19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro genocida? Agindo de propósito ou não, aparelhamento do presidente amplia número de mortes

Mesmo diante da sabotagem de medidas contra covid-19 e mortes batendo recordes, falta contrapartida para oposição se unir e bater na mesa gritando ‘chega’

A Polícia Civil do Rio de Janeiro intimou o youtuber Felipe Neto nesta segunda-feira (15). Ele teria cometido um crime previsto na Lei de Segurança Nacional por ter chamado o presidente Jair Bolsonaro de “genocida”.

E o pedido de investigação partiu do vereador Carlos Bolsonaro, filho 01 do presidente, insatisfeito com o Youtuber que criticou seu pai pela condução do governo na pandemia de Covid-19.

A definição exata de ‘genocídio’ não é muito clara. Mas como ele é descrito como um “extermínio deliberado de pessoas motivado por diferenças étnicas, nacionais, raciais, religiosas ou sociopolíticas”, há mais do que interpretações para indicar que acontece isso no Brasil durante esta pandemia.

Mesmo diante das mais clara e evidentes quantidade de enfermos e de mortos, Bolsonaro e seus aliados seguem teimando em não acreditar na letalidade do vírus.

Agem diretamente contra qualquer medida de prevenção e meio que ‘ligaram o foda-se’ para a Saúde: a deusa da Economia foi a escolhida para ser salva – e, surpresa, não aconteceu nem uma coisa, nem outra.

Passado um ano, o presidente ainda discursa contra a vacinação (única solução final para a pandemia), quis fechar os ouvidos para a iminência de uma 2ª onda (a que estamos agora) e foi praticamente o único chefe de estado do mundo a endossar a hidroxicloroquina como tratamento precoce (e que não resolve).

E com a ideia mirabolante de deixar o vírus correndo solto, já que apenas idosos sem histórico de atleta estariam ameaçados, isso para atingir uma inédita imunidade de rebanho, surpresa, novas mutações surgiram. Mais contagiosas e mais letais. Faltaram leitos e até mesmo oxigênio nos hospitais.

Isso, claro, após ter recusado dezenas de milhões de doses de vacina, por ter reclamado do preço e não ter certeza da “demanda”. Hoje, corre atrás em um mercado escasso e pagando mais caro, enquanto milhares morrem de forma inconsequente.

Por que alguém faria isso? Por que um pessoa, diante de uma pandemia que atingiu o mundo todo, se sentiria especial e diferente dos demais? Por que fazer o oposto do que a ciência recomendou e instruiu?

Qual o motivo de fazer isso, enquanto bradava absurdos como “para direita cloroquina, para esquerda tubaína”, enquanto falava em ‘frescura ou mimimi’ e ria de pessoas que se mataram neste período?

Genocídio ou burrice?

Existe um mar de interpretações sobre isso. Há quem diga que seria um resgate da previdência social: com menos idosos vivos, menos aposentadoria a ser paga. Da mesma forma, em uma situação em que mais ricos com mais acesso a tratamento hospitalar se sairiam melhor que os mais pobres, isso eliminaria de vez boa parte dessa classe social mais baixa.

E não sendo contra idosos ou contra os mais pobres, a questão ganha mais força diante de um privilégio da elite, que lucra em qualquer crise. Com a alta do dólar, até Felipe Neto ganha mais dinheiro, afinal recebe moeda americana por seus vídeos no YouTube.

O que não imaginar então dos ganhos de Paulo Guedes e seus associados ou o “velho da Havan”, que mesmo tendo perdido sua mãe para a covid-19 afirma que vai manter suas lojas abertas, diante de qualquer tipo de decreto.

A coisa não melhora se lembrarmos que, em contexto histórico, o presidente Bolsonaro já chegou a dizer que para mudar o Brasil, apenas se acontecesse uma guerra civil com a morte de 30 mil pessoas (mesmo que inocentes).

E em uma “mitada” mais recente, Carlos Bolsonaro já chegou a postar uma montagem de seu pai como se fosse Thanos – nos filmes da Marvel, o Titã Louco foi capaz de eliminar metade das vidas do universo com um simples estalar de dedos.

O que Bolsonaro como Thanos quer implicar? Eliminar a oposição? Acabar com a esquerda? Fuzilar a petralhada, como já chegou a dizer durante a campanha?

E a oposição?

Não sobra muito espaço para saber qual é a de Bolsonaro, mas nesta pandemia o leque de interpretações vai se afunilando: diante de tudo o que aconteceu, ou ele ativamente está matando pessoas ou é burro pra caralho pra saber o que está fazendo. E nenhuma destas opções é reconfortante.

A mudança teria que vir de fora, já que a teimosia interna impede uma troca de cenário. Bolsonaro vai morrer abraçado com sua retórica de que nunca errou nenhuma vez, alimentando para seu gado o discurso de que o mundo inteiro está contra o presidente do Brasil.

Mas falta contrapartida para uma mudança de fora. Mesmo diante dos absurdo e de tantas mortes diárias, os competentes para isso não vão mover um músculo caso não ganhem nada contra isso. Rodrigo Maia, por exemplo: estava com toneladas de pedidos de impeachment que continuaram em sua gaveta até o último dia de sua presidência na Câmara dos Deputados.

O mesmo vale para o novo presidente da Casa, Arthur Lira e também seu centrão: se não continuar saindo por cima de uma forma ou de outra (mais poder político, mais emendas, mais cargos e mais indicações), vão continuar perdendo colegas, parentes e (como se ligassem) brasileiros sem mover um fio para mudar este cenário.

Hoje, os militares estão com Bolsonaro. As Forças Armadas e até mesmo as forças policiais estaduais estão com Bolsonaro. Os governadores não tem um efetivo garantido para fiscalizar seus decretos, já que muitos dos PMs são bolsonaristas e seguem o discurso da população bolsonarista insatisfeita, que joga a culpa de tudo em governadores e prefeitos – não no presidente.

Infelizmente, falta não só união, mas uma boquinha mesmo, um ganho financeiro, um futuro de cargo político ou profissional. Esses grupos precisam dessa contrapartida para garantir que após a empreitada na luta contra um governo com recordes diários de mortes numa pandemia, que age com maldade hedionda ou incompetência abissal, não saia dessa com uma mão na frente e outra atrás.

Diante de tudo o que vem acontecendo, a discussão sobre um genocídio já se tornou necessária. Ou é isso, ou é burrice. Mas o cenário é o pior possível: seja lá qual for o motivo, não teremos mudanças de fora nem de dentro.

Ministério da Saúde na mesma.

Neste meio tempo, a médica cardiologista Ludhmila Hajjar fora sabatinada pelo presidente para assumir o ministério da Saúde. Fazendo as perguntas estavam também o ministro a ser substituído, general Pazuello, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filho 03.

Diante de pergunta fora de contexto sobre aborto e liberação de armas(?), Hajjar afirmou que as atuais medidas do governo, como não seguir recomendações da OMS (máscaras e distanciamento) ou sugerir tratamentos precoce contra covid-19 estavam piorando a situação.

Suas respostas (sensatas) não agradaram ao presidente e a cardiologista se tornou uma carta fora do baralho quando começaram a circular áudios em que ela chamava Bolsonaro de psicopata. Daí até ela receber ameaças de morte dos apoiadores do presidente foi um pulo.

Ficamos então com Marcelo Queiroga, o quarto ministro da Saúde de fachada nesta pandemia, afinal, convenhamos, todos sabemos quem tem a palavra final nesse quesito.