20 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Alagoas

Renan Filho diz que Lira age “como coronel usando as armas que tem” para suspender eleição

Ex-governador renunciou em abril para concorrer ao Senado e foi até Brasília para buscar decisão do STF sobre escolha de governo-tampão de Alagoas

Renan Filho (MDB), ex-governador de Alagoas, fez duras críticas aos processos jurídicos envolvendo a eleição para um mandato-tampão no governo do estado, culpando Arthur Lira, presidente do Congresso, pela situação.

“Ele se comporta como um coronel usando as armas que tem”.

A eleição indireta, realizada pela Assembleia de Alagoas, estava marcada para ontem (2), mas foi suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) atendendo a um pedido do PSB, partido do prefeito de Maceió, JHC, que alega irregularidades no pleito.

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Deputados qualificam guerra judicial contra eleições como golpe contra o Estado

Por isso, Lira e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) já haviam se chamado de “golpistas” pelas redes sociais na semana passada. E Renan Filho, que viajou a Brasília para tentar uma solução, acusou o presidente da Câmara de arrastar o STF para um embate “com interesses políticos”.

“Lira lembra os coronéis que ganhavam eleições utilizando o Exército e a polícia. Judicializando a eleição indireta com interesses políticos, seu objetivo é impedir o exercício do que manda a Constituição, que é a eleição indireta após 30 dias de dupla vacância no governo”.

Imbróglio

Seguindo a decisão do presidente Luiz Fux, o também ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes manteve a suspenção das eleições indiretas para  escolha de governador e vice-governador de Alagoas, que estava marcada para a manhã de segunda (2).

Como relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) movida pelo PSB contra a eleição, Gilmar Mendes pediu informações sobre o pleito à Mesa Diretora da Assembleia Legislativa e ao governo de Alagoas.

“Considerando que os efeitos do ato impugnado encontram-se suspensos por decisão judicial (…), solicitem-se informações à mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas e ao Governo do Estado de Alagoas, no prazo comum de 48 (quarenta e oito) horas”. Gilmar Mendes em trecho de sua decisão.

As respectivas procuradorias, de forma imediata, já atenderam a determinação e solicitaram urgência do Ministro na decisão. É mais um capítulo das eleições, de inscrições já encerradas e que teve as seguintes ações judiciais:

  • O PSB (partido de JHC, prefeito de Maceió, e aliado do senador Rodrigo Cunha, que disputada o cargo de governador em outubro) entrou com uma ação pedindo a suspenção da votação;
  • Na quarta (27), a juíza Maria Ester Manso, da 18ª Vara Cível da Capital – Fazenda Estadual, atendeu o pedido e determinou a suspensão;
  • Uma ação ação movida pela Procuradoria Geral do Estado (PGE) pedia o fim dessa suspensão;
  • Na sexta(29), o desembargador José Carlos Malta vice-presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas no exercício da Presidência,  manteve o pleito indireto, dizendo que a possível inconstitucionalidade do pleito seria decidida pelo Supremo Tribunal Federal;
  • No sábado (30), o ministro Jorge Mussi, do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a decisão de José Carlos Malta Marques.
  • No domingo (1º), Luiz Fux, presidente do STF, suspendeu a votação e o relator, Gilmar Mendes, seguiu a decisão.
  • Na segunda, enquanto Mendes analisava as informações entregues pela PGE e Mesa-Ditetora da ALE, União Brasil e MDB entrara com pedidos para serem Amicus Curiae e auxiliar o STF na decisão

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Renan Filho (MDB), então governador de Alagoas, saiu do cargo, em respeito às regras do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para a disputa do senado por Alagoas, em outubro.

Como seu vice, Luciano Barbosa, assumiu a prefeitura de Arapiraca em 2020, a dupla vacância faria com que o presidente da Assembleia assumisse o cargo.

O deputado Marcelo Victor (MBD), no entanto, também vai disputar um novo mandato e com isso Klever Loureiro, presidente do TJ-AL, está como governador interino até a eleição indireta, realizada pelos deputados estaduais.

Renan Calheiros x Arthur Lira

Mas a eleição indireta, que não é inédita em outros estados do Brasil, incluindo Alagoas, revelou-se um terreno que antecipa as eleições de outubro, iniciando a batalha entre os rivais Renan Calheiros (MDB) e Arthur Lira (PP), respectivamente senador e presidente do Congresso.

Eles são os cacifes de dois nomes nas eleições de outubro. De um lado há o filho de Renan Calheiros, que renunciou ao cargo para disputar uma vaga do Senado. O candidato de Renan e do ex-governador Renan Filho nas duas eleições (tampão e na de outubro) é o deputado estadual Paulo Dantas (MDB).

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Do outro, disputando como governador, está o já senador Rodrigo Cunha (União Brasil), controlado por Lira e que com o PSB do prefeito de JHC ao seu lado colocou a eleição direta a ser realizada na Assembleia de Alagoas na mira da Justiça.

Ou seja: JHC e Lira tentam barrar a eleição indireta de Paulo Dantas por temer que, no comando da máquina administrativa, com a visibilidade e outras benesses que o cargo oferece, ele assuma o protagonismo da disputa em outubro.

Aliados de Renan afirmam que a intenção de Lira e JHC era dar um golpe para manter o presidente do Tribunal de Justiça no comando do estado, como forma de fortalecer a candidatura de Rodrigo Cunha.

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Na justiça, o PSB questionou as regras adotadas para essa eleição, afirmando que as mesmas ferem o que a Constituição determina para eleições.

Primeiro, o voto na Assembleia Legislativa será aberto, e não secreto. Segundo, os candidatos a governador e vice não formarão chapa – será possível escolher governador e vice de grupos diferentes. A decretação da vitória se dará por maioria simples, e não absoluta.

Ao todo, foram registradas 16 candidaturas a governador e seis para vice. Para se candidatar ao mandato-tampão, o postulante não precisa ser filiado a partido político, basta ter 30 anos e apresentar certidões negativas na Justiça. Os candidatos eleitos ficarão no cargo até 31 de dezembro de 2022.