21 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Represália: Petrobras cancela contrato com presidente da OAB

Bolsonaro abriu polêmica ao dizer que “sabe como o pai de Felipe Santa Cruz tinha desaparecido na ditadura militar”

A Petrobras enviou nesta terça (6) uma carta ao escritório de advocacia do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, comunicando que está cancelando o contrato que mantinha com ele.

O escritório atuava em causas trabalhistas e no ano passado venceu uma causa estimada em R$ 5 bilhões, que seriam pagos como horas extras atrasadas a funcionários embarcados nas plataformas de petróleo da estatal.

“Era uma ação rescisória, algo como ressuscitar alguém que morreu. Eu salvei a empresa na causa trabalhista mais grave que ela já enfrentou. Há claramente uma perseguição política em curso”. Santa Cruz, presidente da OAB.

Ele afirma que entrará na Justiça com uma ação para reparação de danos. O advogado foi atacado na semana passada por Jair Bolsonaro.

Ao reclamar que a entidade tinha entrado com uma ação para impedir a quebra do sigilo telefônico do defensor de Adélio Bispo, que o esfaqueou na campanha eleitoral do ano passado, o presidente afirmou que, se Santa Cruz quisesse saber como o pai, Fernando Santa Cruz, desapareceu durante a ditadura militar, poderia contar.

Depois, afirmou que Fernando Santa Cruz foi morto por militantes de esquerda. O presidente da OAB foi ao STF (Supremo Tribunal Federal) pedir esclarecimentos de Bolsonaro, que tem duas semanas para explicar suas afirmações.

Ditadura

Felipe é filho de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, integrante do grupo Ação Popular (AP), organização contrária ao regime militar. Ele foi preso pelo governo em 1974 e nunca mais foi visto. Em 2012, no livro “Memórias de uma guerra suja”, o ex-delegado do Dops Cláudio Guerra revelou que o corpo de Fernando foi incinerado no forno de uma usina de açúcar em Campos.

Entretanto, nesta segunda (29), Bolsonaro disse que pode “contar a verdade” sobre como o pai de Santa Cruz desapareceu na ditadura militar.

“Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, eu conto pra ele. Ele não vai querer ouvir a verdade”. Jair Bolsonaro, presidente.

Depois, Bolsonaro voltou a se manifestar, em transmissão ao vivo no Facebook, enquanto cortava o cabelo, para dizer que Fernando fazia parte do “grupo terrorista mais sanguinário que tinha”. Ele também negou que o pai do presidente da OAB tenha sido morto pelas Forças Armadas.

“Ninguém duvida que havia ‘justiçamentos’ de pessoas da própria esquerda. Quando desconfiavam de alguém, simplesmente executavam. Essa é a minha versão, do contato que tive com quem participou ativamente do nosso lado naquele momento para evitar que o Brasil se transformasse numa Cuba.” Jair Bolsonaro.