28 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Anvisa manda parar estudo da Coronavac horas após data da vacinação ser divulgada

Fábrica de 10 mil m² seria responsável pela produção de 100 milhões de doses

Poucas horas depois do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciar que as primeiras 120 mil doses da vacina Coronavac chegariam no dia 20 de novembro ao estado, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) determinou, na noite de hoje, a interrupção do estudo clínico da vacina Coronavac, após o registro de um “evento adverso grave”.

O Instituto Butantan afirmou que foi “surpreendido” e o governo de São Paulo disse que “lamenta ter sido informado pela imprensa e não diretamente pela Anvisa”. O diretor do instituto, Dimas Covas, afirmou tratar-se de um óbito sem qualquer relação com os testes do imunizante.

A Coronavac é a vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo. E uma fábrica de 10 mil m² seria responsável pela produção de 100 milhões de doses.

Aliados do governador João Doria (PSDB) questionaram a divulgação da informação por meio de nota, em horário nobre de noticiários de televisão, justamente nesta segunda (9).

Dono de um discurso negacionista da pandemia, o presidente tem no governador uma rivalidade: enquanto Bolsonaro questiona a obrigatoriedade da vacinação e já repreendeu seu ministro da Saúde por considerar o uso do imunizante chinês, o tucano fez uma grande aposta na Coronavac.

Morte

A Anvisa afirmou que houve um “evento adverso grave” no dia 29 de outubro e que é padrão interromper os testes quando algum problema é notificado.

Em nota, explicou que os eventos adversos considerados graves pelo uso da vacina são: óbitos, eventos que comprometam a saúde do voluntário, incapacidade ou invalidez, reações que demandem hospitalizações, anomalias e suspeitas de infecção por meio de agentes.

A agência não deu detalhes sobre a ocorrência de 29 de outubro. De acordo com a nota, os dados sobre os voluntários devem ser mantidos em sigilo.

O diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, disse, em entrevista à TV Cultura, que se trata do óbito de um voluntário que não teve relação com a vacina.

“Até estranhamos um pouco. É um óbito não relacionado à vacina. Como são mais de 10 mil voluntários nesse momento, a pessoa pode ter um acidente de trânsito e morrer. Isso em nenhum momento para a interrupção do estudo clínico. Isso foi colocado agora à noite pela Anvisa, não foi solicitado o esclarecimento. Solicito aqui para que amanhã, na primeira hora, sejam esclarecidos esses dados”. Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan.

Os testes da vacina contra covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório Astrazeneca já foram interrompidos e retomados por causa de efeitos adversos. Em outubro deste ano, morreu um voluntário brasileiro que participava dos testes deste imunizante. No entanto, na ocasião, a Anvisa afirmou que manteria os estudos envolvendo a vacina apesar do ocorrido.