30 de junho de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Exonerado do TSE por interferir a favor de Bolsonaro depõe na PF sobre inserções nas rádios

Campanha de Bolsonaro entrou com ação ao tribunal afirmando que rádios de Norte e Nordeste deixaram de veicular parte de sua propaganda obrigatória

Um ex-servidor do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que trabalhava até ontem (25) no setor do pool de emissoras do horário eleitoral gratuito disse hoje (26) à Polícia Federal que uma rádio de Minas Gerais informou à Corte eleitoral que faltaram inserções na propaganda eleitoral.

Alexandre Gomes Machado foi espontaneamente até a PF hoje após saber da exoneração. Ele afirmou na delegacia que a emissora JM Online enviou e-mail à Corte dizendo ter deixado de levar ao ar 100 inserções do candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) entre os dias 7 e 10 de outubro de 2022.

À PF Machado disse acreditar que a razão de sua exoneração “seja pelo fato de que desde o ano de 2018 ele tenha reiteradamente informado ao TSE que existem falhas de fiscalização e acompanhamento na veiculação de inserções da propaganda eleitoral”.

O TSE, porém, não é responsável pelas inserções de rádio e TV. O ministro Ricardo Lewandowski, vice-presidente do Tribunal, afirmou que a Corte Eleitoral não tem atribuição de distribuir nem de fiscalizar se estão exibindo as inserções das candidaturas. Segundo o magistrado, o tribunal não teria nem estrutura para tal medida.

Machado foi exonerado do TSE foi exonerado após o gabinete de Alexandre de Moraes interpretar que ele estava tomando atitudes com falta de isenção e com aparência de atuação política em sua função, além de atrapalhar os trabalhos na corte.

Segundo integrantes do tribunal, o gabinete de Moraes já tinha interesse em demiti-lo por questões ligadas ao desempenho no trabalho e por causa da relação com colegas. Ainda assim, vinha sendo mantido no cargo, pois o presidente do TSE planejava realizar uma troca mais ampla na equipe apenas após as eleições.

Machado teria atrapalhado o trabalho que estava sendo feito pela corte para responder à ação apresentada pela campanha de Jair Bolsonaro (PL) sobre o suposto boicote de rádios às inserções do presidente.

Já na Superintendência da Polícia Federal no Distrito Federal, onde o servidor foi ouvido, a acusação está sendo tratada como fato sério a ser investigado. Há, no entanto, uma dúvida sobre a competência de quem pode fazer essa apuração.

Dona da rádio JM Online, Lídia Prata Ciabotti, ao lado da primeira dama Michelle Bolsonaro

Dona da rádio com inserções faltantes é bolsonarista

Lídia Prata Ciabotti, dona da rádio, manifesta em suas redes sociais apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados. Há quatro dias, publicou uma foto entregando um exemplar do Jornal da Manhã, que pertence ao mesmo grupo, à primeira-dama Michelle Bolsonaro, durante visita a Uberaba (MG). Na publicação, diz ter sido um prazer ter conhecido “uma mulher tão carismática”.

No Instagram, Ciabotti também compartilhou um vídeo do empresário e apresentador Roberto Justus, no qual ele diz que votar em Bolsonaro é votar em alguém que “muitas vezes é infeliz nas suas colocações”, mas luta pela “liberdade individual”.

A comunicação da rádio ao TSE teria ocorrido um dia depois de a campanha de Bolsonaro afirmar que várias emissoras estavam deixando de divulgar inserções publicitárias do candidato à reeleição. A JM Online, porém, não está na lista de rádios cujas programações foram analisadas pela campanha —o trabalho da equipe se concentrou em emissoras da Bahia e de Pernambuco.

Bolsonaro

A campanha de Bolsonaro entrou com ação ao tribunal afirmando que rádios de Norte e Nordeste deixaram de veicular parte da propaganda obrigatória do chefe do Executivo. Moraes disse que as alegações não tinham “base” e cobrou apresentação a apresentação de “prova e/ou documento sério” em até 24 horas.

Os advogados de Bolsonaro apresentaram novos documentos no dia seguinte, que ainda não foram analisados pelo tribunal. O presidente tem histórico de questionar o sistema eleitoral e insinuar em tom golpista que pode não aceitar resultado diferente da própria vitória.

O próprio Jair Bolsonaro (PL) afirmou hoje, em agendas de campanha em Teófilo Otoni e Uberlândia (MG), que “PT e TSE têm muito a se explicar” sobre a exoneração do servidor Alexandre Gomes Machado e que o Tribunal Superior Eleitoral “quer dar por encerrado o assunto como se o responsável fosse o funcionário”.

“Sou vítima mais uma vez. Onde poderia chegar nossas propostas, nada chegou, e não será demitindo um servidor do TSE que vai botar uma pedra nessa situação. Aí tem dedo do PT. Não tem coisa errada no Brasil que não tenha dedo do PT”.

“O que foi feito e foi provado pela nossa equipe técnica é interferência, é manipulação de resultado. Eleições têm que ser respeitadas, mas lamentavelmente PT e TSE têm muito a se explicar nesse caso”, disse o presidente em Teófilo Otoni, onde fez um comício para apoiadores.

A história, portanto, está longe de acabar. E mesmo sendo provado que as inserções não foram omitidas, Bolsonaro e seus aliados têm mais uma desculpa para acusar fraudes nas eleições em caso de derrota para Lula.