24 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Nicole, deputada que revelou ser trans, reclama por ter sido chamada de “chupetinha” na CCJ

A bolsonarista, que se revelou no Dia Internacional da Mulher, também não gostou de ter sido apelidada de “peruca”

A deputada federal Nicole Ferreira (PL-MG) acusou deputados da oposição de usarem termos transfóbicos contra ela, durante durante sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), com participação do ministro da Justiça, Flávio Dino.

A bolsonarista que assumiu ser trans durante na Câmara dos Deputados durante o Dia Internacional das Mulheres, em 8 de março, reclamou de interrupções enquanto tentava questionar o ministro. Aos gritos de “peruca”, alguns motivavam e incentivavam que Nicole falasse logo, mas ela ficou irritada quando a chamaram de “chupetinha”.

Curiosamente, a fala “Vai, Chupetinha” parece ter dita pelo presidente da sessão, o deputado André Silva, mas seu microfone estava desligado no momento.

“Nikolas sabe que não fui eu, queremos identificar quem foi. Ouvi, mas não vi quem falou”, afirmou o parlamentar, diante da clara confusão durante a “dublagem” do momento. Não é possível identificar o autor da fala. Até agora, nenhum parlamentar assumiu ter feito o comentário, defendida por Janones, que ironiza a “liberdade de expressão” alardeada por bolsonaristas.

Logo após o episódio, a parlamentar Nicole Ferreira usou as redes sociais para rebater afirmando que a esquerda tem “tara” em acusar “hétero de ser gay”.

Tudo aconteceu quando Nicole tentava elaborar uma pergunta ao ministro Flávio Dino, quando os colegas de parlamento o interromperam.

“Acredito, ministro, que o senhor tem que tratar essa Comissão com respeito, sem deboche, sem sorrisinho de canto, porque aqui não tem palhaço, aqui não tem circo, e a gente precisa realmente manter o respeito com o parlamento”.

Revelação

No plenário do Congresso Nacional, em pleno 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, Nicole Ferreira fez um discurso completamente transfóbico. Com imensa dificuldade de se aceitar. Chocados, outros parlamentares falaram até em processo de cassação.

Antes de tudo: o que aconteceu naquele dia não tem como ter sido obra de uma ação sarcástica ou irônica, pois ninguém seria tão idiota de fazer aquilo naquele local.

A própria Nicole, ontem, reforçou que no Congresso “não tem palhaço, aqui não tem circo, e a gente precisa realmente manter o respeito com o parlamento”. Portanto, em 8 de março, houve uma revelação com saída do armário. Mas fruto de preconceito e ódio, com Nicole não aceitava quem ela era.

Mas, como forma de tratamento correta, desde sua revelação como trans, é importante usar seu nome social, não de nascença. Logo, “Nicole Ferreira”.

Transfobia

Tal qual um homofóbico que fica vigiando os interesses sexuais de pessoas do mesmo sexo (sem perceber a atração que estaria por trás disso), ou mesmo, fora do tema sexualidade, tal qual o dito “cidadão de bem” que critica corrupção, mas abusa do jeitinho brasileiro, ou o religioso que adora criticar o pecado dos outros sem nem estar próximo de poder jogar a primeira pedra, Nicole apenas atacou a si mesma naquele dia.

“Hoje eu me sinto mulher. Deputada Nikole. E as mulheres estão perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres. Para vocês terem ideia do perigo de tudo isso, eles estão querendo colocar a imposição de uma realidade que não é a realidade. Ou você concorda com o que estão dizendo ou, caso contrário, você é um transfóbico, um homofóbico e um preconceituoso”. Nicole, atingindo-se a si mesma.

Uma das coisas mais graves no discurso da parlamentar mais votada do Brasil, no dia 8 de março, graças às popularidades de seus vídeos com dancinhas e edições joviais no TikTok, foi ter dito que “pais de família” não poderiam ser transfóbicos ao recusar “um homem de 2 metros de altura, um marmanjo, entrar no banheiro da sua filha”.

Pura projeção. Assim como não vemos casos de homossexuais agredindo ou matando héteros por serem héteros, de ativistas de esquerda agredindo ou matando rivais políticos da direita, ou mesmo notícias de trans molestando crianças, infelizmente, nossas crianças estão em perigo por outro motivo: segundo o Ministério dos Direitos Humanos, quase 90% da violência sexual contra crianças acontece no ambiente familiar.

Não que todo “pai de família” ou “cidadão de bem” cometa esse crime. Se fosse isso, estaríamos acabados, pois mais da metade dos eleitores votam com esse discurso. Mas obtusos, não percebem crimes do dito religioso de fé, de padres contra coroinhas (até mesmo João Paulo II, antes de ser Papa, ocultou crimes de pedofilia) e de menores de idades vítimas de tios, padrastos, pais… Algumas até engravidam antes do 12 e nem mesmo podem abortar.

Pare pra pensar: quando foi a última vez que uma mulher trans agrediu alguém em um banheiro público? Os casos de agressões, normalmente, são praticados pelos preconceituosos cidadãos de bem contra elas.

Existem negros racistas. Existem gays homofóbicos. Existem trans transfóbicos. Por etiqueta, não discutimos o nome de registro anterior. E até mesmo odiando gente como ela mesmo, é preciso respeitar suas decisões e chamar a parlamentar de “Nicole”. Mas não respeitar seus atos.

 

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