29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Divino: Vídeo compartilhado por Bolsonaro diz que presidente não deve ter oposição

Janaína Paschoal reclamou da “cegueira” dos colegas e anunciou que tentará deixar a bancada do PSL

Eu seu Facebook oficial, curtido por mais de 10 milhões de perfis, o presidente Jair Bolsonaro apelou e compartilhou um vídeo do pastor congolês Steve Kunda afirmando que Jair Bolsonaro deve ser considerado um profeta. E como foi “eleito por Deus”, não deveria nem ser criticado, muito menos ter oposição.

“Eu não moro aqui. Mas falo da parte de Deus. Vocês aceitando ou não, você seja de esquerda ou de direita, o senhor Jair Bolsonaro é o Ciro do Brasil. Deus o escolheu para um novo tempo, para uma nova temporada no Brasil. Não passe o seu tempo criticando. Juntem as forças e sustentem esse homem. Orem por ele, encorajem-no, não façam oposição”. Steve Kunda, em vídeo postado por Bolsonaro.

O vídeo tem um tom mais anárquico e preocupante que o texto, “de autor desconhecido”, em que Jair Bolsonaro pediu pra compartilhar, afirmando que o Brasil é ingovernável e que “a hipótese nuclear é uma ruptura institucional irreversível, com desfecho imprevisível”.

O texto (que em sua íntegra você pode ler aqui) foi apenas um “encaminhamento”, como disse Bolsonaro, após a repercussão negativa. Embora o mesmo sirva de incentivo para que seus seguidores façam um protesto positivo, neste domingo, em seu apoio. Da mesma forma, pode dar a entender que ele quer fechar o congresso e STF, embora também já tenha negado.

Desta vez, o vídeo postado vai além e entrega a ele tons messiânicos. A mensagem é que ele não poderia receber críticas nem mesmo da oposição. Pois tudo seria contrário à vontade de Deus. Claro, em algumas horas ele pode negar tudo e dizer que “não viu o vídeo e apenas compartilhou”. Ou que a autoria da postagem foi de seu filho Pitbull, Carlos Bolsonaro, que cuida das redes sociais do pai.

Janaína disse chega

Até mesmo a deputada estadual de São Paulo, Janaína Paschoal, que girou uma camiseta e gritou de forma desvairada em palanque pedindo o impeachment de Dilma, achou o vídeo um exagero.

Em conversa num grupo de WhatsApp de parlamentares do PSL, ela reclamou da “cegueira” dos colegas e anunciou que tentará deixar a bancada do partido do presidente.

“Amigos, vocês estão sendo cegos. Estou saindo do grupo, vou ver como faço para sair da bancada. Acho que os ajudei na eleição, mas preciso pensar no país. Isso tudo é responsabilidade”. Janaína Paschoal (PSL-SP).

Se até mesmo Paschoal identificou as incoerências de Bolsonaro, que prefere um governo como de Cuba ou Venezuela, em que o presidente não pode ser questionado, resta saber quantos mais seguiram discursando pelo presidente, que aos poucos vai perdendo o controle de seu governo.