6 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

STF apura ligação entre fake news e rede pró-Bolsonaro

Linhas telefônicas usadas nos disparos durante as eleições são usadas hoje em dia para administrar grupos públicos de WhatsApp a favor do governo Bolsonaro

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes ordenou que a Polícia Federal investigue a relação entre uma rede de disparos de mensagens de WhatsApp favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), ativa desde as eleições passadas, e os ataques sofridos pelos ministros da corte na internet nos últimos tempos.

O pedido foi feito dentro do chamado “inquérito das fake news”, aberto pelo próprio tribunal sob o comando de Moraes, contra uma rede de disseminação de fake news pró-Bolsonaro, com uso de robôs e disparo em massa de mensagens, que não foi completamente desativada depois das eleições.

Linhas telefônicas usadas nos disparos durante as eleições são usadas hoje em dia para administrar grupos públicos de WhatsApp a favor do governo Bolsonaro. Em parte desses grupos só o administrador pode enviar mensagem, funcionando como “listas de transmissão”.

Agora, o STF quer saber se a mesma estrutura é utilizada para disseminar os ataques e ameaças aos ministros que motivaram a abertura do inquérito na corte.

Em 19 de março, um despacho de Alexandre de Moraes mostrou que uma das linhas de investigação no inquérito aberto pelo STF era “a verificação da existência de esquemas de financiamento e divulgação em massa nas redes sociais, com o intuito de lesar ou expor a perigo de lesão a independência do Poder Judiciário e ao Estado de Direito”

“Essa rede alguém paga, alguém financia por algum motivo e o caso será investigado a fundo. Há fortes suspeitas de que os grupos de financiamento maiores são de São Paulo”. Alexandre de Moraes, ministro do STF.

MP Eleitoral é contra cassação

O Ministério Público Eleitoral se posicionou contra a ação movida pela coligação de Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência em 2018, sobre o disparo em massa de mensagens pelo WhatsApp em favor da chapa do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que venceu a eleição do ano passado.

Em parecer, o vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques de Medeiros, disse que o conjunto de provas apresentado “afasta os pedidos de cassação do mandato e declaração de inelegibilidade” de Bolsonaro. A ação ainda será julgada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O processo foi gerado a partir da reportagem do jornal Folha de S.Paulo que, em outubro de 2018, apontou que empresários estariam bancando uma campanha contra o PT pelo aplicativo de mensagens. Eles teriam comprado pacotes de disparos em massa contra a campanha petista.

Whatsapp

A Polícia Federal investiga o caso, em outro inquérito, para verificar quem pagou pelo serviço de empresas disparadoras de mensagens em massa. Moraes quer saber se as pessoas e as empresas que atuam nessas redes são as mesmas que agem em disparos de mensagens contra ministros do Supremo.

O WhatsApp cancelou ao menos 1,5 milhão de contas de usuários brasileiros desde as eleições passadas por uso de robôs, disparo em massa de mensagens e disseminação de fake news. E o gerente de políticas públicas e eleições globais do WhatsApp, Ben Supple, admitiu publicamente que houve disparos em massa ilegais nas eleições do Brasil.

“Na eleição brasileira do ano passado houve a atuação de empresas fornecedoras de envios massivos de mensagens, que violaram nossos termos de uso para atingir um grande número de pessoas”. Ben Supple, gerente de políticas públicas e eleições globais do WhatsApp.