26 de junho de 2024Informação, independência e credibilidade
Alagoas

Jornalistas e pesquisadoras homenageiam o catedrático José Marques de Melo

Melo foi o primeiro doutor a defender tese sobre Jornalismo no Brasil

Marques Melo ao lado dos jornalistas Ricardo Moresi, Rossana Gaia e Magnólia Rejane, na Umesp, em 2015 (arquivo pessoal de Rossana Gaia).

O sepultamento do  jornalista e pesquisador alagoano José Marques de Melo, que  morreu em sua casa em São Paulo, nesta quarta-feira (20), vítima de um infarto fulminante,  acontece às 11 horas desta quinta-feira (21), no cemitério do Morumbi, em São Paulo.

Em Alagoas, uma série de manifestações de solidariedade à família de Marques e de homenagens póstumas vão se sucedendo nas redes sociais.  Num relato emocionado, encaminhado ao Eassim, a jornalista e pesquisadora Rossana Gaia falou da importância de Marques para o pensamento comunicacional brasileiro.
Minha experiência de convívio com o professor José Marques de Melo foi continua, de 1999, quando ainda estava no mestrado em Educação, na UFPB, e desenvolvi pesquisa na fronteira da educação com a comunicação,  até 2014, quando ele começou a reduzir as atividades em função do Parkinson.
Professor Marques  foi uma das minhas principais referências. Lembro que mandei um e-mail sem muita esperança de resposta, mas, no mesmo dia, para minha surpresa, ele tinha prontamente encaminhado uma reflexão sobre o que solicitei, esclarecendo e fazendo novas provocações. A partir de então, sempre que possível ,colaborei com o professor em pesquisas para a cátedra Unesco de Comunicação, da qual era titular, na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), em São Bernardo.
 O professor deixa um legado imenso para a Teoria da Comunicação no Brasil, mas, sobretudo, um exemplo de pesquisador incansável aberto a novas ideias e projetos. Aprendi quase tudo o que sei sobre pesquisa com ele e com a professora Magnólia Santos, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Juntos pudemos desenvolver alguns projetos interessantes a exemplo da organização de livros e de eventos.
Ele sempre me.disse que tinha pressa em executar  projetos, em função do diagnóstico precoce do Mal de Parkinson. Eu lembro que, quando tive câncer na tireóide, em 2006, e expliquei que precisava de um tempo, ele disse: mantenha o ânimo e lembre que daqui a algum tempo não perguntaremos qual.o câncer que você teve, mas quais tipos. Era assim, bem-humorado, e dizia que falávamos bem porque tínhamos bebido água do rio Ipanema.
Nas despedidas dos emails, sempre costumava enviar “saudações santanenses “. Foi esse amor.pela cidade onde moramos que nos motivou na organização do  livro Sertão Glocal, em 2010. Posteriormente, com a professora Magnolia Rejane e outras colegas organizamos um.livro sobre o pensamento comunicacional alagoano.
Foi uma.pesquisa longa e que envolveu pesquisadores de São Paulo e de Alagoas. O resultado foi um.mapeamento significativo sobre os principais nomes e instituições que consolidaram o campo comunicacional em Alagoas.
 Lembro também da  alegria do professor Marques, quando recebeu o título honoris causa na Ufal. Ele me disse que nenhum título tinha para ele a força daquela homenagem. As honrarias que recebeu em Santana também foram motivos de muito entusiasmo e emoção. Guardo na mente e no coração suas palavras e seus ensinamentos.
Compartilhar saberes, ensinar ciência de forma descomplicada, escutar com atenção com os mais jovens, ter cuidado com.ideias cristalizadas: todas essas lições ficam como referência relevante do nosso convívio.
 Especificamente sobre o Jornalismo, posso dizer que o professor foi e continua sendo referência obrigatória  pela produção teórica que realizou, mas também pelas reflexões que promoveu principalmente enquanto foi articulista da Revista Imprensa, pois promovia uma aproximação continua entre a prática jornalística e a reflexão acadêmica.  A cátedra Unesco de Comunicação também teve esse papel, na Umesp.
Enfim,  hoje é um dia de tristeza para todos nós que tivemos a honra de conviver com esse mestre da comunicação (primeiro doutor a defender tese sobre jornalismo no Brasil). Ao mesmo tempo, sabemos que o legado deixado por ele é incomensurável.
A jornalista e pesquisadora Magnólia Rejane, que sempre acompanhou o trabalho do professor José Marques de Melo, também lamentou a morte do professor José Marques de Melo e fez questão de deixar seu depoimento registrado. Miais que isso, de reforçar o compromisso de dar continuidade às pesquisas do Mestre Marques.

O professor José Marques de Melo partiu aos 75 anos de idade, mas partiu cedo. Ele ainda tinha muitos projetos e pretendia viver até 100 anos, porque havia ainda muito a realizar. Nos projetos dele, que acompanhamos de perto, Alagoas estava em primeiro lugar.

Ele se articulava com várias gerações de pesquisadores para que eles desses continuidade às ideias dele.  Em Alagoas, já existem algumas articulações nesse sentido de dar continuidade ao projeto de memória da comunicação no estado, que  ele pretendia realizar por meio das redes sociais.

O professor Marques deixou, portanto, uma trajetória de sucesso, de luta, de amor à ciência, de amor ao Jornalismo. Seu trabalho, pela profundidade, pela extensão e repercussão internacional, é um exemplo para jovens jornalistas e comunicadores em geral, que precisam dar continuidade ao trabalho dele.

Uma herança que exige de todos nós da comunidade científica o compromisso de dar continuidade a esse trabalho. Vamos honrar  essa memória trabalhando em prol da comunidade científica em Alagoas, no Nordeste e no Brasil.