A decisão do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de invadir o país, tem forçado o Itamaraty a promover um malabarismo retórico para mostrar, ao mesmo tempo, oposição a uma violação do direito internacional por Moscou sem apontar o dedo diretamente contra a Rússia.
Os russos são considerados parceiros estratégicos e são sócios do Brasil no Brics (grupo também formado por Índia, China e África do Sul). E o presidente Jair Bolsonaro colocou o Brasil nesta situação ao visitar Putin na semana passada. E dizer ser solidário ao povo russo.
A tentativa da diplomacia brasileira de se equilibrar entre a posição dos Estados Unidos e aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e, do outro lado, a da Rússia de Vladimir Putin tem ficado evidente nos discursos do embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, no Conselho de Segurança.
A última manifestação do brasileiro ocorreu na noite desta quarta-feira (23). Na ocasião, Costa Filho disse que “a ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial, soberania e independência política de um membro da ONU é inaceitável”.
Apesar disso, Costa Filho não mencionou diretamente o governo da Rússia e passou longe da retórica americana e de aliados europeus que responsabilizam diretamente Putin pela maior ameaça militar no continente europeu desde a Segunda Guerra Mundial.
Já nesta quinta (24), o Itamaraty divulgou uma nota em que diz acompanhar “com grave preocupação a deflagração de operações militares” pela Rússia contra “alvos no território da Ucrânia”.
Mourão
Enquanto isso, o vice-presidente Hamilton Mourão, sem meias palavras, afirmou que o Brasil não concorda com a invasão da Rússia à Ucrânia. Bolsonaro segue sem se pronunciar sobre o tema. Diante do silêncio de Bolsonaro sobre a invasão, até aqui, foi Mourão quem se posicionou:
“O Brasil não está neutro. O Brasil deixou muito claro que ele respeita a soberania da Ucrânia. Então, o Brasil não concorda com uma invasão do território ucraniano. Isso é uma realidade”.
Os jornalistas na entrada do Palácio do Planalto perguntaram como o vice-presidente avalia o ataque russo. Mourão é general da reserva.
“A gente tem que olhar sempre a história. A história ela ora se repete como farsa, ora se repete como tragédia. Nessa caso ela está se repetindo como tragédia”, respondeu Mourão.
Questionado sobre a ida de Bolsonaro à Rússia, quando o presidente ser solidário ao país e que Putin buscava a paz, Mourão não quis comentar.
Apesar disso, o vice-presidente disse ainda que a Rússia tem uma tradição de expansão desde o império, que passou para o período da União Soviética. Segundo ele, a Rússia volta a buscar esses interesses com Putin.
“O mundo ocidental está igual ficou em 38 com Hitler, na base do apaziguamento. O Putin, ele não respeito o apaziguamento. Essa é a verdade. Se não houver uma ação bem significativa …E na minha visão meras sanções econômicas, que é uma forma intermediária de intervenção, não funcionam”, completou Mourão.