22 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Bolsonaro, sobre o filho senador de 37 anos: “Não é justo atingir o garoto”

Além de ficar com o salário de funcionários da Alerj e todo o caso do ex-assessor Queiroz no Coaf e os depósitos suspeitos, foi descoberto o envolvimento de Flávio Bolsonaro com milícias

Horas depois de cancelar a entrevista coletiva no Fórum Econômico Mundial, em Davos, pegando de surpresa todos no evento, o presidente Jair Bolsonaro concedeu mais uma exclusiva para a TV Record, que seria a sua “assessoria de comunicação” na Televisão, assim como Donald Trump utiliza a Fox News nos Estados Unidos: as perguntas são fáceis, combinadas e seu pressão.

E foi exatamente a pressão que fez ele fugir da coletiva. Em um momento de sinceridade, o presidente disse à Bloomberg TV, horas antes do horário da coletiva, que se ficar provado que seu Flávio “cometeu algum ilícito, ele terá de pagar o preço”.

Além de ficar com o salário de funcionários na Assembleia Legislativa do Rio, quando vereador, e todo o imbróglio de seu assessor Queiroz no Coaf, foi descoberto que o filho do presidente está envolvido com milícias do Rio. Além de dar trabalho para policiais do sindicato do crime, ele homenageou os criminosos que podem estar envolvidos na morte da também vereadora Marielle Franco, ano passado.

E na TV Record, isso foi o que Bolsonaro resolveu dizer:

“Nós não estamos acima da lei, como qualquer outro estamos embaixo da lei. Agora que cumpra a lei, não faça de maneira diferente para conosco. Não é justo atingir o garoto para tentar me atingir. Para o meu filho aquele abraço, fé em Deus, que tudo será esclarecido com toda certeza”. Jair Bolsonaro, presidente.

O garoto é um senador eleito de 37 anos. Talvez para pegarem mais leve, que fique a sugestão de aumentar a maioridade penal. Ou apelar para ministra Damares e os Direitos Humanos.

Filho problema

Entre oficiais generais da ativa, das três Forças,  existe um consenso de que Flávio não foi convincente até aqui nas explicações que mistura operações financeiras envolvendo imóveis no Rio com a movimentação atípica de valores seus e de seu ex-assessor.

Alguns setores da cúpula das Forças Armadas fizeram chegar ao núcleo militar do Planalto a sugestão de que Flávio não assumisse a cadeira no Senado, em fevereiro. Isso poderia, para eles, evitar a contaminação do debate legislativo pelo caso.

Os jornalistas  têm insistido em perguntas sobre o caso ao presidente, que acuado responde apenas com silêncio ou em entrevistas combinadas com a Record. Fernando Haddad, do PT, foi mais um a questionar as inúmeras denúncias.

“Como é que alguém que manuseou R$ 7 milhões, em três anos, pode ter pedido um empréstimo de R$ 40 mil? Qual o sentido disso? Infelizmente, está tudo muito mal explicado. E, agora, as relações com os milicianos, possivelmente incluindo aqueles envolvidos no assassinato de Marielle Franco.” Fernando Haddad.

O petista está na Europa para uma série de palestras e reuniões com lideranças

Haddad repercutiu sobre a operação “Os Intocáveis”, realizada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro com o apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil, que teve como alvo milicianos que atuam na Zona Oeste do Rio.

Dois dos envolvidos (o major Ronald Paulo Alves Pereira e o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega) foram homenageados pelo deputado estadual na Assembleia Legislativa. Adriano é acusado de comandar o Escritório do Crime, milícia que também está sendo investigada por suspeita de relação com a execução da vereadora Marielle Franco em março do ano passado.

E não só isso: o miliciano teve a esposa e a mãe indicadas para trabalhar no gabinete de Flávio, na Alerj, por Queiroz. Bolsonaro se esquivou e culpou seu ex-assessor pela contratação.

“A família defende a atividade dos milicianos. Recentemente baixou um decreto facilitando a aquisição e a posse de armas e já anunciou que vai facilitar o porte. E para onde isso tudo conduz? Para a legalização das milícias e a privatização da segurança pública? Ouvi Bolsonaro dizendo em uma entrevista que é absolutamente favorável ao pagamento de milícias. Isso significa a privatização do serviço. As comunidades pobres do Rio de Janeiro e de São Paulo, pagando milicianos para a defesa própria, ao invés de colocar o Estado em defesa do cidadão.” Haddad.

De acordo com Haddad, a família Bolsonaro não conseguiu explicar a sua evolução patrimonial, visto que eles conseguiram atingir algo em torno de R$ 15 milhões apenas em patrimônio imobiliário.