19 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Janot admite que chorou ao pedir prisão de Genoíno

No mesmo livro, ex-procurador-geral admitiu que entrou uma vez no STF armado com uma pistola com a intenção de matar o ministro Gilmar Mendes

Em seu livro de memórias “Nada menos que tudo”, Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República, conta que o momento em que teve que pedir a prisão do ex-deputado federal e ex-presidente do PT, José Genoino, foi um dos mais dolorosos de sua passagem pelo órgão e que até chorou após o ato.

A prisão de Genoino foi pedida por Janot após o julgamento do STF (Supremo Tribunal Federal) do caso Mensalão. Ele foi condenado a seis anos e onze meses de reclusão por corrupção ativa e formação de quadrilha.

Janot disse que, apesar disso, Genoíno “não enriquecera, nem se beneficiara pessoalmente no caso” e que levava uma vida modesta, na mesma casa do bairro do Butantã, em São Paulo.

“Genoíno encarnava a luta política da minha geração e era uma espécie de ídolo para mim. Fazer uma petição que significaria sua prisão foi muito doloroso. Naquele dia, voltei para casa angustiado, e confesso que não pude conter as lágrimas, afinal, era como se estivesse aprisionando parte da minha juventude ou, em outro sentido, enterrando de vez o sonho de uma geração”. Rodrigo Janot, ex-procurador-geral da República.

Genoíno fez oposição à ditadura militar no país e atuou como guerrilheiro em organizações de esquerda. Ele participou da Guerrilha do Araguaia, uma das principais ações desenvolvidas durante a resistência à ditadura militar, e foi preso pelo Exército.

Assassinato de Gilmar

O ex-procurador-geral já admitiu que entrou uma vez no Supremo Tribunal Federal armado com uma pistola com a intenção de matar o ministro Gilmar Mendes, por causa de insinuações que ele teria feito sobre sua filha em 2017.

O ex-procurador narra o episódio num livro de memórias, lançando neste mês, sem nomear Mendes. Mas ele confirmou a identidade de seu alvo em entrevista nesta quinta. “Tenho uma dificuldade enorme de pronunciar o nome desta pessoa”.

Em maio de 2017, como procurador-geral, Janot pediu a suspeição de Gilmar Mendes em casos relacionados ao empresário Eike Batista, que se tornara alvo da Lava Jato e era defendido pelo escritório de advocacia do qual a mulher do ministro, Guiomar Feitosa Mendes, é sócia.

Segundo Janot, o ministro do STF reagiu na época lançando suspeitas sobre a atuação de sua filha, Letícia Ladeira Monteiro de Barros, que é advogada e representara a empreiteira OAS no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

“Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio àquela algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha. Só não houve o gesto extremo porque, no instante decisivo, a mão invisível do bom senso tocou meu ombro e disse: não”. Rodrigo Janot, em trecho de seu livro.

Na entrevista, ele disse que seu plano era matar Gilmar Mendes antes do início da sessão no STF. “Na antessala, onde eu o encontraria antes da sessão”, afirmou. O ex-procurador disse que não entrou no plenário do tribunal armado. Ele ainda acrescentou que pretendia se suicidar depois de matar Gilmar Mendes.