O Considerado, ao que parece em estado de embriaguez, disse a avó dona Nildinha, em alto e bom, que estava pensando seriamente em ser candidato a vereador por Maceió.
A velhinha quase cai do tamanco. Mas, rapidamente, desatou a gargalhar de forma desatinada. Afinal, acabara de ouvir uma espécie de heresia fundamentalista de um ser, que costuma matar a grama por onde pisa.
Em meio a reação da vó, ele reagiu feito um autêntico político meloso: – Mas o que é isso” voinha”, a família é meu elo e precisa estar unida nessa hora.
Foi aí que ela parou a gargalhada e declarou: -Meu filho, você é lindo, mas vá procurar o que fazer de verdade, que esse mundo que você quer abraçar é para outro tipo de gente.
Considerado tentou ensaiar um discurso para convencê-la e ela interrompeu: – Pode parar. Pra cima de mim não. Quem foi que meteu essa ideia ridícula na sua cabeça tonta?
-Olha vó, vários amigos disseram que eu tinha perfil para a Câmara Municipal. E depois de uma conversa animadora que eu tive com meu amigo e conselheiro, Batoré, eu me defini. -Disse ele, pausadamente, querendo parecer um tribuno.
-Ah, foi o Batoré seu incentivador. Logo vi. – Reagiu Nildinha.
Atento à fala da vó, o neto, pré-candidato, quis saber de forma mais enfática se ela iria apoiá-lo ou seria contra. Ela automaticamente se disse ser contra, mas que se renderia diante de umas certas condições. E ele: -Que condições “voinha”?
-Pare de me chamar de voinha que você nunca falou assim comigo!
-Mas estou sendo respeitoso e amável dona Nildinha.
-Você está sendo falso como candidato barato e safado.
-Sim, mas qual é a condição?
-Chame o Batoré pra ele financiar sua campanha, que para se eleger vai precisar de uns R$ 5 milhões, no seu caso. Eu serei a tesoureira e ainda acho que não ganha.
-Quer isso vó, o Batoré não deve ter esse dinheiro. E ele não libera, empresta.
-Eu sei que ele é agiota, mas pra lançar a sua campanha deve estar bonitinho de bolso.
-Acho não, porque ele gastou muito agora em um novo empreendimento.
-Que empreendimento?
-Ele já era sócio do Pastor na Babalau, aquele escritório jurídico que trabalha para os grileiros do agronegócio.
-Ah sei, o Pastor é aquele que se lançou em um município aí e depois deixou tudo, após encher um pote de araçá na igrejinha.
-Não sei dessa história não, senhora.
-Sim, mas qual é o empreendimento?
-O Babá e o pastor resolveram competir com o restaurante do Manguito e estão montando a Babaletto, que é uma galeteria gourmet, ao lado do novo bar do Lula.
-Meu Deus… E não eram tão amigos?
-Sim, mas é exigência do mercado que me apoia “voinha”, digo, minha vó.
-Mercado um cacete, “fi de uma égua”…
-Calma minha vó. Respeite minha mãe…
-Saia dessa, logo, que isso pra mim é lavagem de pote de araçá.