25 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Ibope: Mais de 70% dos brasileiros são contra liberação de porte de armas

Facilitação das regras para ter uma arma dentro de casa ou do trabalho é repudiada por 61%

Dedos em riste celebraram assinatura do decreto

Um levantamento da pesquisa Ibope divulgada nesta segunda-feira (3) vai de encontro com o afirmado pelo Governo Bolsonaro: a maioria dos brasileiros não querem liberação do porte de armas. Pelo contrário.

A pesquisa mostra que a maioria dos brasileiros rejeita a flexibilização no acesso a armas de fogo, sendo a maior resistência no porte de armas: 73% dos entrevistados são contrários à possibilidade de o cidadão comum carregar arma de fogo nas ruas. Apenas 26% apoiam a medida (1% não opinou).

A facilitação das regras para ter uma arma dentro de casa ou do trabalho é repudiada por 61%. Outros 37% apoiam as mudanças (2% não opinaram). A pesquisa foi realizada entre 16 e 19 de março, antes de dois decretos editados pelo governo com foco no porte de armas.

O Ibope ouviu 2.002 pessoas em 143 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos. Segundo o instituto, o apoio às medidas do governo varia conforme a região do país, o sexo dos entrevistados e a cidade onde vivem. Nas regiões metropolitanas, por exemplo, a adesão ao armamento é menor do que a registrada nos municípios do interior.

As polêmicas com as medidas chegaram a gerar uma manifestação contrária de 14 governadores, que pediram ontem a revogação do decreto. Há questionamentos também no STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a constitucionalidade do decreto.

As fortes críticas chegaram a provocar alterações no decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) no início do mês, que ampliava o porte de armas em todo o país. A principal mudança foi que “será conferido o porte de arma de fuzis, carabinas, espingardas ou armas ao cidadão comum”.

Onyx e o liquidificador

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou a convocação do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, para prestar esclarecimentos sobre o Decreto 9.875/19, que amplia a posse e o porte de armas no país. Por se tratar de convocação, Lorenzoni é obrigado a comparecer ao colegiado.

Segundo o autor do pedido, deputado Aliel Machado (PSB-PR), mesmo após edição de novo decreto, é importante que o governo discuta eventuais vícios de constitucionalidade no dispositivo. Ainda não há data para participação do ministro.

O ministro da Casa Civil, que vez ou outra usa de dados mentirosos para justificar atos do governo Bolsonaro, já chegou a afirmar que liquidificadores são mais perigosos que armas para crianças.

“A gente vê criança pequena botar o dedo dentro do liquidificador e ligar o liquidificador e perder o dedinho. Então, nós vamos proibir os liquidificadores? Não. É uma questão de educação, é uma questão de orientação. No caso da arma, é a mesma coisa. Então, a gente colocou a exigência de cofre para mais uma vez alertar e proteger as crianças e os adolescentes”. Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil, homem forte do governo Bolsonaro.

Segundo Lorenzoni, é preciso “cuidado redobrado” com arma. Ele afirmou ter criado quatro filhos com uma arma dentro de casa e todas foram ensinadas a não brincar com a mesma. Entretanto, ele não falou em cuidado redobrado com utensílios domésticos.

O ministro já defendeu ainda o direito do cidadão circular com a arma de fogo na área rural, já que é possível se deparar “com cobras, onças e bandidos”.