Voltei, pessoal! Ainda bem que não foi confisco, foi um bloqueio temporário! 🙌
— Fernando Collor (@Collor) June 14, 2020
Após sofrer um bloqueio temporário no Twitter, em seu retorno o senador Fernando Collor (Pros-AL) brincou ao dizer que se sentia aliviado, pois não havia sofrido um “confisco”. Uma alusão ao seu plano de Governo, no início dos anos 90, que confiscou o dinheiro da população. Claro, a reação nas redes foi negativa.
Fica fazendo graça mas quase destruiu minha família na minha adolescência. Quer que eu faça uma lista de tudo o que eu não tive por causa do seu plano que foi vazado para os amiguinhos?
Você, @Collor, deveria ter sido extirpado da política brasileira?
— Helô Cruz, CFA (@helocruz) June 15, 2020
Muitas pessoas ficaram indignadas. O perfil do senador, seja lá quem o controla, tentou fazer o controle de danos, mas a revolta persistiu:
Isso não foi uma piada. Isso realmente aconteceu e aproveito para mostrar a diferença entre confisco e bloqueio. Quem quiser entender, vai entender. Quem não quiser, paciência!
— Fernando Collor (@Collor) June 15, 2020
Ao final das contas, após muitas retratações na rede social, o perfil do Senador deu a meia desculpa: pediu perdão para os que se ofenderam:
Essa postagem teve o único objetivo de mostrar que “confisco” é diferente de “bloqueio”. Sei que muitos sofreram na época e jamais brincaria com isso. Quem interpretou errado ou se sentiu ofendido, me perdoe de coração! Tenham todos uma boa noite!
— Fernando Collor (@Collor) June 16, 2020
Plano Collor
Quando presidente, ele foi responsável pelo Plano Collor, que destruiu milhares de vidas assim que foi implantando dias após sua posse, em março de 1990. Entre as medidas, estava o confisco do dinheiro dos cidadãos, em uma tentativa errônea de tentar controlar a inflação.
Cerca de 80% do dinheiro aplicado, não só em cadernetas de poupança e em contas correntes, mas, também, em aplicações financeiras, como o famoso “overnight”, ficou retido no Banco Central por 18 meses. Estima-se que o governo tenha confiscado o equivalente a cerca de US$ 100 bilhões, o equivalente a 30% do Produto Interno Bruto (PIB).
Do dia 19 de março em diante, correntistas e poupadores, pessoas físicas e jurídicas, só conseguiram sacar 50 mil cruzados novos, cerca de R$ 8,3 mil em valores atuais.
Boa parte da população preferiu gastar o que sobrou no supermercado ou guardá-lo em casa. Em muitas agências, faltou dinheiro para tanta retirada. Por essa razão, muitos gerentes chegaram a ser presos por não terem dinheiro suficiente em caixa para pagar os saques de seus clientes.
Pior: havia gente com muitos investimentos, vendido recentemente carros ou casas. Ou tinham todo o seu dinheiro nestas contas. Mas foram bloqueadas e impossibilitadas de serem usadas.
Sem dinheiro, os consumidores mudaram seus hábitos e as lojas ficaram completamente vazias. O que não foi confiscado pelo governo era usado para fazer supermercado, pagar contas e comprar remédios.
Para não fechar as portas, donos de bares e restaurantes passaram a aceitar cheques e a vender fiado. De Norte a Sul, negócios foram desfeitos, viagens canceladas, casamentos adiados. O prejuízo, dizem os especialistas, foi incalculável. E, na maioria dos casos, irreversível.
Muitos infartaram. Alguns mais desesperados cometeram suicídio. Por sorte, três décadas depois, Fernando Collor pediu desculpas. O controle da inflação só veio em 1994, com o Plano Real. As perdas dos poupadores com o Plano Collor até hoje são discutidas na Justiça.
Mas, ainda bem, pouco menos de um mês depois de ter pedido desculpas pelo que fez há 30 anos quando presidente, o senador Collor se sentiu mais confortável para fazer piada com isso.
Na minha família teve, já te odiei muito, inclusive estudei psiquiatría pelo que passou e hoje não acho que a culpa foi sua, você talvez tenha feito a sua maior besteira na época, mas meu avô sofeia de depressão crônica uma doença ignorada na época.
— Marcelo Santil (@marcelo_santil) June 14, 2020