30 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Pediu pra sair: Damares não quer mais ser ministra

À frente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, ela se diz cansada, com problemas de saúde e ameaçada de morte

Damares: a ministra pediu pra sair

Segundo a Revista Veja, a ministra Damares Alves se reuniu com o presidente Jair Bolsonaro para discutir seu futuro e ao fazer um balanço das atividades do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, ela comunicou que vai deixar o cargo.

De acordo com a polêmica ministra do Pé de Goiaba e do “menino veste azul e menina veste rosa”, ela alega estar cansada e precisando se cuidar, pois anda com a saúde debilitada.

Apesar de ser notícia de capa da Veja, que ministra foi ao Twitter e desmentiu o pedido ao presidente:

Vale lembrar que a GloboNews cravou a saída do então ministro da Economia, Vélez Rodriguez, que estava em um pleno processo de fritura. O presidente Bolsonaro disse se tratar de fakenews, mas o colombiano durou pouco tempo no cargo. Seja esse mais um ato declarado contra meios de comunicação, inicia-se então uma contagem para Damares: ela segue até quando?

Polêmicas

A ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos, Damares Alves, fala demais. Desnecessariamente, criou crise no governo quando, em sua posse, disse que “menino veste azul e menina veste rosa”. Criou um incidente internacional com a Holanda, quando afirmou que os pais lá masturbam seus bebês, ou na defesa de bolsa para vítimas de estupro que não abortam.

Ela chegou a precisar desmitir, em nota, ser “cuidadora” de Kajutiti Lulu Kamayurá, 20, e que a trata como filha. Ela negou, entretanto, que Lulu tenha sido tirada de sua tribo irregularmente.

“Lulu não foi arrancada dos braços dos familiares. Ela saiu com total anuência de todos e acompanhada de tios, primos e irmãos para tratamento ortodôntico, de processo de desnutrição e desidratação. Também veio a Brasília estudar”, Damares Alves, ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos.

A revista Época publicou depoimentos de índios da aldeia Kamayurá, localizada no centro da reserva indígena do Xingu, no norte de Mato Grosso, que afirmam que Lulu foi retirada irregularmente da tribo, aos 6 anos. Damares apresenta Lulu como sua filha adotiva, mas a adoção nunca foi formalizada legalmente, segundo a própria ministra.

Revista Época denunciou sequestro de índia

Lulu teria deixado a aldeia levada pela amiga e braço direito de Damares, Márcia Suzuki, sob o pretexto de fazer um tratamento dentário na cidade, mas nunca mais voltou, disse seu irmão. Márcia fundou, junto com Damares, a ONG Atini, para salvar crianças indígenas do infanticídio.

Ministra morria pela boca

Títulos acadêmicos

Ao contrário do que dizia, Damares Alves, ministra do Governo Jair Bolsonaro, não é advogada. Ou muito menos mestre em educação, como fazia questão de sempre proclamar. Os títulos não existem no Lattes, uma plataforma mantida pelo CNPq (conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para agregar trabalhos e títulos de acadêmicos.

“Diferentemente do mestre secular, que precisa ir a uma universidade para fazer mestrado, nas igrejas cristãs é chamado mestre todo aquele que é dedicado ao ensino bíblico”. Damares Alves, quando questionada pela Folha.

A ministra não explicou por que, em palestra que deu numa igreja em Mato Grosso do Sul, em 2013, com o tema “O Cristão Diante de Novos Desafios”, ela especificou então ser mestra em categorias tão específicas quando educação e direito constitucional e da família.

Naquele dia, ela propagou na Primeira Igreja Batista de Campo Grande ideias como a de que uma técnica do Programa Nacional DST/Aids, em 2002, disse que “uma educação diferenciada poderá fazer desabrochar em todo o menino seu lado feminino, e em toda menina seu lado masculino”.

Religião

Para Damares, a discussão do aborto mostra que foi criada uma “falsa guerra entre cristãos e LGBT. Essa guerra não existe e vamos mostrar que essa guerra não existe”. Em suma: do que ela estava falando?

Bolsonaro e Damares

É como naquela velha questão: se homossexuais forem norma, não haverá mais crianças, pois todos virariam gays. Um argumento de total insegurança, como a do próprio Bolsonaro, que se recusa a abraçar ou mesmo dizer que ama os filhos homens, pois isso poderia afetá-los. E como seria algo “adquirido”, logo poderia ser “contornado”, ou “curado”. Opinião que ela mesma possui:

“Não há prova científica que exista gene gay. Não há prova científica que o gay nasça gay. Se tivesse, já tinham jogado na nossa cara. A homossexualidade, ela é aprendida a partir do nascimento, lá na infância. A forma como se lida com a criança. Mas ninguém nasce gay”. Damares Alves.

A missa no momento do anúncio da vitória de Bolsonaro

De acordo com a ministra, “não é a política que vai mudar esta nação, é a igreja”. E entenda igreja como ‘evangélica’. As outras estão erradas, como ela bem explicitou ao elogiar o culto do seu então superior, Magno Malta, na comemoração da eleição de Bolsonaro.

“Naquele dia, Deus renovou nossas forças. Porque Deus nos disse que não são os deputados que vão mudar essa nação, não é o governo que vai mudar esta nação, não é a política que vai mudar esta nação, que é a igreja evangélica, quando clama. É a igreja evangélica, quando se levanta que muda a nação”. Damares Alves.

E ela não tem problemas em falar isso abertamente. Para ela “´é o momento de a igreja ocupar a nação. É o momento de a igreja dizer à nação a que viemos. É o momento de a igreja governar”. Novamente, ela ficará à frente do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.

Os Contos de Damares

Muitas das ideias defendidas parecem algo da República de Gilead, a fictícia nação patriarcal militarizada, que tem a bíblia como Constituição e tomou o lugar de boa parte dos Estados Unidos no premiado seriado e livro The Handmaid’s Tale (O Conto da Aia). Falta de aviso é que não foi.

“Me preocupo com a ausência da mulher na casa. A mulher nasceu para ser mãe. Também, mas ser mãe é o papel mais especial da mulher. A gente precisa entender que a relação dela com o filho é uma relação muito especial. E a mulher tem que estar presente. A minha preocupação é: dá pra gente ter carreira, brilhar, competir, consertar as bobagens feitas pelos homens. Sem nenhuma guerra, mas a gente conserta algumas. Dá pra gente ser mãe, mulher e ainda seguir o padrão cristão que foi instituído para as nossas vidas”. Damares Alves.