De forma teimosa, o presidente Jair Bolsonaro manteve sua viagem para Rússia, onde deve encontrar o presidente Vladmir Putin. Justamente durante um período de tensão bélica, com ameaças de invasão à Ucrânia e guerra nuclear contra países membros da Otan.
Por conta das rígidas regras sanitárias no Kremlin, o protocolo russo exigiu que o presidente brasileiro permaneça confinado em seu hotel, em Moscou, até que ocorra a reunião com o presidente Vladimir Putin, amanhã.
– Já estamos no espaço aéreo russo.
– Fuso: + 6 horas.
– Bom dia a todos. pic.twitter.com/YZ5HMExLF4— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) February 15, 2022
Deu que, enquanto o avião com Jair estava no ar, as negociações entre russos e países da Otan avançou e tropas na fronteira com a Ucrânia começaram a recuar – isso porque uma invasão aconteceria amanhã.
E como esperado, foi o suficiente para o gado bolsonarista e sua guerrilha digital creditar ao presidente a aproximação de paz no conflito.
Antes de viajar, o próprio Jair disse que, se dependesse dele, o mundo viveria em paz – ignorando desejos de guerra civil com 30 mil mortos no Brasil e sua habilidade que é “matar”, o que ele mesmo disse mais saber fazer.
Boa sorte para quem se aprofundar no Twitter e se deparar com #BolsonaroEvitouAGuerra entre os trending topics. Com imagens de pombas da paz e montagens de Bolsonaro na capa da Time como Nobel da Paz viraram lugar comum.
Essa idiotice tomou tamanha proporção que até mesmo a CNN Brasil precisou desmentir que noticiou Jair ter acabado com a guerra. Patético.
A realidade paralela e de realidade alternativa é ilustrada, justamente, na postagem anterior do perfil do presidente: mais um pedido de excludente de licitude em ações policiais no Brasil. Mais conhecido como licença para matar:
– Porque buscamos junto ao Congresso o EXCLUDENTE DE ILICITUDE. pic.twitter.com/Cg5JAZb0b6
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) February 14, 2022
A postagem surge após mais uma chacina no Rio de Janeiro. E não há nenhum “tocante” sobre policiais, da ativa ou reserva, matando vizinhos ou pessoas alheias ao mundo do crime, de forma despreparada.
Ações policiais são mesmo perigosas e muitas vezes eles precisam invadir territórios controlados por milícias, com armas conseguidas graças a milícias e informes de milicianos para atrapalhar suas ações.
Há quem diga que ações de inteligência para bater de frente contra a milícia reduziria, e muito, a morte de policiais e outras pessoas inocentes.
Para reduzir a morte de policiais, inclusive, o presidente poderia ter intensificado mais na luta contra o novo coronavírus: somente em 2020, PMs e policiais civis mortos por causa da Covid-19 foram 472, segundo as secretarias de segurança pública dos estados.
Número que, mesmo somando os 131 mortos em folga, 51 em serviço e 50 por suicídio, no mesmo período. Mas para enfrentar esse problema de frente, é preciso inteligência. E não dá pra cobrar isso de quem acha que Jair acabou com a guerra.