5 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Governo recua e não quer mais entregar ao STF vídeo de reunião com Moro

Bolsonaro disse que só faltava legendar o vídeo para divulgação, mas dias depois foi aconselhado a não divulgar “para não criar turbulência”

Por meio da AGU (Advocacia-Geral da União), o governo federal pediu ao ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal) que reconsidere a ordem de entrega do vídeo de uma reunião citada pelo ex-ministro Sergio Moro (Justiça) em depoimento prestado à Polícia Federal no último sábado (2) em Curitiba.

O pedido assinado pelo advogado-geral José Levi diz que na reunião ocorrida no dia 22 de abril “foram tratados assuntos potencialmente sensíveis e reservados de Estado, inclusive de Relações Exteriores, entre outros”.

O ministro Celso de Mello é o relator do inquérito que apura possíveis crimes narrados pelo ex-ministro durante entrevista coletiva na qual anunciou a saída do governo no fim do mês passado. Celso havia determinado ontem que o vídeo da reunião fosse entregue em até 72 horas.

Cadê o vídeo?

Aliados do presidente divergem sobre quem esteve com o cartão de memórias da gravação, mas já afirmam que o vídeo não captou o encontro por inteiro e que deverá ser entregue uma versão curta da reunião ao Supremo.

No entanto, no dia 28 de abril, Bolsonaro chegou a dizer que pediu para legendar o vídeo para divulgação, mas dois dias depois disse que foi aconselhado a não divulgar “para não criar turbulência”.

O chefe da assessoria especial da Presidência da República, Célio Faria Júnior, nega que esteja com o vídeo e afirmou, em nota enviada à reportagem, que não compete à sua área “o registro de imagens de reuniões, tampouco o arquivo de eventuais registros”.

O vídeo da reunião ministerial está sob responsabilidade do secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten. A gravação seria uma prova de que o presidente Jair Bolsonaro pressionou Moro para interferir no comando da PF.

Reunião

Em depoimento à Polícia Federal, Sergio Moro afirmou que, na reunião do conselho de ministros de 22 de abril, Bolsonaro cobrou a substituição do superintendente da PF no Rio de Janeiro e do então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, além relatórios de inteligência e informação da PF.

Na mesma reunião, segundo Moro, Bolsonaro disse que, se não pudesse trocar o superintendente da PF do Rio de Janeiro, poderia trocar o diretor-geral e o próprio ministro da Justiça.

Essas reuniões eram gravadas e tinham participação de todos os ministros e servidores da assessoria do Planalto. Agora, Bolsonaro diz que não pediu nada “ilegal” a Moro.