O PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, anunciou apoio à reeleição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em troca de espaços no comando da Casa. Maia prometeu a presidência da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), a mais prestigiada e disputada da Casa, por onde passam todas as matérias para análise constitucional., ao partido. E ganhou votos.
A negociação envolveu também a promessa de o PSL ficar com a segunda vice-presidência da Câmara e a presidência da Comissão de Finanças e Tributação.
Com isso, Maia desagradou ao menos duas siglas que patrocinaram sua ascensão ao comando da Casa. Ele ignorou pleitos do PP, que reivindicava espaços ofertados ao PSL, e do MDB. Esses vão esperar para ver se a nova estrutura de apoio a Maia para de pé até fevereiro, na eleição.
Em mensagem no twitter, que por provável arrependimento ele já apagou, o presidente admitiu que o apoio a Maia na Câmara seria pela inevitável derrota no Senado, que estaria fechando com Renan Calheiros.
“Já imaginaram um Presidente sem o Senado porque a maioria elegerá tranquilamente Renan Calheiros e sem também a Câmara dos Deputados pois Rodrigo Maia tem a maioria? Algumas pessoas tem que deixar de ser mimadas e entender como se joga.” Jair Bolsonaro, em mensagem apagada no Twitter.
Disputas internas
Nem no próprio PSL o acordo agradou. Após o anúncio do acordo, o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) demonstrou irritação e deixou claro que não trabalhou por esse caminho.
Uma ala do PSL ainda resiste a Maia e diz que o acerto pode manchar a imagem da sigla. O problema é que havia risco de o partido ficar isolado e sem espaços na Mesa Diretora após o naufrágio da tentativa de criar um bloco de oposição ao democrata com PP, MDB, PSD e PTB.
A deputada eleita Joice Hasselmann (SP), que, logo após a eleição, criticou a possibilidade de reeleição de Maia, já havia mudado de discurso e nesta quarta-feira chegou a discutir com internautas que criticaram a decisão do PSL.
Qual seria a opção? Afundar o governo? Não ter bloco pra aprovar nada? Fazer beicinho de criança birrenta e prejudicar milhões de brasileiros por isso? Brincar de polianas? Ora, me poupe! Vamos pensar minha gente. https://t.co/3H6khN0nFI
— Joice Hasselmann (@joicehasselmann) 2 de janeiro de 2019
Esta é mesma deputada que, em dezembro, num grupo de Whatsapp, discutiu com Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, sobre o apoio a Maia.
Numa troca de mensagens pelo WhatsApp, Eduardo Bolsonaro (SP) contou que age sob ordens do pai. Move-se em segredo para evitar retaliações. “Se eu botar a cara publicamente, o Maia pode acelerar as pautas bombas do futuro governo”, anotou o filho de Jair Bolsonaro. E sobrou para o próprio Eduardo, que quis apagar incêndio com gasolina.
No grupo, desentenderam-se a deputada eleita Joice Hasselmann (SP) e o senador eleito Major Olímpio (SP). Tudo cocontra a pretensão de Joice de assumir a liderança do partido na Câmara .
O próprio Eduardo Bolsonaro reivindica para si. E foi além: acusou a deputada de “atropelar” os correligionários, a chamou de “sonsa” e diz que ela tem “fama de louca”.
Como toda boa discussão de Whatsapp, ela não deixou barato e lembrou que o partido pode ser criticado por colocar o filho do presidente em cargo de liderança na casa.
“Qual é o problema em eu ou qualquer outro deputado querer disputar a liderança??? O fato de termos um deputado que também é filho do nosso presidente (por quem trabalharei todos os dias) não nos exclui. Isso é democracia. Você é dentro do partido um parlamentar que fez votação estrondosa com o sobrenome que tem. Eu também fiz, sem sobrenome. Se quisermos ter 52 candidaturas podemos ter e decidimos no voto e no debate, não por recadinhos infantis via Twitter. Cresça”
Joice Hasselmann encerrou colocando o herdeiro do trono “em seu lugar”:
“Eduardo, não admito nem te dou liberdade para falar assim comigo, ou escrever algo nesse tom. Não te dei liberdade pessoal nenhuma, portanto, ponha-se no seu lugar. Minhas discussões aqui são políticas e não pessoais. Se formos discutir a questão ‘fama’, a coisa vai longe. Então não envergonhe o que seu pai criou.”
É o tipo de maturidade que se espera de um governo eleito exatamente pelo Whatsapp. Bolsonaro já teria dito que não vai interferir diretamente na eleição da Câmara dos Deputados. Resta saber se seus aliados concordam com isso. Ou se ele é o homem por trás das cortinas.
O PSL tem a segunda maior bancada da Casa, com 52 de 513 deputados, e pretende chegar à primeira após a janela partidária. A sigla se junta agora a um grupo maior de apoiadores que já vinha sendo costurado por Rodrigo Maia.
Oposição
Integrantes do PC do B dizem que, agora, o democrata precisa trazer o PT para o seu bloco, ou será visto como governista. Já parte do PT estuda lançar uma candidatura de oposição ao democrata. O PSOL decidiu apresentar o nome de Marcelo Freixo (RJ) para a disputa. Ele é adversário do clã Bolsonaro no Rio.
Maia disse que seu acordo é com o PSL e não com o governo, e que o que ele busca é garantir um espaço aos partidos que compõem a Casa –inclusive PP e MDB. Ele afirmou ainda que não dá as conversas com essas siglas por encerradas.