2 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

MPF quer anular prêmio e exonerar funcionários nomeados por Alvim

Segundo procuradora, deve-se concluir que Alvim levou para essa Cultura a compreensão estética “que tão desabridamente revelou no vídeo”

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do Ministério Público Federal, ingressou com uma representação pedindo a nulidade do edital que lançou o Prêmio Nacional das Artes, bem como a exoneração de todos os funcionários nomeados pelo então secretário Especial da Cultura, Roberto Alvim, durante o período em que ele esteve à frente do órgão.

Na representação encaminhada, nesta segunda-feira (20), à Procuradoria da República no Distrito Federal, a PFDC cobra ainda a responsabilização administrativa e criminal do então secretário Roberto Alvim.

No documento encaminhado à Procuradoria da República no DF, a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, destaca que as ações de responsabilização do ex-secretário busca tornar evidente que não há espaço, no Estado brasileiro, “para flertes com regimes autoritários que fizeram da superioridade racial política de governo”.

Segundo a Procuradora, deve-se concluir que, no período em que ocupou o cargo de secretário de Cultura, Alvim levou para essa área a compreensão estética “que tão desabridamente revelou no vídeo”.

“Suas implicações são tamanhas que é possível concluir que o ex-secretário orientou toda a sua gestão inspirado pelo ideário anunciado. Nesse sentido, as nomeações que realizou devem ser declaradas nulas, porque não é possível conviver com a dúvida de que subsistam, naquela secretaria especial, pessoas que sigam adiante com os mesmos propósitos”. Representação do MPF.

Citação ao nazismo

Um vídeo foi postado pela Secretaria Especial da Cultura do governo Bolsonaro para divulgar o Prêmio Nacional das Artes, lançado horas antes em live com a participação do próprio presidente, e o trecho nazista é altamente indentificável.

“A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada”. Joseph Goebbel Ministro de cultura e comunicação de Hitler.

O trecho faz parte de um pronunciamento para diretores de teatro, segundo o livro “Goebbels: a Biography”, de Peter Longerich. Já Alvim, no vídeo, não foi muito longe:

“A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada”. Roberto Alvim, secretário de Cultura de Bolsonaro.

Além dos trechos do pronunciamento, a estética do vídeo, a aparência do secretário, o vocabulário, o tom de voz e a trilha sonora escolhida também fizeram várias personalidades compararem a divulgação à propaganda nazista.

Semelhanças em vídeos de Alvim e Goebbles são mais que mera coincidências

A fala de Alvim levou o nome de Goebbels a ser um dos mais citados no Twitter durante a madrugada e fez com que centenas de internautas repudiassem a referência nazista e postassem comparações com a propaganda de Hitler.

O pronunciamento de Alvim foi gravado em uma sala que tem o retrato do presidente Jair Bolsonaro ao fundo, a bandeira brasileira de um lado e uma cruz do outro.

Como se não fosse o bastante, uma das músicas de fundo, que veio da ópera “Lohengrin”, de Richard Wagner, era uma obra que Hitler contou em sua autobiografia ter sido decisiva em sua vida.