20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Zambelli quer foco contra Lula, pede retorno de Bolsonaro e nega assinar Brasileirinhas

Deputada federal também nega ter incentivado 8 de janeiro e pede cessar-fogo estratégico contra o STF e “maldades de Moraes”

Até mesmo para um bolsonarista, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) possui uma coletânea imensa de polêmicas e atitudes questionáveis (algumas até mesmo criminosas). Situações que fariam o vazamento de sua assinatura do site pornô nacional Brasileirinhas ser fichinha. Que ela prontamente negou.

“Embora sequer houvesse necessidade de comentar sobre supostos gastos pessoais, chega a ser esdrúxulo ter que vir a público desmentir fatos tão absurdos”, afirmou a parlamentar, que denunciou no Twitter o grupo EterSec por fake news.

Curiosamente, sua colega Bia Kicis (PL-DF) afirma que “fake news são apenas verdades inconvenientes“. Partido desse pressuposto, fica a curiosidade da conservadora Zambelli estar (ou não) assinando um site pornô, após tantos discursos conservadores.

Na prática, sabe-se que quando alguém faz um combate político/religioso muito forte, deve-se desconfiar. Geralmente ciumentos traem, homofóbicos estão presos no armário e quem fala “bandido bom é bandido morto” logo pede Direitos Humanos quando os criminosos estão do seu lado.

Por isso não deixa de ser curioso o fato ou factóide de Zambelli assinar Brasileiras. Logo ela que, em 2012, fazia parte do grupo ucraniano Femen no Brasil. Entre as pautas do grupo, legalização do aborto, protesto topless forte discurso feminista.

Sara Winter e Carla Zambelli em protesto do grupo Femen em São Paulo, em 2012

Uma colega de Zambelli no Femen, inclusive, foi Sarah Winter, outra que mudou completamente e passou o extremismo da esquerda para o da direita. E nas voltas que o mundo dá, Winter foi presa pela PF em 2020, após atos terroristas com seu grupo 300 do Brasil, e hoje não quer ver Bolsonaro nem pintado de ouro: ‘se ele mandar comer merda, eles comem’.

Zambelli fala

Se outras aliadas de Bolsonaro ficaram pelo caminho, com Sarah Winter e também a ex-aliada Joice Hasselmann (que durante depoimento em CPI, praticamente, a ainda bolsonarista de ser ex-garota de programa), Carla Zambelli persiste.

Com seus perfis nas redes sociais bloqueados por causa do inquérito das fake news, Zambelli foi uma das poucas deputadas e discursar nos acampamentos em frente aos quartéis, incitando o que eventualmente aconteceu no 8 de janeiro, na Praça dos Três Poderes. Ela, claro, nega qualquer participação em tentativa de golpe.

“Tomaram minhas redes em novembro. Eu soube no dia 7 que as pessoas subiriam para a Esplanada. Conversei com várias pessoas pedindo cautela. Não me sinto culpada pelo dia 8”, afirma a deputa em entrevista à Folha. No entanto, ela assume o erro “político” ao sacar a arma para um negro desarmado na véspera do segundo das eleições.

“Errei politicamente, deveria ter evitado aquele início de briga”, afirmou a deputada que apesar de ter sentido “atingir” Bolsonaro com o episódio, ainda não tem certeza se aquilo influenciou na derrota pra Lula. Vale constar que Bolsonaro perdeu para menos de 1% dos votos e o ex-presidente culpa até hoje Zambelli por tudo de ruim que acontece em sua vida.

Leia mais: Bolsonaro diz que tudo de mal na vida dele é culpa de Zambelli

Ainda assim, Zambelli pede o retorno de Bolsonaro ao Brasil, pois ela acredita que só ele pode aglutinar uma verdadeira oposição contra Lula. E que ele dever ser candidato em 2026, com diante do risco de prisão ou perda de direitos políticos, deveriam pensar em alternativas. “Tem que ter Bolsonaro, Michelle, os filhos do Bolsonaro, Tarcísio e outros”, projeta a deputada.

A despedida de Bolsonaro foi numa live em 30 de dezembro, dois dias antes do fim de seu mandato e da posse de Lula. E só ali Zambelli ficou convicta de que não teria mais contestação: “vendo a live, cheguei a passar mal, porque tive certeza naquele momento de que não ia acontecer mais nada, para mim ficou claro, mas para várias pessoas que continuaram nos quartéis não”, disse a deputada que não ser ser associada a tentativa de golpe.

Lula e STF

Ainda aliada de Bolsonaro, Zambelli projeta forte oposição ao governo Lula. Tanto que, para isso, ela pede uma suspensão aos ataques contra o STF. De forma estratégica, pois sabe que se um ministro for retirado, o substituto seria colocado por Lula.

“Bolsonaro não ganhando, a gente tem que virar a chave. Pode entrar uma pessoa que faça as maldades do Alexandre de Moraes parecerem uma criança chupando picolé”, diz a deputada federal que está na expectativa de ser presa.

Convicta de que as eleições não foram limpas, apesar de não tocar no assunto “pra não ter que pagar multa de R$ 20 mil”, Zambelli narrou que cerca de 30 pessoas questionaram o resultado das urnas com ela em um Spa de luxo. “Se ainda tem algo a ser feito, talvez seja voltar a falar sobre voto impresso”, insiste a deputada que sacou uma arma na véspera das eleições.

Sua estada no spa de luxo, aliás, é simbólica: afirmando fazer tratamento contra fibromialgia, Zambelli criticou a primeira-dama Janja por estar na Bahia durante a tragédia das chuvas em São Paulo – sem saber que o presidente havia interrompido a folga do Carnaval para visitar o local dos deslizamentos. Zambelli é deputada federal pro São Paulo e não foi até lá – tal qual seu mito.

À frente até mesmo de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em votos, Zambelli no Brasil só teve menos votos (946.244) que Nikolas Ferreira (PL-MG) e Guilherme Boulos (PSOL-SP). Estava com suas redes suspensas desde 1º de novembro, mas Moraes os colocou de novo no ar – com a ressalva de pagar multa de R$ 20 mil se houver publicações contra a democracia.