Agosto, mês da fotografia, indo embora. Mexendo em caixas lotadas de fotos antigas, surgiu a ideia deste post. Quase ninguém mais revela fotos, não é mesmo?
As imagens são capturadas a todo instante. Pra que revelar? E com que dinheiro? O custo é alto, e o meio ambiente agradece a economia de papel. Por que revelar, quando se pode acessar milhares de imagens digitais?
Será, então, que, com toda essa facilidade, a arte de fotografar perdeu seu encanto, sua aura, o mistério que se revelava no laboratório fotográfico? Isso já foi objeto de muito debate.
Recentemente, o fotógrafo e cineasta alemão Win Wenders afirmou, durante entrevista no iPhoto Channel , que os smartphones tornaram a fotografia mais morta que nunca.
O Blog ouviu, o artista visual argentino Pablo De Luca, radicado há mais de 30 anos em Maceió, sobre esse posicionamento de Wenders.
Para De Luca, o ponto de vista do fotógrafo alemão talvez seja uma forma de justificar uma falta de aceitação das novas formas de expressão e comunicação das pessoas com a fotografia.
“Também ele poderia estar justificando não ter podido acompanhar a evolução tecnológica da fotografia, que veio para facilitar a vida e o trabalho. Ou, com sua postura folclórica, poderia estar tentando chamar a atenção para sua antiga obra”, alfinetou De Luca.
Segundo ele, provocar impacto visual com fotografias nos dias de hoje, tornou-se uma habilidade para o artista da imagem que mais estuda e pesquisa, neste mercado cada vez mais exigente.
“Acredito que o Senhor Wim deveria pesquisar mais e fazer um esforço em conhecer as novas tecnologias e as novas formas de expressão”, sugere.
De fato, tudo evolui, inclusive os processos criativos. No século passado, o filósofo, ensaísta e sociólogo Walter Benjamin já falava nas causas e consequências da destruição da “aura” das obras de arte enquanto objetos individualizados e únicos.
Vale dar uma lida nos escritos dele, no conhecido ensaio “A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica” , um texto primoroso, cuja leitura é quase que obrigatória para quem que se interessa em aprofundar uma reflexão sobre fotografia e arte visual, em geral.
Voltando aos smartphones, ah, sim, eles permitem a qualquer um capturar aquele entardecer maravilhoso na orla de Pajuçara, ou uma realidade qualquer que se pretenda “eternizar”.
Com eles, sem sombra de dúvida, a fotografia está mais viva que nunca, o grande problema é tempo para apreciá-la. A velocidade deste século é incompatível com o prazer de sentar no chão com os amigos para comentar aquela imagem cheia de significado.
Sim, mas, ainda dá pra compartilhar nas redes sociais, que se alimentam e retroalimentam dos cliques dos quatro cantos do mundo. Isso é um fato, mas, sem esconder o saudosismo, jamais será a mesma coisa.
Isso me fez lembrar o diálogo de uma senhora com seu neto (ouvi, enquanto aguardava uma consulta médica, dia desses).
Avó – Vinícius, cadê aquela foto nossa que estava aqui, ontem (Dia da Avó)?
Neto – Já foi, vó, só fica 24 horas no story do Instagram. Sabia não?
Enfim, fazendo uma analogia com o conceito de modernidade líquida definido por Zygmunt Bauman, um dos mais conceituados filósofos da modernidade, a fluidez e volatilidade do conjunto de relações dinâmicas do mundo contemporâneo também impactam na fotografia. Teríamos hoje, então, uma fotografia líquida?
Enfim, viagens filosóficas à parte, quem conseguiu ler este post é porque ainda está com tempinho para apreciar a foto líquida do dia no story do amigo ou amiga. Corre lá!