20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Ministro do MEC: “Faculdades do NE devem fazer agronomia, não filosofia”

Ministério da Educação seguirá com um Olavista

Em menos de 100 dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) se viu obrigado a trocar seu segundo ministro. Nesta segunda, após diversas decisões indefensáveis, caiu o ministro da Educação, Ricardo Vélez. Infelizmente, a troca foi a dita seis por meia dúzia e o novo titular do MEC tem ligações com o Olavismo – linha de pensamento do astrólogo Olavo de Carvalho, filósofo do presidente.

Se o colombiano Vélez pedia livros didáticos sem referências bibliográficas, “corrigindo” a visão do Golpe de 64 ou ou crianças entonando o slogan da campanha de Bolsonaro, seu substituto, Abraham Weintraub,tem os mesmo pensamentos ideológicos. E vasculhando um pouco suas pegadas no passado, ele parece ter uma visão bem peculiar do Nordeste.

O novo ministro da Educação,  avalia que universidades do Nordeste não deveriam oferecer cursos de disciplinas como sociologia e filosofia. Para ele, esses deveriam priorizar o ensino de agronomia, “em parceria com Israel”, defendendo seu ponto de vista numa transmissão ao vivo, pela internet, em setembro do ano passado, ao lado de Luis Philippe Bragança, hoje deputado federal pelo PSL de São Paulo:

“Eu vi aqui alguns comentários do Nordeste. O plano de energia é Nordeste na veia. O plano de energia que a gente tá fazendo, fotovoltaico e eólico, é porrada no desemprego. Rápida geração de renda. E é Nordeste, por causa da questão solar. Em Israel, o Jair Bolsonaro tem um monte de parcerias para trazer tecnologia aqui para o Brasil. Em vez de as universidades do Nordeste ficarem aí fazendo sociologia, fazendo filosofia no agreste, devem fazer agronomia, em parceria com Israel. Acabar com esse ódio de Israel. Israel, nas faculdades federais, é loucura o que você escuta, né?”. Abraham Weintraub, novo ministro do MEC.

Vélez, demitido, tinha a ideia de restringir acesso às universidades para uma elite intelectual. Weintraub vai além e retira a região Nordeste deste merecimento. Aqui, Faculdades não devem perder tempo com outras coisas que não com agronomia. E infelizmente isso ele falou mesmo. Não é uma campanha de fake news e isso é uma pena.

Está na internet!

Em dezembro, durante a Cúpula Conservadora das Américas, evento organizado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Weintraub defendeu o uso das teorias de Olavo para “derrotar a esquerda” e em agosto do ano passado, o Estadão noticiou sobre sua tocada contra o “comunismo e o Foro de São Paulo”.

“Durante o século XX, mais da metade das pessoas do mundo viveram sob alguma forma de terror. Hoje, a América do Sul, e o Brasil em particular, faz parte do espaço vital de uma estratégia clara para a tomada de poder por grupos totalitários socialistas e comunistas. Eu não acreditava nisso. Achava que era teoria da conspiração. Todavia, está tudo documentado! O Foro de São Paulo é uma realidade! As FARC eram convidadas de honra. O crack foi introduzido no Brasil de caso pensado. Vejam os arquivos, está na internet!”. Abraham Weintraub, novo ministro do MEC, em agosto de 2018.

A educação brasileira merece melhor que isso. E a inexperiência em políticas e gestão educacionais de Abraham Weintraub pesarão no cenário de paralisação que caracteriza a pasta há quase cem dias. Um diagnóstico divulgado ontem pela organização Todos Pela Educação indica que de sete temas considerados prioritários o país na área, cinco não avançaram nos últimos três meses.