19 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Novos diálogos de Deltan mostram preocupação com provas fracas no TRF-4

Deltan discutiu voto do desembargador João Pedro Gebran Neto, com o próprio magistrado

Deltan e Gelbran nas conversas do The Intercept

Novos diálogos obtidos pelo site The Intercept Brasil e analisados e divulgados nesta sexta-feira (12) pela revista Veja mostram que o procurador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, manteve contato com um dos membros do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). O órgão é responsável por julgar em segunda instância os processos da operação no Paraná.

Nas conversas, Deltan cita o desembargador João Pedro Gebran Neto, relator dos casos da operação e mostra preocupação com uma possível absolvição, por ‘provas fracas’, de Adir Assad, um dos operadores de propinas da Petrobras e de governos estaduais, preso pela primeira vez em março de 2015.

Assad foi condenado por Moro a nove anos e dez meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha.

Cinco meses antes do julgamento do caso em segunda instância no TRF-4, Deltan Dallagnol escreveu em um grupo de integrantes do Ministério Público Federal mantido no aplicativo Telegram: “O Gebran tá fazendo o voto e acha provas de autoria fracas em relação ao Assad”. O suposto diálogo mostra que o procurador tinha informações antecipadas sobre o voto do desembargador.

Conforme a Veja, a preocupação de Deltan também é manifestada no dia 5 de junho de 2017 em mensagem enviada ao procurador Carlos Augusto da Silva Cazarré, da força-tarefa da Procuradoria Regional da República da 4ª Região, que atua junto ao TRF-4. A força-tarefa negociava com o condenado um acordo de delação (esse acordo seria fechado em 21 de agosto de 2017) e Deltan temia que a absolvição fizesse Assad recuar sobre a delação.

“Cazarré, tem como sondar se absolverão assad? (…) se for esse o caso, talvez fosse melhor pedir pra adiar agilizar o acordo ao máximo para garantir a manutenção da condenação…”, escreve Deltan. “Olha Quando falei com ele, há uns 2 meses, não achei q fisse (sic) absolver… Acho difícil adiar”, responde Cazarré. Em seguida, o procurador da Lava Jato cita novamente o desembargador “Falei com ele umas duas vezes, em encontros fortuitos, e ele mostrou preocupação em relação à prova de autoria sobre Assad…”.

Ainda conforme a Veja, as provas de autoria que Gebran, a princípio, teria considerado “fracas” são depósitos feitos por ex-empresas de Assad em contas do próprio Assad, que se defendia dizendo que já tinha as empresas à época em que foram usadas para escoar dinheiro desviado da Petrobras.

Na decisão condenatória, Moro avaliou que Assad permanecia comandando as empresas e, por isso, deveria ser responsabilizado. Ao confirmar a condenação, em 27 de junho de 2017, Gebran acrescentou em sua decisão depoimentos da delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa. O voto de Gebran foi seguido pelos outros dois desembargadores da Oitava Turma do TRF-4.