20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro quer ‘fim da pandemia’ como promessa de campanha e vai matar muito mais com isso

Mortalidade por covid-19 mais do que dobrou em cidades bolsonaristas e variante BA.2 já vem assombrando a Europa

Em entrevista à TV Ponta Negra, filiada do canal SBT no Rio Grande do Norte, o presidente Jair Bolsonaro disse que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, vai vai anunciar o fim da pandemia do novo coronavírus em abril.

“Devemos, se Deus quiser, a partir do início do mês que vem, com a decisão do ministro da Saúde de colocar um fim na pandemia, via portaria, nós voltarmos à normalidade no Brasil. Não se justifica mais todos esses cuidados no tocante ao vírus, praticamente acabou. Parece que acabamos a situação da pandemia”.

A pandemia, no entanto, ainda não acabou. Isso porque uma nova variante, a BA.2, vem dominando o território europeu e seria responsável por uma alta de internações. Especialistas dizem que ela é mais contagiosa que a cepa original.

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Se por aqui há controle do contágio, Alemanha e Áustria registraram, na semana passada, número de casos recorde. No Reino Unido, já são duas semanas seguidas de alta de casos. Já na França, na última semana, o total subiu 19,8%. Na Itália, 29,2%.

Passados dois anos dessa nova realidade, com restrições por causa do coronavírus, novas ondas sempre surgem após um relativo controle de enfermidades e óbitos. Eventualmente, surge uma nova variante.

E como no Brasil as ondas chegam aqui meses depois da Europa, cientistas já temem uma piora no cenário. Ainda mais com estados e municípios abrindo mão do uso de máscaras, podemos ter um recesso como nunca nesta pandemia. Por mais que queiram mudar o conceito da coisa.

Questão política

Queiroga, que já foi ao encontro dos outros presidentes dos poderes sobre a segurança jurídica de declarar o fim da pandemia, deve publicar até o final de março uma portaria que rebaixa para o status de endemia a condição da doença no país.

O que vai de encontro a OMS (Organização Mundial da Saúde), responsável por fazer essa alteração. O que não seria a primeira vez no governo Bolsonaro. Longe disso, na verdade.

Além de defender medicamentos que não funcionam contra Covid, Jair já contou mentiras maiores, como a afirmação de que OMS incentiva masturbação e homossexualidade de crianças, além de desinformar sobre o diretor da OMS ser chamado de “doutor”, mesmo não sendo médico

Para constar, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, tem mestrado em Imunologia de Doenças Infecciosas pela Universidade de Londres e doutorado em Saúde Pública pela Universidade de Nottingham.

Já Jair, especialista em matar, como ele mesmo diz, segue seguindo fazendo o que sabe de melhor. E curiosamente (ou morbidamente) justamente em seus currais eleitorais. Isso é importante porque no final de março, no próximo dia 26, o presidente lançará oficialmente sua campanha à reeleição em outubro. E ele quer a pandemia acabada até lá.

A mortalidade por covid-19 simplesmente mais do que dobrou em cidades bolsonaristas. Os dados, dessa semana, são de uma pesquisa publicada na revista internacional Lancet para as Américas e realizada por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Fiocruz.

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Nos municípios em que os eleitores se alinharam mais à política de Bolsonaro, o risco de morte foi 44% superior do que naqueles em que não se alinharam. No Nordeste, a taxa de mortalidade foi muito inferior quando comparada a taxa de municípios bolsonaristas da região Sul e Sudeste.

Foram analisados dados de 5.570 cidades brasileiras. Além disso, as cidades estudadas possuem estruturas sanitárias semelhantes, para impedir que variáveis, como a subnotificação de casos, possam interferir nos resultados obtidos.

A cidade de Chapecó, em Santa Catarina, no início da pandemia, em 2020, garantia uma taxa de óbitos muito menor do que a média nacional.

A partir do ano de 2021, quando o prefeito João Rodrigues tomou posse, o índice de mortes acumuladas se tornou o maior do país: 75%. O prefeito é aliado de Bolsonaro e defendeu a utilização do tratamento precoce como saída para a pandemia.

Outro bons exemplos ficam em Crato, no Ceará, Sapiranga, no Rio Grande do Sul. A primeira não votou em Bolsonaro em 2018 e registrou uma taxa de 110 mortes a cada 100 mil habitantes. A segunda, favorável ao capitão reformado, teve um índice de 360 óbitos por 100 mil habitantes.

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Matemática básica: bolsonaristas estão sendo mortos pela ideologia de Bolsonaro. A que prega ódio ao distanciamento, que diz que máscara é coisa de viado e que não precisa de vacina, pois tem cloroquina. E mesmo com dois anos de pandemia, Jair quer continuar fazendo isso. Mas mudar de nome não vai mudar esse cenário. Talvez se o Brasil mudar de presidente.