ser descartadas diante da demora e complacência das polícias contra os “protestos pacíficos”

Apurada as urnas do 2º turno das eleições, confirmou-se a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL)  para Lula (PT). Mas, surpresa, não só Jair demorou para reconhecer a derrota, como seus seguidores foram para as ruas crentes de que foram roubados. E este número de insatisfeitos só cresce.

O presidente, sabendo da possibilidade de derrota, passou seu mandato inteiro acusando instituições, especialmente o judiciário e as urnas eletrônicas, plantando terreno para o que acontece hoje.

Quero voto auditável“, “só Deus me tira”, “vou adiar as eleições” ou “só saio morto” são frases ditas por ele, que inflamaram seus seguidores. Ele mesmo demorou quase 45 horas para se pronunciar após ser derrotado. Algo patético, infame e até triste, pois ele deve ter vivido momentos de tensão, já que perderá imunidade parlamentar, seus decretos centenários de sigilos e pode ser punido na forma da lei.

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Só que sua demora em falar e tudo o que vem acontecendo desde então, com caminhoneiros fechando estradas, gatos pingados fechando aeroportos, um número maior fechando vias nas grandes cidades e agora até mesmo famílias nas ruas não querendo aceitar a derrota não são novidade nenhuma para quem viu Donald Trump perdendo a eleição americana para Joe Biden em 2020.

Para pessoas ao redor do mundo, a sensação é de déja vú: “já vi esse filme antes” se tornou comum diante dos mesmos padrões, com fanáticos que não sabem mais distinguir realidade da fantasia que vivem. Exemplos simples são eles comemorando como vitória na Copa do Mundo notícias mentirosas, como realização de novas eleições ou a ‘prisão em flagrante’ de Alexandre de Moraes.

Seria patético, se não fosse trágico.

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Estamos nesta situação de agora por pura complacência. Ao contrário de nos EUA, onde Trump não teve auxílio das instituições, apenas dos insurgentes antidemocráticos, aqui no Brasil Bolsonaro tem ao seu lado o apoio político e ideológico de alguns policiais.

A Polícia Rodoviária Federal, por exemplo, realizou blitze em todo Brasil do domingo das eleições, especialmente no Nordeste, onde Lula recebe mais votos. No dia seguinte, nada fizeram para impedir, ainda no começo, o fechamento de BRs em alguns estados brasileiros por parte de caminhoneiros bolsonaristas.

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Demoraram. Só agiram quando o STF resolveu mexer no bolso do diretor-geral da PRF: ou faz algo, ou será preso e multado em R$ 100 mil por dia. Entretanto, os números nas ruas só cresceram.

Para melhorar a situação para Bolsonaro ou piorar para o Brasil, além da PRF, o presidente possui o apoio de alguns Policiais Militares nos estados brasileiros. Estes que, simpatizantes com os movimentos, poderiam fazer corpo mole, não muito esforço ou até mesmo se recusar a agir contra para tirar manifestantes das ruas.

Clamando o “artigo 142“, os bolsonaristas acham que se a população por três dias reivindicar, o Exército toma as ruas para fazer um golpe militar. O que é idiota, pois a população já se manifestou: a maioria votou pela mudança de governo e não há na CF nada que permita um golpe militar. Mas vá lá dizer isso pra quem acredita em fakes tão bestas – não estamos lidando com pessoas coerentes e sensatas.

Na verdade, o artigo diz o seguinte:

“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem – Artigo 142, CF”.

Nos EUA, dezenas de insurgentes americanos, que acreditavam em fraudes nas eleições e invadiram o Capitólio no dia 6 de janeiro de 2021 já foram condenadas e presas. Trump foi intimado a depor no inquérito por responsabilidade na ação antidemocrática. Ainda assim, seus seguidores fieis seguem apoiando o ex-presidente e recusando sua derrota para Biden.

Além disso, o Senado norte-americano já aprovou, por unanimidade, cortar todas as relações com o Brasil caso a vitória democrática nas urnas não sejam respeitadas. Nada mais de voo para Flórida. Nada de Netflix, Google ou redes da Meta, com o Facebook e Whatsapp. Ironicamente, um traçado perfeito para “se tornar Cuba ou Venezuela”. Só que pior.

Aqui no Brasil, Jair tem policiais ao seu favor. E nas ruas o número pequeno e insignificante já começa a crescer, especialmente neste feriado Finados, que ao invés de ser usado para lamentar a morte do governo Bolsonaro, está sendo por quem acredita que Jesus é Messias e vai ressuscitar em três dias.

Famílias já estão nas ruas. Irresponsáveis usam seus filhos de escudo humano. Basta uma ação um pouco mais coordenada, como marcharem dos quarteis para prefeituras e palácios dos governos estaduais que “não estão com Bolsonaro”.

Gente com criança no colo, forçando entrada em prédios do governo ou do judiciário. Afirmando fazerem isso de forma pacífica. Com complacência ou não de agentes de segurança, o resultado seria uma tragédia. Tomara Deus que sem sangue derramado. Mas seguindo nessa tocada, logo teremos mortes. Sejam elas na forma econômica, social ou política.