23 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Lives de quinta: O que Bolsonaro mentiu sobre urnas, Coronavac, OMS e desemprego

Verdade é só uma inconveniência durante as apresentações ao seu curral eleitoral, que contam com factoides, ofensas, ameaças e mentiras escancaradas

As lives apresentadas por Jair Bolsonaro, em suas contas nas redes sociais, apresentam discursos do presidente direcionado especificamente para seu curral.

E com um tom completamente eleitoreiro, a verdade é só uma inconveniência durante as apresentações, que contam com factóides, ofensas, ameaças e mentiras escancaradas.

Confira as ofendas e também o que foi dito e o que é real após a live desta quinta-feira, 1º de julho:

Coronavac não deu certo

“Abre logo o jogo, que tem uma vacina aí que infelizmente não deu certo. Estou aguardando aquele cara de São Paulo [Doria] falar. Falava todo dia… Não deu certo, infelizmente, essa vacina dele no Chile. Aqui no Brasil também parece que está complicada. Torcemos para que essas notícias não estejam certas, mas parece que infelizmente não deu muito certo”. Jair Bolsonaro.

Apesar de ser a vacina mais aplicada no Brasil (aquela que ele não queria comprar), o insumo do estado de seu rival político, João Doria, segue sendo alvo de constantes mentiras. Como esta, do presidente.

Na verdade, como mostra ume estudo em Serrana, que teve quase 70% da população vacinada com duas doses da CoronaVac, houve queda de 86% nas internações, 81% nos casos sintomáticos e 95% nas mortes por covid-19.

Para varia, ele também mentiu sobre o Chile: lá, o imunizante apresentou 90,3% de eficácia na prevenção de internações em UTI (Unidade de Terapia Intensiva); 86% na prevenção de mortes; e 65,3% na prevenção de infecções sintomáticas pelo coronavírus.

Desdém à OMS

“O cara da OMS que não é médico: ‘Variante delta da covid se espalha também em populações vacinadas’. Abre logo o jogo que tem uma vacina aí que infelizmente não deu certo (…) Não deu certo essa vacina deles, infelizmente no Chile. Aqui no Brasil parece também que a coisa está complicada”. Jair Bolsonaro.

O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, é biólogo com mestrado em imunologia e doenças infecciosas. Bem mais capaz do que Jair Bolsonaro, que segundo relatório do exército é corno, muambeiro e terrorista.

Na última semana, ele alertou que a variante delta do coronavírus está se espalhando em países com boa parte da população vacinada. No entanto, na mesma ocasião ele frisou que a variante “está se espalhando rapidamente entre os que não estão vacinados”. E desde então, a OMS recomenda que países em flexibilizaram suas ações retomem o uso das máscaras.

Ivermectina

“Lá nos EUA, vários senadores já falam que o ‘tratamento imediato’, aquele remédio para matar piolho, começa com “i” e termina com “a”, poderia ter evitado 60% das mortes”. Jair Bolsonaro.

Não vamos perder tempo: não há estudos conclusivos que apontem que a ivermectina, medicamento antiparasitário, e o FDA, a Anvisa dos Estados Unidos, também desaprova o uso da substância para tratar ou prevenir a covid-19. Bolsonaro apenas citou os senadores órfãos de Trump.

Supernotificação

“Os óbitos são consolidados 3, 4 meses depois que eles ocorreram. (…) O cara chega lá com várias comorbidades, não sei o quê, ‘suspeita de covid’. O que entra aqui? Covid”. Jair Bolsonaro.

Como é bem sabido, o presidente propaga um relatório falso do TCU (Tribunal de Contas da União) e tenta diminuir o número de mortos por Covid-19 no Brasil. Um total que ele chegou a afirmar que não passaria de 800, assim como com a H1N1.

Ná especialistas que consideram que a situação no país é inversa, e que o Brasil na verdade sofre com a subnotificação dos casos. E assim como houve no México, de um dia para outro, podemos corrigir esse número e acontecer um salto de 100 mil mortos ou mais.

Rixa com ministro do STF

“Me chamam de misógino, racista, fascista, homofóbico, genocida… Tudo bem. Chamam o Silas Malafaia de tudo, até mais do que falei aqui, chamam os parlamentares de tudo, não tem problema nenhum. Mas quando alguém faz uma crítica ao STF, cai o mundo. Nós queremos democracia! Como retaliação, com toda certeza, o senhor Alexandre de Moraes manda investigar ‘organização criminosa’, dois deputados, o Flávio, meu filho, senador, e o Carlos também. Isso me lembra os países comunistas. Você vai buscar o cara em casa, leva a esposa dele embora, leva o filho, e aqui é a mesma coisa. Qual o próximo passo agora? Qual ação contra os meus filhos vão querer fazer”? Jair Bolsonaro.

Misógino, racista, fascista, homofóbico e genocida, o presidente Jair Bolsonaro acusa Alexandre de Moraes de perseguição. Tudo porque a o gabinete do ódio, uma máquina bolsonarista com funcionários de alto escalão do governo e familiares do presidente, destrói reputações, desinforma na rede e mente de forma estatizada, criando desinformação na população.

O presidente, portanto, confundo a liberdade de expressão com a liberdade de cometer crimes. E, claro, não deixa de falar em comunismo para inflamar suas redes. O problema é que quando aliados como Wizard apelam ao supremo para ficar em silêncio, ele se esquece de falar no torturador Brilhante Ustra.

Aliado na Câmara, Arthur Lira foi eleito para garantir o voto impresso. Foto: Ana Oli

Fraude nas eleições.

“Não vou admitir um sistema fraudável de eleições. Não podemos enfrentar as eleições do ano que vem com essa urna que tem, que não é aceita em nenhum país do mundo”. Jair Bolsonaro.

Antes de tudo: as eleições são aceitas no Brasil. E nunca houve fraude comprovada nas eleições brasileiras desde que elas começaram a ser adotadas, em 1996. Dois anos antes, diga-se de passagem, houve casos de corrupção exatamente na contagem de votos do então deputado Jair Bolsonaro, nas urnas de papel.

Além de mostrar interesse em gastar mais de R$ 2 bilhões para atualizar as urnas, ao mesmo tempo em que se recusa a comprar vacinas, o presidente já coloca em risco a idoneidade das eleições do próximo ano, dizendo que não vai aceitar caso seja feito neste atual modelo. Isso porque ele fala que em 2018 deveria ter vencido no primeiro turno, mas nunca apresentou provas.

Empregos

“Nós terminamos o ano de 2020 com mais emprego do que dezembro de 2019, então realmente, dado a crise que vivemos, foi um sucesso”. Jair Bolsonaro, presidente.

Para quem gosta de corrigir o IBGE, Bolsonaro tem prazer em interpretar demais números: em dezembro, houve mais perdas de postos de trabalho em 2019 do que em 2020, segundo dados do Caged. E uma mudança na contagem passou coletar dados de empregos temporários, o que não acontecia antes.

A PNAD/Contínua, divulgada em fevereiro deste ano pelo IBGE, registrou um desemprego recorde no Brasil ao final de 2020, com uma taxa de 13,5% de desempregados, o que corresponde a 13,4 milhões de pessoas. O resultado para o ano interrompe a queda iniciada em 2018, quando a taxa ficou em 12,3%. Em 2019, o desemprego foi de 11,9%.