O Ministério do Meio Ambiente praticamente eliminou o orçamento para implementar políticas sobre mudanças climáticas no Brasil. A pasta realizou um bloqueio de 95% dos R$ 11,8 milhões do programa.
Esta é a principal medida que bate com a iniciativa do presidente Jair Bolsonaro de retirar o país do Acordo de Paris, que estabelece metas para limitar o aquecimento global.
Bolsonaro havia desistido da saída imediata, mas a política é a mais atingida da pasta, que sofreu um corte total de R$ 187,4 milhões imposto pela equipe econômica. O montante equivale a 22,7% do valor total do orçamento não obrigatório do Ministério do Meio Ambiente, de cerca de R$ 825 milhões.
Revista Science
A confirmação dos valores dos cortes ocorre em meio à divulgação de relatório da ONU segundo o qual um milhão de espécies podem ser extintas em decorrência de diversos fatores, dentre eles a ação do homem contra a biodiversidade.
Nesta semana, o ministro Ricardo Salles cancelou um tour que faria por países europeus com participação em eventos, entrevistas para canais de TV e encontro com autoridades.
Pessoas próximos do governo atribuem o cancelamento à repercussão negativa de uma carta assinada por 602 cientistas europeus e publicada na revista Science no último dia 26, em que pedem o condicionamento de negócios europeus com o Brasil a compromissos com a redução do desmatamento e dos conflitos com povos indígenas no país.
Questionado por VEJA sobre a possibilidade de o Brasil sofrer impactos econômicos, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, respondeu: “nós não vamos ser pautados por artigo de revista nenhuma”.
Na sequência, Salles afirmou que “o Brasil tem leis para serem cumpridas. Um programa de trabalho do governo foi escolhido pela população nas eleições e, portanto, será isso o que vamos fazer. Escrever a carta é um direito que eles têm, faz parte, mas isso não vai pautar o trabalho do Ministério”.
Meio Ambiente
Em entrevista concedida ao “Roda Viva” na TV Cultura, nesta segunda-feira (11), o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, confessou que não conhece a Amazônia nem mesmo sabe sobre o líder seringueiro Chico Mendes, uma das maiores referências mundiais da causa ambiental.
O apresentador, Ricardo Lessa, questionou o que Salles falava obre Mendes e teve isso como resposta:
“Eu não conheço o Chico Mendes, escuto histórias de todos os lados. Dos ambientalistas mais ligados à esquerda, que o enaltecem. E das pessoas do agro que dizem que ele não era isso que contam. Dizem que usava os seringueiros pra se beneficiar”. Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente.
Lessa rebateu: “Se beneficiar do que? Ele é reconhecido pela ONU”. O ministro, então, disparou: “O que importa quem é Chico Mendes agora?”.
O ministro foi acusado pelo Ministério Público Federal (MP) e condenado por abuso de poder econômico e uso indevido de meios de comunicação nas eleições de 2018. Com isso, ele pode ficar inelegível por oito anos. Ricardo Salles foi candidato pelo partido Novo, à deputado federal, e não conseguiu se eleger, mas ocupa a primeira suplência para o cargo.
Ainda há ação de improbidade administrativa por suspeita de ocultação de alterações em mapas de zoneamento ambiental do rio Tietê, quando secretário de Meio Ambiente do governo de São Paulo na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB).
Ele comprou espaço para 13 anúncios no jornal O Estado de S.Paulo ao custo de R$ 260 mil, entre 30 de maio e 22 de julho deste ano. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a propaganda eleitoral era permitida a partir de 16 de agosto. Portanto, o fez de forma antecipada.
As propagandas foram consideradas “de propaganda institucional da pessoa jurídica ‘Movimento Endireita Brasil’ (que ele fundou e preside), com presença de fotografias, assinatura e nome do futuro ministro em todas elas.
Curiosamente, entre os exemplos de coincidência de suas propostas políticas estão: tolerância zero em relação à criminalidade, privatizações e combate à “velha política”.
E mais preocupante do que o crime eleitoral foi a mensagem forte que ele passava em seus conteúdos de campanha. Numa das peças, Salles dizia que balas de fuzil seriam soluções para javalis, bandidos no campo, MST e a esquerda de forma geral.
O partido Novo, após a repercussão do caso, afirmou que “não compactua com qualquer insinuação ou apologia à violência”. A sigla também disse que fez orientações ao então candidato e que não aprovava a mensagem contida na propaganda.
Triste é que o processo foi apenas por crime eleitoral, e não por incitação a violência.