28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
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O ovo da serpente sendo gestado: bandido bom é bandido morto

A sociedade doente tem orgasmos múltiplos com o sangue escorrendo

A irracionalidade coletiva toma conta da sociedade de um jeito que defender a lei para punir malfeitores e bandidos virou uma aberração.

Doente, a sociedade quer sangue. Adora um linchamento de ladrão de galinha e a execução sumária de ladrões de bancos ou de outra quadrilha qualquer.

Prender, na forma da lei, e entregar à justiça é frouxidão. Quem apoia o princípio legal é de imediato rotulado de defensor de bandido e, ao mesmo tempo, agredido verbalmente – até então – e de forma mais que solene.

Hoje o importante para essa gente é o sangue escorrendo. Todos querem sangue. Dos outros.

A doença é tamanha que as pessoas têm orgasmos múltiplos com pilhas de corpos estendidos no chão, perfurados de balas. E essas imagens logo ganham as redes sociais com relatos de prazer inenarráveis.

O mínimo que se diz, até por autoridades, é que “bandido bom é bandido morto”. Embora, muitas vezes, a autoridade a pregar a barbárie vive a mergulhar nas piscinas dos chefes da bandidagem, bem instalados em suas casas espelhadas nos ricos condomínios.

Prega-se a história da limpeza social, em nome dos “homens de bem”, que não resistiriam a uma coleta de dados sobre os bens que detêm.

Fato é que o ovo da serpente está sendo gestado em um momento delicado, sobre todos os aspectos, que o País vive. Tanto que autoridade nenhuma se propõe a discutir e o cidadão comum tem medo de expor seu censo crítico, para não ser trucidado pelo senso comum.

E não é  pra menos. Há muita gente querendo licença para matar. Investem nessa tese como a solução para resolver os problemas de segurança de forma mais rápida e fácil.

O caso dos 11 bandidos mortos em “confronto” com as forças policiais em Santana do Ipanema, esta semana, remete a tudo isso. E o argumento que mais reforça o fato está na nota da Associação da Policia Civil de Alagoas (ASPOL), quando diz que “a ação policial, além de legítima, foi montada com a integralização das polícias atendendo assim os anseios da contemporaneidade da Segurança Pública”.

O problema está exatamente “nos anseios de contemporaneidade” dessa nova ordem que choca o ovo da serpente.

O que estamos vendo, na verdade, é a decadência da civilização.  Triste.

Ou talvez aquele poeta lá atrás tenha razão: ‘sabe, no fundo eu sou um sentimental’…