O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, vem se destacando de maneira positiva no governo Bolsonaro. Durante a crise de pandemia e e suas consequências no Brasil, Mandetta vem sendo eloquente e articulado ao passar as informações sobre os impactos do novo coronavírus na população. De maneira técnica.
Recomendando que os brasileiros evitem aglomerações, que familiares protejam seus idosos e, em conjunto com Moro, até mesmo publicando uma portaria que permite a detenção das pessoas que se recusem a entrar em quarentena, Mandetta vem sendo muito elogiado. Menos pelo presidente Jair Bolsonaro e os bolsonaristas.
Enquanto o mundo vem acordando para a realidade, com fechamentos de vôos, fronteiras, salas de cinema, escolas, faculdades e qualquer outro local de aglomeração, Bolsonaro segue tratando tudo como uma grande fantasia.
Mesmo em contato direto com infectados, ele faz questão de visitar manifestantes (que pedem o fechamento do Congresso) e fala até em comemorar aniversário no final de semana.
E como esses discursos destoam, Bolsonaro vem sendo atingido politicamente. A classe média começou a protestar com veemência e se na terça à noite houve panelaço, hoje a manifestação, feita respeitando a ideia do isolamento em casa, pode ser maior. Então, para o presidente, já chega.
Bolsonaro tem cobrado do ministro da Saúde que ele passe a adotar um discurso mais afinado ao do Palácio do Planalto no combate à pandemia do coronavírus. Claro, Mandetta tem um perfil muito técnico, o que não agradava o núcleo ideológico.
O presidente tem defendido a deputados bolsonaristas que o auxiliar presidencial, que se tornou o porta-voz do governo na atual crise, incorpore em sua retórica pública a defesa para que a atividade econômica não seja paralisada e o apoio ao direito do cidadão de participar de protestos.
Ele também tem considerado que o tom adotado pelo Ministério da Saúde tem gerado histeria e que, neste momento, o papel do poder público deveria o ser de acalmar a população e evitar uma crise econômica, não o de estimular o pânico.
Claro, não é só economia, é sobre eleição. E Bolsonaro reclamou sobre a participação de Mandetta, na última sexta-feira (13), em uma entrevista à imprensa ao lado do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), pré-candidato à sucessão presidencial de 2022.
O presidente iria participar de reunião na capital paulista, mas, segundo aliados, Bolsonaro não imaginava que ele posaria ao lado do tucano. Desde então, Doria tem feito elogios públicos a Mandetta e afirmado que se arrependeu de ter votado em Bolsonaro.
O presidente também se irritou, de acordo com auxiliares próximos, com o fato de Mandetta não tê-lo defendido, em entrevistas à imprensa, por ter participado de manifestação a favor do governo em Brasília.
Bem, não há como defender as ações surtadas de Bolsonaro. E “surtadas” até para o padrão dele, pois os cuidados diante desta pandemia vem sendo universal.
Não só tratando o Covid-19 como fantasia, o presidente parece cada vez mais se afundar no seu mundo de fantasia e seguidores cegos. A ele, só resta mesmo calar mais alguém que fala pela ciência. E isso pode custar caro. Para todo o Brasil, ou só para Bolsonaro.
