Durante um café da manhã, nesta sexta (5), com jornalistas no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) indicou que o ministro da Educação, Ricardo Vélez, deixará o cargo na próxima segunda (8).
“Está bastante claro que não está dando certo. Ele é bacana e honesto, mas está faltando gestão, que é coisa importantíssima”. Jair Bolsonaro, presidente, sobre ministro do MEC.
Em mais uma analogia com namoro e casamento, o presidente disse que na segunda-feira ou ele tira a aliança da mão direita e põe na esquerda ou põe na gaveta, mas deve supor que a saída de Vélez será o mais provável. E a lealdade pesou, já que o colombiano deve ocupar algum cargo, em outra área do Governo.
“Até segunda, vai ser resolvido, ninguém mais vai reclamar. Vélez é boa pessoa. Quem vai decidir sou eu. Segunda é o dia do fico ou não fico”. Jair Bolsonaro.
Velez não quer sair
O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, disse em Campos do Jordão (SP) que não pretende entregar o cargo, em resposta a uma declaração do presidente.
Vélez negou ter sido procurado por Bolsonaro para tratar de sua eventual demissão. Questionado se considerava sua situação no MEC como insustentável, o ministro respondeu que “a única coisa insustentável é a morte.”
Crise
A área militar do Governo está irritada com a atenção indevida que Vélez chama para o Golpe de 64. Nesta quinta-feira (4), o ainda ministro confirmou mudanças no conteúdo dos livros didáticos do país sobre o golpe militar e a ditadura que se seguiu durante 21 anos. Para o ministro colombiano, não houve golpe, e o regime militar não foi uma ditadura.
“Haverá mudanças progressivas no conteúdo dos livros didáticos na medida em que seja resgatada uma versão da história mais ampla. O papel do MEC é garantir a regular distribuição do livro didático e preparar o livro didático de forma tal que as crianças possam ter a ideia verídica, real, do que foi a sua história.”. Ricardo Vélez Rodríguez, ministro do MEC.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) e um de seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL), já tinham manifestado intenção semelhante, propondo uma revisão histórica do período em livros didáticos.
“Um povo sem memória é um povo sem cultura, fraco. Se continuarmos no nosso marasmo os livros escolares seguirão botando assassinos como heróis e militares como facínoras”. Eduardo Bolsonaro, deputado (PSL-SP).
Segundo o ministro, o golpe em 31 de março de 1964 foi “uma decisão soberana da sociedade brasileira” e a ditadura um “regime democrático de força”. Infelizmente, não é normal após três décadas um país reverenciar um regime violento, com o atual governo celebrando o ocorrido.
A repercussão negativa do episódio da carta sobre o Hino Nacional enviada a escolas por Ricardo Vélez Rodríguez fez com que nomes ligados a Carvalho fossem afastados da pasta.
O MEC é palco de disputa entre três grupos: militares de alto escalão no governo, discípulos de Olavo (incluindo o próprio ministro) e técnicos do Centro Paula Souza, a autarquia paulista que cuida das escolas técnicas.
A insistência do ministro em pautas ideológicas tem preocupado integrantes das alas do Paula Souza e militares, também representado por egressos do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). O ex-reitor do ITA, Anderson Ribeiro Correia, é o presidente da Capes
Após idas e vindas, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou em novembro que o futuro ministro da Educação seria o colombiano Ricardo Vélez Rodríguez, filósofo e professor emérito da Escola de Comando e estado-maior do Exército.
A nomeação aconteceu após vazar o nome de Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, como o mais cotado para o cargo. Mas a bancada religiosa não gostou. Pesava contra Ramos o fato dele, em nenhum momento, ter dado declarações a favor do projeto da Escola sem Partido ou contra discussões sobre gênero em sala de aula.
Temas em debate no Congresso Nacional contra o que seria uma doutrinação partidária por professores, serviram para alavancar o nome de Bolsonaro no cenário nacional bem antes de sua pré-candidatura presidencial.
Com apoio dos evangélicos, o presidente eleito foi um dos líderes de movimento contra a discussão de gênero nas escolas. No governo Dilma Rousseff, ele denunciou a entrega para alunos do que, segundo ele, seria um kit em que se ensina a ser homossexual e de um livro sobre sexo para crianças.
CCJ
O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, participou de de uma audiência na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, na semana passada. E ele foi destruído com sua total incapacidade de responder as perguntas dos deputados.
O colombiano passou por um constrangimento vergonhoso na Comissão, já que não conseguia apresentar propostas concretas para a área. Em três meses, entre mandos e desmandos, foram 15 demissões em seu ministério.
Ele foi tão mal em sua participação que boatos já cantavam sua demissão, que precisou ser desmentida pelo presidente Bolsonaro.
Sofro fake news diárias como esse caso da “demissão” do Ministro Velez. A mídia cria narrativas de que NÃO GOVERNO, SOU ATRAPALHADO, etc. Você sabe quem quer nos desgastar para se criar uma ação definitiva contra meu mandato no futuro. Nosso compromisso é com você, com o Brasil. pic.twitter.com/tQMgZtr7YS
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 28 de março de 2019
O MEC é alvo de Olavo de Carvalho, que entrou em guerra com o governo. O escritor e guro de Jair Bolsonaro, após uma série de desabafos nas redes sociais, fez o ministro da Educação iniciar uma série de mudanças na pasta. E a pasta não sai do lugar.
Nas longas horas em que Rodríguez tentava enrolar sua falta de conhecimento, a participação da deputada Tabata Amaral (PDT-SP) mais do que resume o dia. “O senhor tem a mínima noção da seriedade do MEC?”, perguntou ela, que não obteve respostas:
Hoje participei de uma reunião com o Ministro Ricardo Veléz na Comissão de Educação. Insistentemente o questionei sobre quais eram os projetos e metas para melhorar a qualidade da educação no Brasil, mas não obtive resposta. pic.twitter.com/RyvyOawUJU
— Tabata Amaral (@tabataamaralsp) 27 de março de 2019