19 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Ações na Receita, Coaf e PF provocam conflitos internos no PSL

Bombardeado por críticas redes sociais, uma ala do partido vem se queixando e já ameaça contrariar indicações do governo em votações no Congresso

O líder do PSL na Câmara, delegado Waldir (PSL-GO), já foi acusado de de estar portando arma dentro da Casa durante CCJ da reforma da Previdência

Até mesmo dentro do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, encontra repercussões negativas nas interferências do chefe do Executivo em órgãos como Receita, Coaf e Polícia Federal. Além disso, a relutância de Bolsonaro em definir o que vai fazer com o projeto que pune o abuso de autoridade é mais um fator para incomodar seus aliados.

Bombardeado por críticas redes sociais, uma ala do partido vem se queixando e já ameaça contrariar indicações do governo em votações no Congresso.

Alguns deles são Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), que já afirmaram não votari mais com o governo caso discordassem da posição do Planalto. E ao líder Delegado Waldir (PSL-GO) já foi pedido que sempre reúna a bancada para deliberação antes de orientar os votos em plenário.

Há ainda quem cutuque o presidente sobre a diferença do esforço e empenho dele nas defesas do pacote anticrime com suas falas sobre Flavio Bolsonaro (RJ), de acusações na Justiça, e Eduardo, o 03 que quer ser embaixador nos EUA. Para eles, se fosse mais atuante, o pacote já teria até sido aprovado.

“Quem manda sou eu”

O caso da demissão do Superintendente da Polícia Federal do Rio de Janeiro, Ricardo Saadi, denota exatamente como as coisas estão funcionando na órbita do poder: a necessidade que tem o presidente da República Jair Bolsonaro e seus ministros de perseguir quem pensa em política de Estado e não apenas de governo.

Saadi foi quem autorizou a investigação do Caso Queiroz, pela Federal, após a operação abafa protagonizada pela polícia civil carioca, em grande parte comprometida com as ações criminosas dos milicianos, cujos líderes e a maioria dos integrantes são militares e ex-militares que atuam no crime organizado do Rio de Janeiro.

O caso Queiroz é emblemático para Bolsonaro por que envolve diretamente o filho dele, o senador Flávio Bolsonaro, acusado de ter usado uma rede de “laranjas” para desviar recursos da Assembleia Legislativa do Estado de lá. O operador do esquema era o amigo pessoal do próprio Jair Bolsonaro, Fabrício Queiroz.

Uma vez flagrado o esquema de corrupção envolvendo o filho do presidente e até a primeira dama Michelle Bolsonaro, que recebeu R$ 24 mil das mãos  de Queiroz (dinheiro oriundo dos cofres do Legislativo carioca), a primeira medida tomada pela família presidencial foi dar sumiço a Queiroz, para que este não tivesse que depor no Ministério Público.

Por tudo isso, o superintende da PF no Rio não foi perdoado. Bolsonaro disse que quem manda é ele. Pelo jeito até nas investigações da PF, que antes era uma instituição com autonomia. Talvez, em nome disso alguns delegados, contra a ingerência indevida, estão ameaçando pedir demissão. Lógico que não o farão. É só gritaria.

Coaf agora é UIF

A transferência do Coaf, órgão de inteligência financeira do governo, para o Banco Central, também enfrenta resistência interna, agora dos funcionários da instituição. O Coaf mudou de nome, para UIF (Unidade de Inteligência Financeira). Antes, só funcionários de carreira poderiam fazer parte do órgão. O presidente Jair Bolsonaro derrubou a regra.

“Temos que preservar o BC. Ele está assumindo uma instituição que não tem a mesma estrutura sólida e que estará sujeita a interferências políticas. É um enorme risco. O nome do BC estará envolvido, mas o trabalho da UIF será feito por pessoas de fora. O banco estará na berlinda, pode sofrer críticas por ter que se meter em assunto que não é exatamente dele”. Paulo Lino Gonçalves, presidente do sindicato dos funcionários da instituição.

A UIF já é considera como “um primo esquisito que chega na sua casa”, que não dá para se responsabilizar pelo o que ele faz. A Receita Federal também resiste:

“A troca de informação entre os órgãos federais de controle acabou com a ida do Coaf para as mãos de gente do mercado. A Receita não vai mandar mais nada para lá. E o que vier dele será recebido com desconfiança”. Kleber Cabral, presidente do Sindifisco, que representa os auditores fiscais.

A Unidade de Inteligência Financeira será “responsável por produzir e gerir informações para a prevenção e o combate à lavagem de dinheiro, ao financiamento do terrorismo, ao financiamento da proliferação de armas de destruição em massa e promover a interlocução institucional com órgãos e entidades nacionais, estrangeiros e internacionais que tenham conexão com a matéria”.

O colegiado é formado por um conselho deliberativo, com:

  • um presidente e, no mínimo, oito e, no máximo, 14 conselheiros, escolhidos entre “cidadãos brasileiros com reputação ilibada e reconhecidos conhecimentos em matéria de prevenção e combate à lavagem de dinheiro ao financiamento do terrorismo ou ao financiamento da proliferação de armas de destruição em massa”;
  • e um quadro técnico-administrativo composto por uma secretaria executiva e diretorias especializadas. Caberá ao presidente do BC escolher o presidente do colegiado e seus conselheiros”.

A MP prevê também, entre outras medidas, que a transferência dos servidores e empregados em exercício no Coaf para a unidade financeira não implicará alteração remuneratória.

Por ter sido criada via Medida Provisória, o texto da transferência tem 120 dias para ser aprovada no Congresso Nacional a fim de entrar em vigor de forma definitiva. Caso contrário, perde a validade.

Os funcionários do Coaf serão transferidos junto à mudança. No entanto, o atual presidente, Roberto Leonel, apadrinhado do ministro Sergio Moro, deverá ser demitid