25 de junho de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Damares muda relato sobre crianças que tinham “dentes arrancados para fazer sexo oral”

STF indica a existência de possível crime de prevaricação, já que na época dos abusos relatados ela ainda estaria à frente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direito Humanos

A senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos (MDH), disse que relatos sobre crianças que supostamente tiveram dentes arrancados para não morderem exploradores durante sexo oral foram “ditos por moradores do Marajó e regiões de fronteira do Brasil”.

Nos últimos dias, as afirmações da senadora eleita fizeram com que ela se tornasse alvo de pedidos de esclarecimentos do MPF (Ministério Público Federal) e a PGR (Procuradoria-Geral da República) foi acionada contra ela.

O MPF requisitou todos os casos de denúncias recebidas pelo MDH, em trâmite ou não, nos últimos sete anos (2016-2022), envolvendo tráfico transnacional de crianças e estupro de vulneráveis. Também foi solicitado que a pasta informe quais medidas tomou após tomar conhecimento das denúncias ditas por Damares na igreja.

Já o Ministério Público do Pará, na última quarta-feira (12), deu um prazo de cinco dias para Damares enviar todas as provas dos crimes contra menores citados no Marajó. O MDH, porém, disse que as falas da senadora eleita se embasam em inquéritos e em CPIs sobre exploração sexual infantil e pedofilia.

“Essa coisa de que as crianças, quando saem, saem dopadas e os seus dentinhos são arrancados onde elas chegam a gente ouve nas ruas, na fronteira. Na CPI, lá atrás, já se falava de que forma essas crianças são traficadas. Elas ficam dopadas por 24 horas. Elas são levadas em caixas, sacos. Todo mundo, na fronteira, fala”. Damares, em entrevista à Rádio Bandeirantes nesta quinta.

Apesar disso, ela também reforça que a fala dela sobre tráfico de crianças e exploração sexual de crianças, durante pregação em igreja, são baseadas em relatórios do Ministério Público e de três comissões parlamentares de inquérito (CPI) sobre o tema. A ex-ministra negou que descobriu algo e não denunciou. Mas não foi o que ela disse no culto do final de semana.

No último domingo, Damares deu declarações gravíssimas sobre o Marajó em um culto evangélico em Goiânia. Falou que, enquanto era ministra, ficou sabendo de estupros de recém-nascidos, de casos de crianças marajoaras que teriam dentes arrancados e seriam vendidas para exploração sexual.

Não só mencionou detalhes de práticas sexuais violentas e torturas (para uma platéia que continha diversas crianças) como disse ter provas e vídeos.

Atribuiu esses crimes a uma suposta “guerra espiritual” e aproveitou para fazer campanha para Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição à Presidência, dizendo que ele havia comprado essa batalha e que seu governo foi o que mais agiu para combater tais atrocidades.

STF

O ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), encaminhou para a Justiça Federal do Pará uma notícia-crime contra a ex-ministra e senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF) pelas afirmações feitas por ela, em um culto no último fim de semana.

Segundo o magistrado, o Supremo não tem competência para julgar o caso porque a senadora eleita já deixou o cargo de ministra e, por isso, a notícia-crime foi enviada para a Justiça. O STF indica a existência de possível crime de prevaricação, já que na época dos abusos relatados por Damares ela ainda estaria à frente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direito Humanos.

A hipótese de que o presidente Jair Bolsonaro (PL) também estaria ciente da violência sexual contra crianças no Pará não é descartada e, segundo o STF, as falas da senadora eleita “por si só, devem ser objeto de investigação criminal”.