7 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Lava Jato procurou contas de Gilmar na Suiça e ministro suspeita ainda mais de procuradores

Ministro do STF disse que não se surpreenderia se os procuradores da Operação Lava Jato em Curitiba tivessem aberto uma conta em seu nome

Novos diálogos da Vaza Jato mostram que procuradores da Lava Jato se mobilizaram para buscar dados até na Suíça que incriminassem o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal) para pedir sua suspeição ou impeachment. As mensagens foram publicadas na tarde desta terça (6) pelo site do jornal El País, em conjunto com o The Intercept Brasil.

De acordo com os diálogos dos procuradores, a prisão do ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, tido como o operador financeiro do PSDB, levou o grupo a buscar possíveis ligações entre o preso e o ministro.

Coordenador da força-tarefa no Paraná, Deltan Dallagnol disse que havia um boato em São Paulo que parte do dinheiro de Preto mantido em contas no exterior seria de Gilmar.

O ministro negou ter conta fora do Brasil. Não só isso: o ministro disse que não se surpreenderia se os procuradores da Operação Lava Jato em Curitiba tivessem aberto uma conta em seu nome, na Suíça.

Conversas

De acordo com a reportagem, uma das conversas ocorreu em 19 de fevereiro, quando Paulo Preto foi preso. Ele é apontado pelas investigações da Lava Jato como operador financeiro do PSDB. Na conversa, é levantada a ideia de se rastrear um possível elo entre ele e o ministro.

“Gente essa história do Gilmar hoje!! (…) “Justo hoje!!! (…) “Que Paulo Preto foi preso”, disse Dallagnol no grupo Filhos do Januário 4, que reúne procuradores da Lava Jato. Ao que o procurador Roberson Pozzobon respondeu: “Vai que tem um para o Gilmar?hehehe”, em referência aos cartões do investigado ligado aos tucanos.

Na sequência, a possibilidade de investigar o ministro é tratada com ironia. “vc estara investigando ministro do supremo, robinho.. nao pode”, escreveu o procurador Athayde Ribeiro da Costa. “Ahhhaha”, escreve Pozzobon. “Não que estejamos procurando”, ironiza ele. “Mas vaaaai que”.

Ainda segundo o jornal, Dallagnol, então, diz que o pedido à Suíça deveria ter ser específico: “hummm acho que vale falar com os suíços sobre estratégia e eventualmente aditar pra pedir esse cartão em específico e outros vinculados à mesma conta”, escreveu. “Talvez vejam lá como algo separado da conta e por isso não veio” (…) “Afinal diz respeito a OUTRA pessoa”.

Mais uma vez segundo o jornal e o site, a troca de mensagens começa porque Dallagnol comentou saber de “um boato”, que teria saído da força-tarefa da Lava Jato em São Paulo, de que parte do dinheiro mantido por Paulo Preto em contas no exterior pertenceria a Gilmar Mendes. História sobre a qual o procurador Athayde Costa questiona: “Mas esse boato existe mesmo?”.

“Pessoal da FT-SP disse que essa info chegou a eles”, respondeu o procurador Julio Noronha, segundo a reportagem, que afirma ter procurado a assessoria de imprensa da força-tarefa em São Paulo, que, por sua vez, respondeu que “jamais recebeu qualquer informação sobre suposto envolvimento de Gilmar Mendes com as contas no exterior de Paulo Vieira de Souza” e que, “se recebesse uma informação a respeito de ministro do STF, essa informação seria encaminhada à PGR [Procuradoria Geral da República]”, bem como “jamais passaria pela primeira instância para depois ir para a PGR”.

A reportagem lembra que, pelo artigo 102 da Constituição Federal, ministros do Supremo só podem ser investigados mediante autorização de outros ministros do órgão, a não ser em caso de apuração já em andamento, que seria de competência da PGR (Procuradoria-Geral da República).