12 de dezembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Culpou Queiroz: Flávio Bolsonaro empregou família de miliciano na Alerj

Raimunda Veras Magalhães está citada em relatório do Coaf e ela repassou R$ 4.600 para a conta de Queiroz; Adriano Magalhães, homenageado duas vezes, faria parte do Escritório do Crime

Até novembro do ano passado, senador eleito Flávio Bolsonaro empregou em seu gabinete, na Alerj, a mãe e a mulher do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, que é suspeito de comandar milícia no Rio de Janeiro.

Homem-forte do Escritório do Crime, Adriano faz parte da organização suspeita do assassinato de Marielle Franco. O policial foi alvo de um mandado de prisão nesta terça-feira e está foragido.

Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega ocupavam o cargo CCDAL-5 e ganhavam R$ 6.490,35 e deixaram o gabinete no mesmo dia, em 14 de novembro. Citada no relatório do Coaf que investiga o ex-assessor Fabrício Queiroz, Raimunda repassou R$ 4.600 para a conta do ex-policial militar.

Respondendo novamente através de nota, Flávio disse que ela fora contratada por indicação de Queiroz. Ele supervisionava o seu trabalho, e portanto “não pode ser responsabilizado por atos que desconhece”.

Já o miliciano Adriano, por duas vezes, foi homenageado por Flávio Bolsonaro na Alerj. Em 2003, propôs uma moção de louvor ao policial militar por desenvolver sua função com “dedicação, brilhantismo e galhardia”.

“Imbuído de espírito comunitário, o que sempre pautou sua vida profissional, atua no cumprimento do seu dever de policial militar no atendimento ao cidadão”, Flávio Bolsonaro, sobre o miliciano capitão Adriano Magalhães.

O senador eleito disse que sempre atuou na defesa de agentes da segurança pública e que já concedeu “centenas de outras homenagens”.

Mais cedo, o pPresidente interino enquanto Bolsonaro está em Davos, o general Hamilton Mourão afirmou que as investigações que envolvendo o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) não afetam o governo e seriam apenas preocupação de “pai para filho”.

Explicações sobre os milhões

Após vários dias em silêncio sobre a investigação no Ministério Público do Rio de Janeiro aberta após movimentações atípicas serem encontradas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL) disse na TV Record que os milhões que movimentou, com ajuda ou não de seu ex-assessor Queiroz, foram graças a compra e venda de apartamentos.

Documentos m cartórios mostram que o filho do presidente registrou, de 2014 a 2017, mesmo período da movimentação dos R$ 7 milhões de Queiroz, a aquisição de dois apartamentos em bairros nobres do Rio de Janeiro, ao custo informado de R$ 4,2 milhões.

A escritura de uma cobertura em Laranjeiras mostrou ficou estabelecido que, além da permuta de dois imóveis, o ex-atleta Fábio Guerra deveria pagar R$ 600 mil, em março e agosto de 2017.

Mas os 48 depósitos de Flávio foram feitos em junho e julho daquele ano. A escritura foi finalizada em 23 de agosto de 2017.

Flávio e Queiroz

Fabrício Queiroz, ex-motorista do deputado estadual, é investigado sob suspeita de ser o pivô de um esquema ilegal de arrecadação de parte dos salários de servidores do gabinete, prática conhecida como rachadinha.

Antes de resolver das explicações, Flávio Bolsonaro sumiu das redes sociais e pediu foro privilegiado no STF, para que a investigação de seu ex-assessor, o amigo Queiroz, fosse suspensa e apelou pro conforto do pai, que vinha sendo criticado. Antes disso, Queiroz havia dito que movimentou R$ 1 milhão vendendo carros, antes da denúncia dos R$ 7 milhões.

Até mesmo um valor de R$ 24 mil foi depositado na conta da primeira dama, Michele Bolsonaro. O presidente disse que havia sindo um empréstimo. Ele não gostou dos tons das denúncias e disse que as provas foram obtidas de forma ilegal.

Até janeiro do ano passado, Bolsonaro e seus três filhos eram dono de 13 imóveis com preço de mercado de pelo menos R$ 15 milhões, a maioria em pontos valorizados do Rio. No mesmo período, Flávio havia negociado ao menos 19 imóveis nos últimos 13 anos.

Vale lembrar que ao menos em parte das transações, o valor declarado pelos compradores e vendedores é menor do que aquele usado pela prefeitura para cobrança de impostos.

Qando começou na vida pública em 2002, o senador eleito tinha como único bem na época um Gol 1.0, segundo sua declaração de bens.

O salário de um deputado estadual do Rio é de R$ 25,3 mil brutos. Na entrevista, Flávio Bolsonaro afirmou que o salário é a menor parte de seus rendimentos, creditando seu maior volume à atividade empresarial, mas sem especificar qual seria o negócio.

“Não tem. Explico mais uma vez. Sou empresário, o que ganho na minha empresa é muito mais do que como deputado. Não vivo só do salário de deputado”, Flávio Bolsonaro, senador eleito.

Ele é sócio da Bolsotini Chocolates e Café Ltda, uma franquia da Kopenhagen no Via Parque Shopping, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. De acordo com a Receita Federal, a empresa foi aberta em 7 de janeiro de 2015 e tem mais um sócio. Essa foi a única atividade empresarial que o senador eleito declarou em toda a sua trajetória política, desde 2002.

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