Até a manhã desta segunda (18), o presidente Jair Bolsonaro ainda não se manifestou sobre a Anvisa ter aprovado as primeiras vacinas no Brasil. Não poderia ser diferente: inimigo de João Doria, o presidente politizou a pandemia e chegou até mesmo a levantar dúvidas sobre a “vacina chinesa”.
“Morte, invalidez, anomalia. É a vacina q o Dória queria obrigar os paulistanos. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, disse o presidente após um voluntário da Coronavac cometer suicídio. O caso não teve relação com o estudo, mas Bolsonaro já estava convicto de que não compraria a vacina.
Nesta sexta-feira, o Ministério da Saúde “solicitou” todas as 6 milhões de doses da Coronavac, a mesma vacina que Bolsonaro passou um semestre falando mal. E que se recusa a tomar.
Tanta picuinha, que além de abrir espaço para Doria se exibir (não custa lembrar: ele foi eleito se achando um “BolsoDoria”), prejudica a percepção da população.
Não é de hoje. Desde os primeiros relatos da pandemia no mundo, o presidente vem minimizando sua gravidade. Além de mentir sobre tratamentos que não funcionam, sabotar ações de prevenção e negar que tenha errado ao falar absurdos como “não sou coveiro”, “e daí” ou ainda chamar a covid-19 de “gripezinha”, ele manteve seu discurso de negação.
No país da piada pronta, quando a Itália atingiu 100 mortes Bolsonaro tentava desviar o foco do ‘PIBinho’ levando um humorista disfarçado dele mesmo, para ser entrevistado por jornalistas. A piada, claro, não deu certo.
E até hoje não tem ninguém rindo. Na verdade, para não faltar com a verdade como o presidente, é preciso dizer que ao menos tem quem ainda se divirta com os absurdos. Segundo o Exame/Idea, apesar de tudo (corrupção, crimes, mamatas, crises econômicas/sanitárias e mentiras), o presidente segue com sua sólida de base de fãs.
Para 67% dos brasileiros, a vacinação contra a covid-19 no Brasil pode até estar atrasada, ainda assim, a aprovação ao governo do presidente Jair Bolsonaro subiu neste mês. Hoje 37% dos brasileiros afirmam estar satisfeitos com a gestão federal, contra 35% no mês passado.
A pesquisa também mostra que o país continua dividido. Cerca de 37% desaprovam o governo, mesma proporção daqueles que se dizem satisfeitos. Outros 24% não têm uma opinião formado sobre o assunto e 2% não souberam responder.
A pesquisa também perguntou como os brasileiros avaliam o governo. Aqueles que consideram o governo ruim ou péssimo somam 34%. Os que acham ótimo ou bom são 38%, enquanto 27% avaliam como regular.
Na avaliação dos que têm ensino superior completo, 45% consideram o governo ótimo ou bom. Já entre os sem instrução, esse percentual é de 28%. Entre os menos escolarizados 47% avaliam a gestão como ruim ou péssima.
Antivacinas
Não importa região, escolaridade ou classe social: Bolsonaro tem em seu favor um exército de pessoas que, de sã consciência, concorda com tudo o que vem acontecendo no governo, especialmente durante esta pandemia. Índice alto de aprovação que pode prejudicar o plano de vacinação.
Grande dia!
Agora que a Anvisa aprovou o uso emergencial de duas vacinas contra a COVID-19, elas serão gratuitas e não obrigatórias a todos os brasileiros!
Com responsabilidade, vamos continuar recuperando o Brasil, salvando vidas e empregos! pic.twitter.com/0cmSH7YwSd— Flavio Bolsonaro (@FlavioBolsonaro) January 17, 2021
Único do clã Bolsonaro a se manifestar até as primeiras horas de segunda, Flávio Bolsonaro, o senador filho 01 que está completamente enrolado com as rachadinhas de Queiroz, colocou um “não obrigatória” ao comentar sobre a vacina.
O que mostra bastante o que seus seguidores acham da mesma:
Eduardo Bolsonaro, o deputado federal filho 03 resolveu defender o Ministério da Saúde de seu pai. Isso porque a rede social da pasta mentiu ao falar da importância de um tratamento precoce contra a doença.
Claro, não há tratamento precoce contra a covid-19 e Eduardo, que de forma surreal ainda estampa em seu perfil a foto de Donald Trump, presidente dos EUA em fim de mandado e que sofre um pedido de impeachment, resolveu chegar para falar “a verdade”:
Quem sabe mais sobre saúde não é o ministéria da saúde, mas sim o twitter 🤦♂️ (ironia)
Tratamento precoce salva vidas, aos primeiro sintomas procure um médico e se trate. pic.twitter.com/ORBWKbh8NY
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) January 17, 2021
E contradizendo em seu discurso pelo factual, Eduardo compartilhou a mentira dita pelo Ministro da Saúde, o general Pazuello, de que foi “tudo fake” as notícias de que o Governo Federal não tinha interesse na Coronavac. Até já foi desmentido por João Doria, que negou que o Buntantan recebeu recursos do SUS.
Min. da Saúde, Eduardo Pazuello fala sobre como se dá contratações de vacinas no Brasil de maneira técnica, sem politização. pic.twitter.com/DnS2j6qdK0
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) January 18, 2021
E nessa realidade paralela de surtados, a #vaChina ficou entre as mais comentadas no Twitter. Como que depois de o Brasil perder mais de 210 mil pessoas para a covid-19, esse discurso torto ainda não foi encerrado?
Ainda dá tempo dos negacionistas serem banidos pelo Twitter e de cassações acontecerem no Congresso, com um impeachment presidencial batendo mais uma vez na porta.
25 de março de 2020 pic.twitter.com/F9QLeeB2zQ
— Samuel Pancher (@SamPancher) January 16, 2021