26 de junho de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Paulo Guedes surta em evento de investidores e ataca os EUA

Os Estados Unidos são o terceiro maior comprador de produtos brasileiros

Paulo Guedes ataca os americanos e a Europa em evento nos EUA

Enquanto parte do governo compra briga com a China, Paulo Guedes decidiu bater de frente com os Estados Unidos. O ministro da Economia não gostou ao ser questionado sobre a política ambiental do governo de Jair Bolsonaro durante o evento Aspen Security Forum, organizado por um think tank americano.

“Entendemos a preocupação de vocês (norte-americanos), porque vocês desmataram suas florestas”, disse Guedes ao falar do tema. Ele continuou: “Vocês querem nos poupar de desmatar a floresta, como vocês desmataram as suas. Sabemos que vocês tiveram guerras civis, também tiveram escravidão, e só pedimos para que vocês sejam amáveis como somos amáveis. Vocês mataram seus índios, não miscigenaram”.

O ministro ainda fez críticas ao que chamou de dança “bochecha com bochecha” de americanos com os chineses. “Nem um brasileiro bêbado ousaria alavancar o sistema bancário 36 vezes como os EUA”, completou, em referência à crise bancária de 2008.

O evento foi organizado pelo Aspen Institute, um think thank conhecido por reunir personalidades de todo e teve a participação de investidores, empresários, diplomatas e acadêmicos. O Aspen Security Forum teve três dias de eventos com autoridades do governo americano, diplomatas e representantes do alto escalão de organismos multilaterais, como Tedros Adhanom Ghebreyesus, da Organização Mundial da Saúde (OMS), e de governos de outros países, como China e Singapura. Em razão da pandemia, o fórum foi online e gratuito.

Guedes, que chegou a ser cortado em sua resposta final, também lançou o argumento da soberania nacional para dizer que a Amazônia é um assunto que diz respeito ao Brasil. “Os militares estão dizendo, obrigado pela preocupação, mas essa é nossa terra. Não precisamos desmatar a Amazônia para produzir produtos agrícolas”, acrescentou. O Brasil vem sendo pressionado por investidores internacionais e grandes empresas a tocar uma agenda ambiental e enfrentar o desmatamento, uma demanda que também vem de uma sociedade cada vez mais consciente.

Em outro evento, mais cedo, Guedes reclamou de críticas de países europeus à política ambiental do governo de Jair Bolsonaro. “França, Holanda e Bélgica usam desculpa ambiental para impedir o Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). É como acusarmos a França de queimar catedrais góticas, foi um acidente”, afirmou, em referência ao incêndio da Catedral de Notre-Dame, em Paris, no ano passado. Guedes também disse que o Brasil quer se integrar nas cadeias globais e avaliou que os Estados Unidos são um parceiro natural. Ainda assim, o ministro criticou a política econômica americana nas últimas décadas.

“Os EUA e a China têm dançado juntos nos últimos 30 anos. Os chineses pobres têm financiado o consumo exagerado nos EUA todo esse tempo. Nem um brasileiro bêbado ousaria alavancar o sistema bancário 36 vezes como os EUA”, afirmou.

Os Estados Unidos são o terceiro maior comprador de produtos brasileiros, de acordo com os dados da balança comercial do primeiro semestre, atrás da China e da União Europeia. Os americanos responderam por 10% de tudo que foi exportado pelo Brasil. Por causa da pandemia, houve uma queda de 31,% na venda de produtos para os Estados nos primeiros seis meses do ano.

Contrariado por perguntas sobre a política brasileira, Guedes respondeu que o Brasil tem uma democracia vibrante e respeita o Estado de Direito. “Nós gostamos da democracia, ao contrário do que os perdedores da última eleição têm dito pelo mundo”, completou.

Diversos veículos de imprensa internacionais publicaram longos artigos e reportagens com duras críticas à resposta do presidente Jair Bolsonaro à crise gerada pelo novo coronavírus e à política ambiental do governo. Guedes negou que a saída do governo do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, tenha enfraquecido o combate à corrupção no Brasil. “Eu convidei Sérgio Moro para o governo, uma semana depois da eleição. Eu era um grande admirador de Moro, somos todos favoráveis à operação Lava Jato. Não se pode falar que Bolsonaro foi eleito por causa do Moro, não teve esse efeito”, afirmou.

Segundo o ministro, o presidente Jair Bolsonaro continua lutando contra a corrupção sem Moro no governo. “Hoje você não consegue governar se não se identificar com o establishment de alguma forma. O presidente Bolsonaro apoia o processo de desestatização do Brasil que estamos fazendo. A corrupção já diminuiu, mas só vai acabar quando alterarmos o modelo econômico do Brasil”, afirmou. Guedes lembrou que qualquer ministro, inclusive ele, pode ser substituído pelo presidente. “Houve um problema de interpretação entre Bolsonaro e Moro, assim como com o ministro da saúde (Luiz Henrique Mandetta)”, completou.