29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

TCU nega “relatório” e entra na fila ao descobrir que Bolsonaro é mentiroso

Para surpresa de ministros do Tribunal de Contas, presidente inventou ao gado que o órgão tem um relatório que cortaria pela metade o número de mortes pela Covid-19

O presidente Jair Bolsonaro. Mentiu, de novo e ao vivo e a cores. Ontem, para seus fãs no curral da saída do Palácio do Planalto, inventou de dizer que o Tribunal de Contas da União tem um relatório que “corrigia” pela metade os óbitos pela Covid-19.

Horas depois, os ministros, ainda escandalizados, precisavam liberar uma nota para dizer que Bolsonaro estava mentindo.

Como dito por aqui ontem, para alguém que faz questão de citar a Bíblia para passar a imagem de alguém que só fala a verdade, deveria seriamente passar a temer o inferno.

A seguir, a mentira presidencial:

“Em primeira mão aí para vocês. Não é meu. É do tal de Tribunal de Contas da União. Questionando o número de óbitos no ano passado por Covid. E ali o relatório final não é conclusivo, mas em torno de 50% dos óbitos por Covid ano passado não foram por Covid, segundo o Tribunal de Contas da União. Esse relatório saiu há alguns dias. Lógico que a imprensa não vai divulgar. Eu tenho três jornalistas que eu converso, não vou falar o nome deles, que são pessoas sérias, né. E já passei para eles. E devo divulgar hoje à tarde. E como é do Tribunal de Contas da União, ninguém queira me criticar por causa disso”. Jair Bolsonaro, presidente, mentindo sem pudor.

A mentira continua de pé na conta do filho 03, o deputado estadual Eduardo Bolsonaro.

A lorota, endossada pelo portal R7 da aliada Record, foi prontamente negada pelos ministros do TCU, que em questão de horas liberavam uma nota oficial:

“O TCU esclarece que não há informações em relatórios do tribunal que apontem que ‘em torno de 50% dos óbitos por Covid no ano passado não foram por Covid’, conforme afirmação do Presidente Jair Bolsonaro divulgada hoje”. Trecho da nota.

No fim da noite, o TCU adicionou um parágrafo ao posicionamento, negando a autoria de um documento que circula na internet e é atribuído aos técnicos do órgão.

“O TCU reforça que não é o autor de documento que circula na imprensa e nas redes sociais intitulado ‘Da possível supernotificação de óbitos causados por Covid-19 no Brasil”. Trecho da nota.

O tal relatório afirma que entre 2019 e 2020 o registro total de mortes por doenças no aparelho respiratório aumentou em 157.976. E, por doenças cardiovasculares, em 175.009.

Os números poderiam indicar apenas que a Covid-19 pode não ter sido a principal causa da morte, “tendo influenciado em óbitos causados por outras doenças”. Ou seja, além das mortes efetivamente causadas pelo novo coronavírus, a doença pode ter contribuído também para a morte por outras causas no país.

Seria como dizer que pessoas não morrem em acidentes de trânsito, mas sim de “politraumatismo” ou “hemorragia”. Ou mais simples ainda: que o presidente mente e continua mentindo.

Resumindo: Bolsonaro contou mais uma mentira, o gado engoliu, a imprensa aliada ajudou na mentira e os ministros do TCU descobriram que o presidente falta com a verdade e não tem medo do tamanho da mentira que ele conta.

Jair Bolsonaro

Pego na mentira, o presidente disse hoje de manhã que errou ao dizer que o TCU possuía um relatório questionando o número de mortes decorrentes do novo coronavírus.

Mas reforçou que dentre os critérios estabelecidos para a distribuição de verbas do governo federal aos estados, está a incidência de covid-19 nas regiões. Sem apresentar dados, Bolsonaro disse que há “fortes indícios” de que este critério estaria sendo usado pelos estados para “supernotificar” o número de mortes pela doença.

“E o próprio TCU dizia o que? Que a lei poderia incentivar uma prática não desejável da supernotificação de Covid para o estado ter mais recursos. A tabela, porém, quem fez fui eu, não foi o TCU. A imprensa usa para falar que eu fui desmentido, mas não tem problema”, Jair Bolsonaro, ainda mentindo.