26 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Para Haddad, família Bolsonaro defende a atividade de milicianos

“Como é que alguém que manuseou R$ 7 milhões, em três anos, pode ter pedido um empréstimo de R$ 40 mil? Qual o sentido disso?”, disse o concorrente de Jair Bolsonaro nas eleições

Em entrevista no Blog do Sakamoto, Fernando Haddad, que perdeu o segundo turno das eleições presidenciais pelo PT, falou sobre as “movimentações atípicas” detectadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) nas contas do ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz ,quanto nas de seu antigo chefe, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro

“Como é que alguém que manuseou R$ 7 milhões, em três anos, pode ter pedido um empréstimo de R$ 40 mil? Qual o sentido disso? Infelizmente, está tudo muito mal explicado. E, agora, as relações com os milicianos, possivelmente incluindo aqueles envolvidos no assassinato de Marielle Franco.” Fernando Haddad.

O petista está na Europa para uma série de palestras e reuniões com lideranças de esquerda e criticou o fato sobre essas movimentações estarem suspensas por decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, a pedido da defesa do deputado.

Haddad repercutiu ainda a operação “Os Intocáveis”, realizada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro com o apoio da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e da Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil, que teve como alvo milicianos que atuam na Zona Oeste do Rio.

Dois dos envolvidos (o major Ronald Paulo Alves Pereira e o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega) foram homenageados pelo deputado estadual na Assembleia Legislativa. Adriano é acusado de comandar o Escritório do Crime, milícia que também está sendo investigada por suspeita de relação com a execução da vereadora Marielle Franco em março do ano passado.

E não só isso: o miliciano teve a esposa e a mãe indicadas para trabalhar no gabinete de Flávio, na Alerj, por Queiroz. Bolsonaro se esquivou e culpou seu ex-assessor pela contratação.

“A família defende a atividade dos milicianos. Recentemente baixou um decreto facilitando a aquisição e a posse de armas e já anunciou que vai facilitar o porte. E para onde isso tudo conduz? Para a legalização das milícias e a privatização da segurança pública? Ouvi Bolsonaro dizendo em uma entrevista que é absolutamente favorável ao pagamento de milícias. Isso significa a privatização do serviço. As comunidades pobres do Rio de Janeiro e de São Paulo, pagando milicianos para a defesa própria, ao invés de colocar o Estado em defesa do cidadão.” Haddad.

Ricos

De acordo com Haddad, a família Bolsonaro não conseguiu explicar a sua evolução patrimonial, visto que eles conseguiram atingir algo em torno de R$ 15 milhões apenas em patrimônio imobiliário.

Até janeiro do ano passado, Bolsonaro e seus três filhos eram dono de 13 imóveis com preço de mercado de pelo menos R$ 15 milhões, a maioria em pontos valorizados do Rio. No mesmo período, Flávio havia negociado ao menos 19 imóveis nos últimos 13 anos.

Vale lembrar que ao menos em parte das transações, o valor declarado pelos compradores e vendedores é menor do que aquele usado pela prefeitura para cobrança de impostos.

Quando começou na vida pública em 2002, o senador eleito tinha como único bem na época um Gol 1.0, segundo sua declaração de bens.

O salário de um deputado estadual do Rio é de R$ 25,3 mil brutos. Na entrevista, Flávio Bolsonaro afirmou que o salário é a menor parte de seus rendimentos, creditando seu maior volume à atividade empresarial, mas sem especificar qual seria o negócio.

“Não tem. Explico mais uma vez. Sou empresário, o que ganho na minha empresa é muito mais do que como deputado. Não vivo só do salário de deputado”, Flávio Bolsonaro, senador eleito.

Ele é sócio da Bolsotini Chocolates e Café Ltda, uma franquia da Kopenhagen no Via Parque Shopping, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. De acordo com a Receita Federal, a empresa foi aberta em 7 de janeiro de 2015 e tem mais um sócio. Essa foi a única atividade empresarial que o senador eleito declarou em toda a sua trajetória política, desde 2002.