7 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Ministro da Educação deve cair nesta segunda-feira

Para Bolsonaro, ‘está bastante claro que não está dando certo’; Velez diz que não pretende entregar o cargo

Durante um café da manhã, nesta sexta (5), com jornalistas no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) indicou que o ministro da Educação, Ricardo Vélez, deixará o cargo na próxima segunda (8).

“Está bastante claro que não está dando certo. Ele é bacana e honesto, mas está faltando gestão, que é coisa importantíssima”. Jair Bolsonaro, presidente, sobre ministro do MEC.

Em mais uma analogia com namoro e casamento, o presidente disse que na segunda-feira ou ele tira a aliança da mão direita e põe na esquerda ou põe na gaveta, mas deve supor que a saída de Vélez será o mais provável. E a lealdade pesou, já que o colombiano deve ocupar algum cargo, em outra área do Governo.

“Até segunda, vai ser resolvido, ninguém mais vai reclamar. Vélez é boa pessoa. Quem vai decidir sou eu. Segunda é o dia do fico ou não fico”. Jair Bolsonaro.

Velez não quer sair

O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, disse em Campos do Jordão (SP) que não pretende entregar o cargo, em resposta a uma declaração do presidente.

Vélez negou ter sido procurado por Bolsonaro para tratar de sua eventual demissão. Questionado se considerava sua situação no MEC como insustentável, o ministro respondeu que “a única coisa insustentável é a morte.”

Crise

A área militar do Governo está irritada com a atenção indevida que Vélez chama para o Golpe de 64. Nesta quinta-feira (4), o ainda ministro confirmou mudanças no conteúdo dos livros didáticos do país sobre o golpe militar e a ditadura que se seguiu durante 21 anos.  Para o ministro colombiano, não houve golpe, e o regime militar não foi uma ditadura.

“Haverá mudanças progressivas no conteúdo dos livros didáticos na medida em que seja resgatada uma versão da história mais ampla. O papel do MEC é garantir a regular distribuição do livro didático e preparar o livro didático de forma tal que as crianças possam ter a ideia verídica, real, do que foi a sua história.”. Ricardo Vélez Rodríguez, ministro do MEC.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) e um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), já tinham manifestado intenção semelhante, propondo uma revisão histórica do período em livros didáticos.

“Um povo sem memória é um povo sem cultura, fraco. Se continuarmos no nosso marasmo os livros escolares seguirão botando assassinos como heróis e militares como facínoras”. Eduardo Bolsonaro, deputado (PSL-SP).

Segundo o ministro, o golpe em 31 de março de 1964 foi “uma decisão soberana da sociedade brasileira” e a ditadura um “regime democrático de força”. Infelizmente, não é normal após três décadas um país reverenciar um regime violento, com o atual governo celebrando o ocorrido.

A repercussão negativa do episódio da carta sobre o Hino Nacional enviada a escolas por Ricardo Vélez Rodríguez fez com que nomes ligados a Carvalho fossem afastados da pasta.

O MEC é palco de disputa entre três grupos: militares de alto escalão no governo, discípulos de Olavo (incluindo o próprio ministro) e técnicos do Centro Paula Souza, a autarquia paulista que cuida das escolas técnicas.

A insistência do ministro em pautas ideológicas tem preocupado integrantes das alas do Paula Souza e militares, também representado por egressos do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). O ex-reitor do ITA, Anderson Ribeiro Correia, é o presidente da Capes

Após idas e vindas, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou em novembro que o futuro ministro da Educação seria o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, filósofo e professor emérito da Escola de Comando e estado-maior do Exército.

A nomeação aconteceu após vazar o nome de Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, como o mais cotado para o cargo. Mas a bancada religiosa não gostou. Pesava contra Ramos o fato dele, em nenhum momento, ter dado declarações a favor do projeto da Escola sem Partido ou contra discussões sobre gênero em sala de aula.

Temas em debate no Congresso Nacional contra o que seria uma doutrinação partidária por professores, serviram para alavancar o nome de Bolsonaro no cenário nacional bem antes de sua pré-candidatura presidencial.

Com apoio dos evangélicos, o presidente eleito foi um dos líderes de movimento contra a discussão de gênero nas escolas. No governo Dilma Rousseff, ele denunciou a entrega para alunos do que, segundo ele, seria um kit em que se ensina a ser homossexual e de um livro sobre sexo para crianças.

CCJ

O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, participou de de uma audiência na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, na semana passada. E ele foi destruído com sua total incapacidade de responder as perguntas dos deputados.

O colombiano passou por um constrangimento vergonhoso na Comissão, já que não conseguia apresentar propostas concretas para a área. Em três meses, entre mandos e desmandos, foram 15 demissões em seu ministério.

Ele foi tão mal em sua participação que boatos já cantavam sua demissão, que precisou ser desmentida pelo presidente Bolsonaro.

O MEC é alvo de Olavo de Carvalho, que entrou em guerra com o governo. O escritor e guro de Jair Bolsonaro, após uma série de desabafos nas redes sociais, fez o ministro da Educação iniciar uma série de mudanças na pasta. E a pasta não sai do lugar.

Nas longas horas em que Rodríguez tentava enrolar sua falta de conhecimento, a participação da deputada Tabata Amaral (PDT-SP) mais do que resume o dia. “O senhor tem a mínima noção da seriedade do MEC?”, perguntou ela, que não obteve respostas: