20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Calheiros acusa Lira de corrupção, que ameaça com denúncias contra Renan Filho

Esquema já chamado de Bolsolão do lixo veio da denúncia de superfaturamentos com caminhos durante governo Bolsonaro

Caciques de longa data da política alagoana e rivais nas eleições deste ano, o senador Renan Calheiros (MDB) e o presidente do Congresso e do centrão Arthur Lira (PP) fizeram mais uma troca de acusações nas redes sociais.

E o que tinha esquentado com a eleição indireta para governador tampão em Alagoas, que parou com ações nas justiça e precisou ser decidida pelo STF, segue com mais uma rodada de denúncias e ameaças. Sempre de olho nas próximas eleições.

Hoje, Calheiros reclamou do projeto que Lira pretende colocar em pauta nesta semana em Brasília, que limita a cobrança de ICMS pelos estados sobre combustíveis, energia elétrica, comunicações e transportes coletivos.

A justificativa da matéria, que tem o apoio do Palácio do Planalto, é reduzir a pressão sobre a inflação, mas governadores temem quedas na arrecadação. Calheiros disse que Lira quer “bater a carteira de governadores” com a medida:

Isso por que antes o mesmo Renan falou em envolvimento do presidente do Congresso (e o da República, Jair Bolsonaro), de envolvimento numa máfia do lixo.

Como resposta, Lira disse que “Renan Calheiros falando em honestidade é a maior piada que existe”.  E falou que a série de denúncias seria para desviar de algo que viria a tona contra Renan Filho, ex-governador de Alagoas, pré-candidato ao Senado por Alagoas e, claro, filho de Renan Calheiros:

Bolsolão do lixo

Cortina de fumaça ou não, um antigo esquema da velha política de utilização do serviço de limpeza urbana para compras superfaturadas foi retomado com força no governo Jair Bolsonaro (PL) por meio das chamadas emendas do relator, que abastecem o orçamento secreto.

Entre 2019 e 2022 o orçamento para compras de caminhões de lixo com recursos do governo federal aumentou 833%, passando de R$ 24 milhões para atuais R$ 200,2 milhões. O número de veículos comprados saltou de 85 para 453 – alta de 532%.

O esquema, que abastece pequenas cidades de redutos eleitorais de aliados do governo, funciona através de órgãos controlados pelo Centrão como a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e principalmente a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf).

Por meio de emendas do relator, o destino é remetido a apadrinhados políticos, que fazem licitações em muitos casos com preços inflados.

A entrega do veículo geralmente é feita em atos políticos com a presença dos parlamentares, como fez Fernando Collor de Mello (PTB) em Minador do Negrão, no interior de Alagoas, em agosto de 2021.

Diante disso tudo, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou hoje mesmo duas representações junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) e à PGR (Procuradoria-Geral da República) pedindo a abertura de investigações sobre a compra de caminhões de lixo pelo governo do presidente com indícios de superfaturamento.