19 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Metrópoles: Empresários bolsonaristas defendem golpe de Estado caso Lula vença

Apoiadores de Jair Bolsonaro atacam STF, TSE e defendem ruptura em caso de vitória do pestista

Empresários apoiadores de Jair Bolsonaro foram descobertos, pelo site Metróples, defendendo abertamente um golpe de Estado caso Lula seja eleito em outubro, derrotando o atual presidente.

A ruptura democrática faz parte do radicalismo que dá o tom do grupo de WhatsApp Empresários & Política, criado no ano passado e cujas trocas de mensagens vêm sendo acompanhadas há meses pelo site.

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Além da defesa explícita de um golpe, que além da figurinha carimbada Luciano Hang, dono da Havan, conta ainda com o dono do Parque Shopping Maceió, conta ainda com ataques sistemáticos ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a quaisquer pessoas ou instituições que se oponham ao ímpeto autoritário de Jair Bolsonaro.

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Além de José Isaac Peres e Luciano Hang, fazem parte do grupo: Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu; José Koury, dono do Barra World Shopping, no Rio de Janeiro; Ivan Wrobel, da construtora W3 Engenharia; e Marco Aurélio Raymundo, o Morongo, dono da marca de surfwear Mormaii.

Golpistas

O apoio a um golpe de estado para impedir a eventual posse de Lula ficou explícito no dia 31 de julho, quando José Koury, proprietário do shopping Barra World e com extensa atuação no mercado imobiliário do Rio de Janeiro, abordou o tema ao dizer que preferia uma ruptura à volta do PT.

Koury defendeu ainda que o Brasil voltar a ser uma ditadura não impediria o país de receber investimentos externos. “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, publicou.

Ivan Wrobel, proprietário da W3 Engenharia, construtora especializada em imóveis de alto padrão, principalmente na Zona Sul do Rio de Janeiro, se apresentou ao grupo como eleitor de Bolsonaro naquele mesmo dia, ao iniciar o tema:

“Quero ver se o STF tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av. Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”.

O ato na Avenida Atlântica, em Copacabana estava previsto para o Sete de Setembro, e haveria um desfile militar, com presença do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, mas a Prefeitura do Rio já cancelou eventos em terra.

“O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro”. Marco Aurélio Raymundo, conhecido como Morongo e dono da rede de lojas Mormaii,

Semanas depois, naquele 31 de julho em que disse preferir um golpe, Koury contou ter encomendado “milhares de bandeirinhas para distribuir para os lojistas e clientes do Barra World Shopping a partir de setembro”.

Ao responder à defesa do golpe feita por Koury, o dono do shopping Barra World, Morongo escreveu três mensagens consecutivas. “Golpe foi soltar o presidiário!!! Golpe é o ‘supremo’ agir fora da constituição! Golpe é a velha mídia só falar merda”.

Antes mesmo de chegarem nesse ponto, mensagens anteriores já indicavam o grau de radicalismo entre alguns dos empresários do grupo. No dia 17 de maio, Morongo, da Mormaii, propôs ações extremas para defender Bolsonaro, citando casos como a Revolução Francesa e a Guerra Civil dos EUA.

Urnas, STF e esquerda

A desconfiança em relação às urnas é outra constante no grupo, com encaminhamento de textos com diversos ataques ao STF, com o “Leitura obrigatória: O STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil.”

O empresário José Isaac Peres atacou pesquisas eleitorais. Afirmou que sondagens de intenções de voto são “manipuladas” para confirmar resultados de “urnas secretas”. Peres é o acionista majoritário da Multiplan, uma das principais administradoras de shoppings do Brasil.

“O TSE é uma costela do Supremo, que tem 10 ministros petistas. Bolsonaro ganha nos votos, mas pode perder nas urnas. Até agora, milhões de votos anulados nas últimas eleições correm em segredo de Justiça. Não houve explicação”.

Isaac Peres, da Multiplan, também distribuiu ofensas ao STF em diferentes ocasiões. Em 8 de maio, encaminhou mensagem dizendo que o STF “é o mais forte partido político da esquerda que faz oposição ao Poder Executivo”.

E, no dia 26 de maio, disse que a reação do STF à operação militar que deixou 23 mortos em uma favela do Rio estava “à revelia da Constituição Brasileira”. “Até quando vamos assistir (sic) o abuso de poder prevalecer?”, indagou.

Entre outros, Luciano Hang revelou quem espera que seja eleito presidente nos próximos 12 anos. Para o dono da Havan, depois de reeleger Bolsonaro, o país deveria eleger o ex-ministro Tarcísio de Freitas para o Planalto, em 2026, e reelegê-lo em 2030. “Aí não terá mais espaço para os vagabundos”, completou.

Outro lado

O Metrópoles acionou os empresários e sua assessoria de imprensa para se posicionarem. José Koury afirmou que não defende um golpe, mas em seguida confirmou que “talvez preferiria” a ruptura a uma volta do PT.

Sobre a distribuição de bandeiras do Brasil no shopping Barra World, no dia 7 de setembro, Koury afirmou que “não é um ato político, e sim um ato de patriotismo”.

Morongo, da Mormaii, que defendeu a importância simbólica de um desfile militar para mostrar de que lado as Forças Armadas estão, afirmou que não apoiará qualquer “ato ilegítimo, ilegal ou violento”.

Meyer Nigri, da Tecnisa, disse que pode “ter repassado algum WhatsApp” que recebeu. “Isso não significa que eu falei ou concorde”, afirmou. “Já estou deixando claro que não afirmei nada disso. Só repassei um WhatsApp que recebi”.

Afrânio Barreira, do Coco Bambu, afirmou desconhecer qual seria o teor do apoio ao golpe de Estado, expressa por ele com o envio de um gif com aplausos à ideia de ruptura apresentada por Koury.

A assessoria de imprensa do grupo Multiplan, do Parque Shopping Maceió enviou nota em que afirma que o empresário José Isaac Péres está viajando e, por essa razão, não responderia diretamente.

“Ele (Peres) esclarece que sempre teve compromisso com a democracia, com a liberdade e com o desenvolvimento do país. Neste momento, ele está tratando de projeto empresarial no Rio Grande do Sul, onde a estimativa é de gerar investimentos de bilhões de reais e milhares de empregos”.

A assessoria de imprensa do Grupo Sierra informou que o empresário André Tissot também está viajando e, por essa razão, não responderia imediatamente. Os empresários Carlos Molina, Ivan Wroble, Luciano Hang e Vitor Odisio não retornaram o contato.

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