25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Não é mais ministro: Bebianno é finalmente demitido por Bolsonaro

Ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência e ex-presidente do PSL, Bebianno se envolveu no escândalo dos laranjas e foi chamado de mentiroso tanto por Carlos Bolsonaro quanto pelo presidente

Gustavo Bebianno (PSL), ministro da Secretaria-Geral da Presidência, foi finalmente demitido, de forma oficial, do cargo pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), em mais uma etapa daquela que se torna a maior crise enfrentada pelo governo menos de dois meses depois da posse.

O impasse sobre a saída do ministro se arrastou por quase uma semana. A decisão foi oficializada na tarde desta segunda (18) pelo porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, em declaração à imprensa.

“O excelentíssimo senhor presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, decidiu exonerar nesta data do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência o senhor Gustavo Bebianno Rocha. O presidente agradece sua dedicação à frente da pasta e deseja sucesso na nova caminhada”. General Otávio do Rêgo Barros, porta-voz do presidente Jair Bolsonaro.

A razão dada foi “de foro íntimo do nosso presidente”.

A expectativa é que a exoneração de Bebianno seja publicada na edição regular do Diário Oficial da União desta terça (19). Seu sucessor deverá ser o atual secretário-executivo da pasta, general Floriano Peixoto.

“Bolsonaro é louco”

Antes de sua saída oficial, Gustavo Bebianno, já falava com o ressentimento de quem está fora do governo Bolsonaro. Apesar de antes dizer ter carinho pelo presidente, ele não culpa mais Carlos, ou “pimpolho”, por toda a crise.

“O Jair é o problema. Ele usa o Carlos como instrumento. É assustador. Tenho vergonha de ter acreditado nele. É uma pessoa louca, um perigo para o Brasil.” Gustavo Bebianno, ex-presidente do PSL e ainda ministro da Secretaria-Geral da Presidência.

O ex-ministro, por sua vez, enxerga no vereador uma pedra no sapato do presidente, duvidando até mesmo de sua capacidade intelectual. O ministro pode guardar cartas na manga com o potencial de expor Carlos, inclusive com consequências para o pai.

Pessoas próximas dizem que ele não terá receio em fazer isso. O alvo não é o presidente, mas sim seu filho.

Em outro dos desabafos, Bebianno revelou sobre a grande mágoa de trabalhar na pré-campanha da eleição, ao lado do agora presidente Jair Blsonaro, do que ter ficado ao lado de seu pai, que estava morrendo.

“Meu pai disse que era para eu trabalhar pelo Brasil, fazer o bem. Eu deixei de estar com meu pai na morte dele para estar com o Jair”. Gustavo Bebianno.

Na tarde desta segunda, ele relatou ainda pelo menos dois amigos próximos que está recebendo ameaças por meio de seu número de WhatsApp. Elas teriam começado a ser feitas no domingo (17). Bebianno estuda denunciar o fato às autoridades, como a PGR (Procuradoria-Geral da República).

Desde que começou a crise envolvendo a permanência do ministro no cargo, o telefone dele foi espalhado em grupos de redes sociais. As ameaças, então, começaram a ser disparadas.

Um dos interlocutores de Bebianno diz acreditar que 99% das ameaças são “bravatas” de “bolsominions”, como são chamados os apoiadores mais radicais do presidente Jair Bolsonaro (PSL) nos meios de oposição.

Laranjas

Aliados do presidente lembravam que a demissão, em crise exposta nas redes sociais, fragilizaria a imagem do governo perante o Congresso e a opinião pública. E isso poderia colocar em risco uma das prioridades de sua gestão: a aprovação da reforma da Previdência, que será apresentada na semana que vem.

A gota d’água para Bolsonaro, que recebia recomendações para manter o aliado no governo, foi o vazamento de diálogos privados entre Bolsonaro e Bebianno, exclusivos da Presidência, ao site O Antagonista e à revista Veja.

Ele então fora chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro, filho mais velho, vereador no Rio de Janeiro e estrategista digital de Bolsonaro – embora ainda sem cargo oficial. No Twitter, Carlos postou no Twitter que Bebiano mentiu ao jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes na véspera. O vereador chegou a divulgou um áudio do Presidente como prova.


Bolsonaro, que havia acabado de receber alta após 17 dia internado, resultado da reversão da colostomia, apoiou a decisão do filho e chegou a compartilhar suas mensagens. E em entrevista na Record, confirmou que não falou com o ministro.

E mais: determinou a abertura de inquérito da Polícia Federal sobre o esquema de candidaturas laranjas de seu partido e que, se Bebianno estivesse envolvido, “o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens”, ou seja, deixar o governo.

Aliados de Bolsonaro querem que o filho Carlos reduza o tom de postagens nas redes sociais que possam comprometer o governo. Desde quarta, ele tem publicado apenas mensagens de ações governamentais e, inclusive, um elogio a Mourão, a quem já dirigiu diversas críticas recentemente.

A avaliação é a de que Carlos, que tem um temperamento considerado difícil, pode até, temporariamente, reduzir o tom das críticas a integrantes do governo nas redes sociais, mas que é impossível afastá-lo definitivamente.

Laranjas

A primeira denúncia sobre os laranjas do PSL mostrou que o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, patrocinou um esquema de candidaturas de fachada em Minas que também receberam recursos volumosos do fundo eleitoral do PSL nacional e que não tiveram nem 2.000 votos, juntas.

Parte do gasto que elas declararam foi para empresas com ligação com o gabinete de Álvaro Antônio na Câmara dos Deputados. Após essa revelação, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, afirmou que esse caso deveria ser investigado. O ministro do Turismo balançou, mas não caiu.

O grupo do atual presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), recém-eleito segundo vice-presidente da Câmara dos Deputados, criou uma candidata laranja em Pernambuco que recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. O dinheiro foi liberado por Bebianno.

Maria de Lourdes Paixão, 68, que oficialmente concorreu a deputada federal e teve apenas 274 votos, foi a terceira maior beneficia.

Já nesta semana, a Folha revelou ainda que Bebianno liberou R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada —sem maquinário para impressões em massa. O ministro nega qualquer irregularidade.

E depois da troca de áudios no Twitter, e uma ajuda inadvertida de Carlos Bolsonaro, desafeto de Bebiano, o então ministro e ex-presidente do partido do presidente, caiu. E atirando, como visto em sua postagem no Instagram, com um texto sobre “lealdade”.