Em andanças na beira do rio São Francisco, em Penedo, Considerado teve um mal estar e procurou um médico na cidade. A namorada que lá arranjou, uma jovem da típica aristocracia penedense, logo ligou para o consultório do Dr. Veiga e garantiu o atendimento. A moça usou o prestígio da família para encontrar vaga imediata.
Agora imagine o Considerado, um malandro contumaz, arranjar uma namorada da elite local. Uma moça com charme e beleza que praticamente não anda: flutua. Mas, o gordinho com seu papo de enrolar turbina de avião se deu bem. Até quando é outra história.
O certo é que o cara chegou ao consultório e o atencioso Dr. Veiga passou examiná-lo, depois de ouvi-lo sobre o ocorrido e constatou que não era nada demais. Sombra e água fresca resolveria tudo sem maiores problemas. Era o que ele mais queria, desde que trocassem a água pela cerveja.
Mas o médico advertiu para não fazer estripulias como exagerar na cerveja, comer jacaré, entre outros pratos exóticos que os bares da cidade oferecem.
-Mas doutor Jacaré é um prato bom mesmo?
-Há quem goste. Mas eu não sou chegado.
– Por quê?
-Tenho trauma. Meu tempo de comer essas coisas já passou.
O médico praticamente caiu na armadilha do sujeito.
A partir daí Considerado passou a provocá-lo para saber das histórias passadas. Jeitoso, cheio de expressões corporais, nosso amigo acabou convencendo o doutor a lhe contar uma história sobre comida exótica.
Natural de Paulo Jacinto, quando garoto, estudante de medicina, Dr. Veiga foi frequentador assíduo do bar da Gia. O boteco, que ficava em uma rua à beira do rio Paraíba, era famoso. Bem frequentado pelos jovens do lugar.
Estudante da Ufal no inicio dos anos 70, Veiga reuniu um grupo de amigos de turma e os levou para o Baile da Chita, festa tradicional dos paulojacintenses. A turma era grande, mas todos ficaram hospedados na casa dele. Chegaram na sexta-feira de trem.
A rapaziada, então, foi devidamente apresentada ao bar da Gia e a maioria quase não queria mais sair de lá. Eles bebiam uma cachaça da época chamada Mucuri e se empanturravam de Gia. Os pratos eram para todos os gostos: Gia ao molho de jurubeba, à cabidela, à milanesa e Gia frita puxada ao limão e alho.
Considerado salivou… Encheu a boca de água e quis saber se a cidade ficava perto por que agora queria conhecer o bar de qualquer jeito.
-Sem chances meu rapaz.
-Ora, por quê?
-O bar fechou logo depois que os meus amigos passaram por lá.
-Mas esse negócio seria hoje um “big case” da gastronomia alagoana.
-Mas, os meus colegas quebraram a casa.
-Como?
-O líder da nossa turma era o Coleguinha, um galego alto, bom bebedor e comedor de Gia…
-E o que ele fez?
-Ele arrastava a turma para o bar, passava a tarde inteira e mandava pendurar a conta. O dono em confiança foi aceitando.
-E daí?
-Daí disseram ao homem que pagariam na segunda-feira quando fosse a hora de ir embora. Mas, no domingo pegamos o trem para Maceió.
-Doutor esse Coleguinha é um galego do dedão?
-É ele mesmo!
-Ah, mestre, vou falar para minha vó Nildinha.
-E o que tem ela?
-Ela é tarada no dedo dele.
-Que é isso rapaz?
-Não se incomode não doutor, a velha só fala em se consultar com ele por causa do dedo.
Esse Coleguinha é medico urulogista. Eu conheço ele. Não sabia dessa proeza do doutor. Certamento foram os arroubos da juventude.