28 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro diz que “ganhou” de Doria após Anvisa suspender Coronavac

Vacina contra a covid-19 é desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan em São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro segue fazendo política com a pandemia e usou a suspensão pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) dos testes da vacina Coronavac para atacar o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP). Em resposta a um seguidor em sua conta no Facebook, o presidente escreveu que “ganhou” do tucano.

O comentário de Bolsonaro foi publicado em resposta a um usuário, que perguntou se o Brasil poderia comprar e produzir a vacina. O presidente citou três dos efeitos listados hipoteticamente pela Anvisa e ainda recordou uma de suas desavenças com Doria, sobre a obrigatoriedade ou não dos imunizantes.

O imunizante contra a covid-19 é desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, e a Anvisa suspendeu ontem seus testes clínicos após um “evento adverso grave” registrado no dia 29 de outubro.

A agência não disse qual foi o problema relatado, mas listou que entre possíveis “eventos graves” estão reações sérias, morte, anomalia e internações prolongadas.

A Coronavac é a vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo. E uma fábrica de 10 mil m² seria responsável pela produção de 100 milhões de doses.

Rivalidade

Com o comentário, Jair Bolsonaro retoma o embate que tem travado com Doria desde o início da pandemia. O presidente tem tratado a Coronavac como “vacina chinesa do Doria” e recentemente cancelou uma parceria firmada entre o Ministério da Saúde o Governo de São Paulo para a aquisição do imunizante.

Outro ponto de atrito é a obrigatoriedade da vacina. Doria se mostrou favorável à possibilidade no Estado de São Paulo, o que tem gerado críticas constantes de Jair Bolsonaro e seus seguidores.

Em outra resposta a um internauta, que sugeria que o presidente se vacinasse como cobaia de vacinas, Bolsonaro voltou ao tema: “quem a quer obrigatória não sou eu. Estás na página errada. Bom dia”.

Aliados do governador João Doria (PSDB) questionaram a divulgação da informação por meio de nota, em horário nobre de noticiários de televisão, justamente nesta segunda (9).

Dono de um discurso negacionista da pandemia, o presidente tem no governador uma rivalidade: enquanto Bolsonaro questiona a obrigatoriedade da vacinação e já repreendeu seu ministro da Saúde por considerar o uso do imunizante chinês, o tucano fez uma grande aposta na Coronavac.

Reação

A Anvisa afirmou que houve um “evento adverso grave” no dia 29 de outubro e que é padrão interromper os testes quando algum problema é notificado.

Em nota, explicou que os eventos adversos considerados graves pelo uso da vacina são: óbitos, eventos que comprometam a saúde do voluntário, incapacidade ou invalidez, reações que demandem hospitalizações, anomalias e suspeitas de infecção por meio de agentes.

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse, em entrevista à TV Cultura, que se trata do óbito de um voluntário que não teve relação com a vacina.

“Até estranhamos um pouco. É um óbito não relacionado à vacina. Como são mais de 10 mil voluntários nesse momento, a pessoa pode ter um acidente de trânsito e morrer. Isso em nenhum momento para a interrupção do estudo clínico. Isso foi colocado agora à noite pela Anvisa, não foi solicitado o esclarecimento. Solicito aqui para que amanhã, na primeira hora, sejam esclarecidos esses dados”. Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan.